Leia abaixo a seleção de quarta-feira para a seção Entre Aspas. ************ Folha de S. Paulo Quarta-feira, 11 de agosto de 2010 ELEIÇÕES 2010 Ana Flor Lula reclama de como Dilma foi tratada no ‘JN’ e critica tucanos Em comício ontem em Belo Horizonte ao lado de sua candidata à sucessão, Dilma Rousseff (PT), o presidente Lula fez críticas à oposição, reclamou do tratamento dado à petista em entrevista no Jornal Nacional e afirmou que o Brasil precisa de uma ‘mãe’ que ‘cuide’ do país. O presidente fez ataques diretos ao candidato tucano José Serra pelas críticas à saúde. ‘Tinha que lembrar ele que foi o partido dele que tirou R$ 40 bilhões da saúde ao ano […] para depois na campanha vir dizer ‘a saúde não tá boa, a saúde não tá boa’, disse Lula, citando debate na semana passada. Criticou ainda o ex-governador mineiro Aécio Neves (PSDB) pela mesma razão. No início do discurso, Lula deu uma rosa para Dilma e disse que era pela ‘calma e tranquilidade que teve quando foi entrevistada pelo ‘Jornal Nacional’. Sem citar William Bonner, apresentador do ‘JN’, ele disse ter esperado que, ‘pelo fato de ser mulher e ser candidata, que o entrevistador tivesse um pouco mais de gentileza’ com Dilma. Durante o dia os petistas evitaram criticar a entrevista, considerada ‘dura’. Antes de Lula encerrar o ato político com seu discurso, Dilma falou sobre suas origens mineiras e comparou-se a dois outros mineiros eleitos presidentes: Juscelino Kubitschek e Tancredo Neves. ‘Eu aprendi com a tradição política dos mineiros.’ Afirmou ainda que o Brasil tem que decidir qual projeto quer para o futuro, com a cabeça erguida ou aquele país que estava de joelhos’. Para comparar Dilma a uma ‘mãe’, Lula disse que os homens têm de aprender a votar em mulheres. ‘O maior legado que posso deixar é não ter tido medo de indicar uma mulher para governar este país. A palavra correta é cuidar, não governar.’ Lula foi ao evento após participar de agenda como presidente em Divinópolis. Fernando de Barros e Silva Dilma, vira, virou Uma das regras de ouro que o marketing eleitoral ensina aos políticos diz o seguinte: para perguntas genéricas, respostas específicas; para perguntas específicas, respostas genéricas. Ninguém percebe muito, sobretudo na TV, onde o que está sendo avaliado é menos o conteúdo do que a performance do candidato. Tornou-se um lugar-comum dizer que ‘Dilma foi mal’ ou que ‘Dilma foi bem’, sem que se tenha que entrar no mérito do que ela falou. A petista foi entrevistada pelo ‘JN’, da Globo, e pelo ‘Jornal das Dez’, da Globo News, anteontem à noite. Segundo os critérios de avaliação do mercado eleitoral, seria uma tolice dizer que ela se saiu mal. Em comparação com o desempenho no debate da Band, Dilma evoluiu até demais. Tudo nela transpira administrativismo e tem certo aspecto soviético, por mais que tentem retocar. Mas os mo-mo-momentos de indecisão e gagueira nervosa desapareceram na Globo. Em jargão publicitário, quando o candidato consegue transformar uma pergunta embaraçosa numa resposta que lhe é favorável, diz-se que ele ‘virou’. E Dilma soube ‘virar’ várias respostas na Globo. Eis um exemplo, da Globo News: o jornalista indaga a Dilma se está de acordo com a política externa de Lula, de aproximação de países que desrespeitam os direitos humanos e a democracia, como Irã e Cuba. A resposta é longa, mas no seu cerne estão duas frases: ‘Tenho uma história de vida, não vou nunca compactuar com qualquer ferimento aos direitos humanos’; ‘não acho que deva ser levado a sério um país que acha que opinião é crime’. A candidata sugeriu que nem Cuba