Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Guálter George

‘O Banco do Nordeste do Brasil é, na estrutura político-administrativa federal, o mais importante órgão com sede em Fortaleza. Está localizado ali próximo, no Passaré, a alguns poucos quilômetros da sede do jornal O Povo, que fica no bairro Joaquim Távora. Torna-se difícil entender, assim, porque muitas vezes parece mais fácil reproduzirmos com fidelidade os bastidores do Palácio do Planalto, a milhares de quilômetros do Ceará, do que informar aos leitores sobre o que acontece no BNB. Durante os anos FHC tivemos a atribulada gestão Byron Queiroz, que vivia às turras com os servidores, ativos e inativos, sem que o noticiário conseguisse retratar este cenário de tensão e dificuldades. Ainda em março, no dia 19, recebi mensagem eletrônica de José Nilton Mariano Saraiva, na qual ele apresentava sua queixa com a situação. Leitor antigo do O Povo e aposentado do banco, exigia, na ocasião, respostas para uma série de perguntas que encaminhava. Para balançar os brios do atual, citou a coragem da então ombudsman Débora Cronemberger que, provocada por ele em 2001, questionou o silêncio permanente do jornal em relação ao BNB e seus problemas. Considero haver dado, no âmbito interno, os encaminhamentos que requeriam as queixas a mim apresentadas naquele momento pelo senhor Mariano, muito mais relacionadas a um artigo que encaminhara à Redação e gostaria de ver nas páginas do jornal. Como o texto em questão seria posteriormente publicado, seguimos a vida. Nós e o BNB.

Uma briga na ante-sala da presidência

Até porque, Byron Queiroz não é mais presidente do banco, quem lá chegou para substituí-lo o fez anunciando novos tempos, mais abertura, mais transparência, um novo tipo de relacionamento com os servidores. Em resumo, após oito anos de inferno, o céu estava anunciado. Um contexto, portanto, que passou a justificar momentaneamente o silêncio ao qual se referiu a companheira Débora Cronemberger na sua crítica de 2001. Surpreenderá aos menos informados, ou, pelo menos, àqueles que baseiam seus conhecimentos sobre o que acontece no BNB pelo noticiário, saber que há, novamente, um clima interno de tensão ali instalado. É certo que não com a extensão da era Byron, embora, entre os setores próximos à presidência da instituição, algo impossível de ser desconsiderado. Em outubro último, recebi um primeiro e-mail do leitor Joaquim Francisco Tavares onde ele expunha um quadro de muitos problemas no relacionamento entre o chefe de gabinete do presidente Roberto Smith, Kennedy Moura, e servidores graduados do setor de Informática. Poderia ser apenas um problema ordinário de incompreensão diante de novos métodos, resistência cultural, coisas do gênero que, de fato, em geral não justificariam mais do que uma nota ou outra de coluna. O que acontece é que existe algo mais sério por trás de toda a briga: uma dispensa de licitação para contrato de R$ 130 milhões. O TCU já suspendeu a operação, ela foi denunciada no Senado Federal pelo pernambucano pefelista José Jorge, mas, do ponto de vista do O POVO, resiste incólume o silêncio permanente ao qual se referiu, três anos atrás, a então ombudsman.

TCU agiu, senador falou e o jornal calou

Desde o recebimento do e-mail de Joaquim Francisco Tavares, ao qual se seguiriam vários outros, que levei o assunto à Redação. Fui informado de que um repórter seria pautado para apurar o que de fato está acontecendo dentro do BNB, a partir das dúvidas levantadas quanto à polêmica dispensa de licitação. Já àquela altura, diga-se, existia um fato concreto, que era a decisão do TCU de suspender o contrato com a Cobra, empresa de informática que seria beneficiada. O leitor Marcelo Feitosa, no dia 16 de novembro passado, também manifestou sua indignação com o silêncio dos jornais locais com o que tem acontecido. ‘O assunto já foi alvo de publicação do Jornal do Comércio, de Pernambuco. A crise não é nenhum segredo e já ultrapassou os muros da sede do Passaré. Existe alguma orientação do O Povo para que esse fato não seja noticiado?’ Boa pergunta, naturalmente repassada a quem de direito para os esclarecimentos necessários, já que, da minha parte, continuava informado apenas de que ‘um repórter estava pautado e apurando o caso’.

Procurado, o comando da Redação silenciou. Aos leitores que se sentem incomodados com a perturbadora postura do jornal em meio a tanto barulho, resta esperar que a anunciada apuração em curso leve a alguma conseqüência jornalística. Não no sentido de condenar ‘a’ ou ‘b’, mas, ao contrário, para esclarecermos o que acontece dentro do BNB, muito importante para o Ceará, e o Brasil, para merecer uma atitude de permanente omissão quanto aos problemas que enfrenta. Byron passa, Keneddy Moura também, e fica uma instituição que precisa ser cada dia mais forte para ser cada dia mais útil. Com certeza, não é fugindo da discussão de seus problemas que O Povo contribui para este fortalecimento necessário.

Os exageros de uma boa entrevista

A edição da última segunda-feira do O Povo circulou com uma entrevista de duas páginas com o colunista Lúcio Brasileiro, aqui da casa e que está completando 50 anos de jornalismo. Como tive oportunidade de ressaltar no comentário interno, uma excelente entrevista, muito em função da abertura dele à discussão de todo tipo de assunto, inclusive temas de caráter particular que poderiam ser considerados melindrosos. Lúcio apresentou-se naquelas páginas de uma maneira elogiável, porque sem desfaçatez ou esforço de parecer conveniente. Feitos os elogios, vou às críticas: o colunista, eventualmente questionado nas críticas internas dos ombudsmen, deste e de quase todos os outros que o antecederam, reage mal à idéia de que exista quem não goste do que ele escreve. Na sua definição, quem assim o faz é velho ou decadente mental. Este trecho, menos pelo que me atinge diretamente e mais pela agressão gratuita aos idosos, aos dementes e aos leitores, não faz jus ao excelente nível geral da conversa onde os jornalistas Carlos Ely, Demitri Túlio e Cláudio Ribeiro conseguiram tirar de Lúcio Brasileiro o seu melhor como excepcional contador de histórias.’