Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Lacunas a preencher

Morto aos 41 anos, na véspera do feriadão do réveillon enquanto gozava as férias com a família, Daniel Piza mereceu farto noticiário e alguns necrológios não apenas do Estado de S.Paulo (onde além de colunista exercia a função de editor-executivo), mas também do concorrente, a Folha de S.Paulo, onde trabalhou no início da carreira.

O recesso da temporada natalina e a surpresa por uma morte tão prematura não permitiram que um autor tão ativo e criativo fosse devidamente avaliado ou mesmo questionado. A página dupla que o Estadão a ele dedicou no domingo (8/1), no caderno onde escrevia (“Caderno 2”, págs. D8-9) compensou em parte as reticências da semana anterior. Mas não preencheu as lacunas.

A mesma má vontade com que a intelectualidade esquerdóide passou a tratar o trotskista Paulo Francis (1930-1997) depois da sua espetacular conversão ao centro foi estendida ao pupilo e admirador, Daniel Piza. Patrulhamento ideológico combinado com intolerância, tribalismo com preconceito, a verdade é que um jovem profissional tão bem dotado, tão bem sucedido e tão surpreendentemente desaparecido mereceria preitos menos formais.

A politização de todas instâncias da existência acabará por substituir o sentimento pelo ressentimento.