nem Irã devem ser levados a sério. Mas ela não acha isso. O que ela acha (ou esconde) fica diluído num discurso difuso a favor dos direitos humanos, sem que a questão fosse respondida. Dilma desconversou, deu resposta genérica a uma pergunta específica. E fica a sensação de que para ‘virar’ neste ano ela será capaz de dizer qualquer coisa. Plínio terá entrevista de três minutos no ‘Jornal Nacional’ O candidato do PSOL a presidente, Plínio de Arruda Sampaio, será entrevistado hoje pelo ‘Jornal Nacional’ da TV Globo. A entrevista vai ao ar amanhã. Em vez dos 12 minutos ofertados a Dilma Rousseff, Marina Silva e José Serra, Plínio terá três minutos no telejornal. Ele não será recebido na bancada do programa, mas entrevistado por um repórter antes de um evento na ABL (Academia Brasileira de Letras), no Rio. A Globo também o convidou a participar de entrevista no ‘Jornal da Globo’, no ‘Bom Dia Brasil’ e no ‘Jornal das Dez’, da Globonews. Segundo um integrante da campanha presidencial do PSOL, a proposta inicial era que o candidato tivesse sua agenda acompanhada duas vezes por semana, nas quais contaria com 50 segundos no ‘Jornal Nacional’ em troca do não comparecimento ao debate. Plínio e a coordenação rejeitaram a oferta. A TV Globo confirma que tentou acordo, mas nega ter oferecido cobertura diária. TODA MÍDIA Nelson de Sá O maior investidor A Reuters despachou a longa análise ‘Alta no investimento chinês redesenha laços do Brasil’, de Stuart Grudgings. ‘Virtualmente do nada, a China disparou para se tornar o maior investidor estrangeiro no Brasil neste ano, com aquisições que vão de minas de ferro a terras.’ E um executivo do sul-africano Standard Bank avisa que ‘o interesse chinês saiu da busca de ativos para a infraestrutura’. Na descrição da agência, ‘grandes negócios vieram volumosos e fortes’, com gigantes em matérias-primas, agora infraestrutura e entrando por setores como motos e carros. ‘Nem todo mundo dá boas-vindas’, caso de Delfim Netto, ‘que assessorou Lula’, porém ‘investir em indústria, trocar tecnologia e contratar brasileiros pode aliviar a tensão’. Ano passado, lembra a Reuters, ‘a China derrubou os EUA como maior parceiro comercial do Brasil’. CONFIANÇA BRIC No ‘Financial Times’, ‘Consumidores nos países emergentes estão mais confiantes’. Em suma, 85% dos indianos, 77% dos chineses e 65% dos brasileiros ‘são positivos sobre suas economias’. Em contraste, nos EUA e na Europa, só 5% dos espanhóis, 6% dos franceses, 13% dos britânicos e 18% dos americanos estão confiantes. A pesquisa é do instituto Ipsos Mori, com 19 mil cidadãos de 24 países. Avaliação do ‘FT’: ‘A diferença entre as maiores economias em desenvolvimento e muitas das maiores nações desenvolvidas sublinha a percepção de que uma nova ordem mundial emerge depois da crise financeira.’ Emprego cá Na manchete da estatal Agência Brasil e de outros portais noticiosos, ontem no meio da tarde, ‘Empregos na indústria cresceram em julho pelo sexto mês consecutivo’. E na home da Folha.com, ‘Classe C deve ganhar 10 milhões de pessoas até 2014, diz governo’. Chegaria a 113 milhões, segundo o relatório Economia Brasileira em Perspectiva, da Fazenda. Emprego lá Na manchete do Huffington Post, precedida por colunas sobre desemprego no ‘New York Times’ e até no ‘Wall Street Journal’, a Câmara aprovou verba para garantir o emprego de mais de 300 mil funcionários públicos, metade deles professores. E na manchete on-line do ‘NYT’ o banco central americano manteve estímulo para evitar ‘desaceleração’. UMAS E OUTRAS SANÇÕES À noite, da manchete da Folha.com às chamadas