Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Jornalismo vigilante ou perseguição?

 

A mais recente coluna [15/6] do ombudsman do Washington Post, Patrick Pexton, trata da relação do jornal com Jim Graham, membro do conselho municipal da capital. O democrata Graham, que já recebeu apoio do Post em eleições diversas vezes, acha que está sendo perseguido pelo diário. Não pelos repórteres e editores, mas pelo conselho editorial do Post, os jornalistas que escrevem os editoriais do jornal e, mais especificamente, o colunista Colbert King.

Segundo Graham, diversos editoriais e colunas de King, questionando suas ações sobre um contrato com a loteria em 2008 e 2009, usaram a velha estratégia de repetição de mentiras e podem ser considerados assédio e assassinato de reputação. O ombudsman contou nove editoriais e seis colunas de King que falavam completamente ou parcialmente sobre o conselheiro nos últimos seis meses.

Pexton concorda que trata-se de muita tinta para um mesmo assunto, e questiona o motivo de tanta atenção. Ele lembra, antes de tudo, que Graham não foi acusado de nenhum crime, indiciado ou preso. Mas nenhum editorial ou coluna do Post sugeria que ele havia sido preso ou renunciado a seu cargo. Na maioria das vezes, os textos alegavam apenas que mais respostas eram necessárias.

Investigação

Pexton ressalta que Graham fez muito pela cidade, mas é impossível ignorar o fato de que é investigado por sua conduta envolvendo um contrato com a loteria e outro contrato multimilionário que ele supervisionou em 2008-09 como membro do conselho do sistema de trânsito de Washington.

Em questão está uma reunião ocorrida em 2008, onde Graham encontrou-se com vencedores iniciais da licitação do contrato da loteria de Washington. Um membro deste consórcio, um empresário local com quem Graham tinha um histórico de conflitos, também fazia parte de um grupo que disputava a licitação de um contrato do metrô.

De acordo com participantes da reunião, Graham fez uma proposta: ele não se oporia à oferta do consórcio na loteria se o empresário – Warren Williams Jr – se retirasse da licitação do contrato do metrô. Um advogado que representava o consórcio, ao saber da proposta, escreveu um email para alguns participantes que estavam considerando a oferta de Graham, dizendo que aquilo se tratava de conduta imprópria e estava próximo de corrupção.

O inspetor geral Charles Willoughby, em seu relatório sobre o processo do contrato da loteria, citava a reunião, assim como Robert Andary, que em 2008 trabalhava para o Departamento de Finanças da capital. Andary investigava a alegação de Graham de que Eric Payne, responsável pelos contratos, não era ético, e acabou exonerando Payne, que posteriormente foi demitido e hoje processa o Distrito por demissão injusta.

Tanto Willoughby quanto Andary dizem que não tinham evidências para concluir que Graham havia violado leis ou normas de conduta, mas o ombudsman diz que fica claro por seus relatórios que os dois viram o comportamento do conselheiro como problemático. Agora, o conselho do metrô está revisando o contrato, e promotores públicos investigam todo o processo. Graham nega qualquer conduta imprópria ou tentativa de corrupção, dizendo que as alegações são ou mentiras ou são baseadas em uma falha de comunicação que ocorreu na reunião.

Caso grave

Nem o conselho editorial do Post nem o colunista Colbert King veem o caso desta maneira. Ambos consideram as alegações graves – principalmente no cenário atual, em que dois membros do conselho municipal renunciaram depois de se declararem culpados de crimes federais.

Pexton acredita que os políticos deveriam temer um pouco a mídia. Isso ajuda a deixá-los conscientes de suas obrigações e responsabilidades. O ombudsman diz que já ouviu de ativistas que o governo de Washington está uma bagunça porque os políticos não tem mais medo da imprensa. Veículos jornalísticos, incluindo o Post, que nos últimos anos tiveram recursos cortados e equipes reduzidas, não estão presentes nas reuniões do conselho e não frequentam o bastante os corredores da prefeitura.

Mas o conselho editorial, lembra Pexton, é formado por ex-repórteres. “Eles sabem como investigar e fuçar informações. Eu, pessoalmente, fico contente com isso”.