Em sua coluna de domingo [8/10/06], o ombudsman do New York Times, Byron Calame, tratou do risco que correm os jornalistas que expõem suas opiniões em público. Discurso de Linda Greenhouse, veterana repórter do Times especializada na Suprema Corte, levantou duas questões relacionadas às normas éticas do jornal em relação à exposição pública de opiniões por parte de seus funcionários. Como os editores interpretam e cumprem as normas no caso de uma “repórter-celebridade”? E qual é o valor deste padrão ético, tendo em vista que os jornalistas são humanos e têm opiniões próprias?
O caso: em junho, ao receber a medalha do Instituto Radcliffe, Linda discursou diante de 800 pessoas na Universidade de Harvard. A jornalista criticou as prisões da Baía de Guantánamo, em Cuba, e de Abu Ghraib, no Iraque, mantidas pelo governo americano, e tocou em outros assuntos polêmicos, como fundamentalismo religioso, liberdade reprodutiva da mulher e fronteira dos EUA com México. No entanto, foi somente em setembro, quando uma matéria da National Public Radio reproduziu algumas falas do discurso de Linda, que diversas pessoas, incluindo os editores do Times, ficaram a par dos comentários da repórter.
De acordo com as normas éticas do diário, quando algum funcionário aparece no rádio ou na televisão, “deve ser evitada a divulgação de pontos de vista que vão além do que seria permitido expor no jornal”. Tais regras também devem ser aplicadas em eventos públicos. Por isso, para o ombudsman, Linda ultrapassou os limites em sua fala, já que é repórter, e não colunista – e os artigos jornalísticos do Times não devem conter opinião. Até agora, informa Calame, o jornal não se expressou publicamente sobre o discurso da jornalista.
Segundo Linda, seus comentários foram apenas “afirmações de fatos”, e não opiniões, passíveis de serem publicados pelo jornal. “A palestra foi algo incomum para mim porque envolvia uma fala para ex-alunos sobre a nossa geração e sobre a cultura da nossa era”, afirma ela. O ombudsman defende que, como repórter e formadora de opinião, Linda tem a obrigação de evitar expressar publicamente suas opiniões. “As regras do Times requerem que os jornalistas demonstrem, para fontes e leitores, que são observadores imparciais ao manterem para si suas opiniões privadas – e não fingir que elas não existem”, opina Calame, comparando tal atitude ao comportamento que deve ser adotado por juízes e militares.