do ‘Jornal Nacional’, Lula assinou as sanções da ONU ao Irã ‘contrariado’. A expressão é do chanceler Celso Amorim, acrescentando porém, na Reuters Brasil: ‘Lamentamos que, além das sanções do Conselho de Segurança, EUA e União Europeia tenham adotado sanções unilateralmente. Essas, evidentemente, não nos concernem’. China, Rússia e Turquia anunciaram posição semelhante. IRÃ VEM AÍ O canal PressTV noticiou que o país, ao lado de Egito, Jordânia e Síria, ‘tomará parte de exposição islâmica’ que viaja por Rio, SP e Brasília RECEITUÁRIO O ‘WSJ’ deu na sexta que o laboratório Merck recebeu pedido de ‘informação sobre atividades em países estrangeiros’ do Departamento de Justiça dos EUA. Antes, segundo o site Main Justice, receberam pedidos AstraZeneca, Baxter, Eli Lilly e Bristol-Myers Squibb. Entre os países, Brasil, China, Alemanha e Itália. Elio Gaspari publicou no domingo que ‘quem viu o tamanho do problema garante que o Brasil disputa a liderança do receituário de jabaculês’. E Ancelmo Góis deu ontem que o ministro da Saúde ‘vai pedir informações’ aos EUA e pôr o Brasil ‘à disposição’. ALERTA O ‘Guardian’ fez longo especial sobre a Amazônia, apontando risco ambiental na ponte Iranduba, em Manaus, e na exploração de petróleo TECNOLOGIA Julio Wiziack Teles se unem por TV digital no celular As quatro operadoras móveis se preparam para lançar planos de TV digital fechada no celular a partir de outubro deste ano. A ideia é popularizar o serviço que hoje é prestado por TIM, Oi, Vivo e Claro com sinal analógico. Por esses planos, será possível assistir à programação transmitida pelas empresas de TV fechada em alta definição pagando uma mensalidade fixa para ter acesso à grade completa de canais. Também será possível comprar somente um programa, opção conhecida como ‘pay-per-view’ (pague pelo uso). Neste caso, a transmissão ocorrerá quase em tempo real (haverá um atraso máximo de 17 segundos em relação à TV fechada). Outra modalidade será a oferta de vídeos sob demanda (VOD) disponíveis em uma lista de títulos para download. Eles poderão ser salvos no celular. O pagamento poderá ser feito na conta telefônica ou por cartão de crédito. Neste caso, bastará digitar o número do cartão, e a transação ocorrerá no próprio celular. BARREIRAS As teles resistiram, mas acabaram decidindo não atrelar a oferta de um pacote de dados à assinatura dos novos planos de TV digital. O preço da mensalidade será inferior a R$ 29,90 e incluirá o acesso avulso à rede 3G (terceira geração) na hora em que os canais forem acessados pelo cliente. Quem já tiver um plano de dados não terá créditos consumidos. Ainda não é possível ver TV paga no celular sem conexão à internet móvel. Isso porque os programas de TV ficam armazenados em servidores (computadores potentes) das empresas integradoras. Os clientes das teles acessam esses equipamentos via internet móvel para baixar os programas. São as integradoras que assinam contratos de distribuição de canais com emissoras, estúdios de cinema e produtoras que enviam os sinais diretamente para as antenas dessas empresas. A M1nd é a líder desse mercado e atende atualmente a TIM e a Oi. ‘Estamos negociando com outra operadora’, diz Alberto Magno, presidente da companhia. Segundo ele, o país possui atualmente 400 mil consumidores usando a TV móvel e deverá chegar a 2 milhões no final deste ano. Em 2011, eles serão 20 milhões. CONTRA PANE A TV digital fechada não cresceu tanto até hoje porque a maioria das operadoras cobra por horas de uso, como fizeram as teles fixas com a internet discada no passado. TIM e Oi cobram por hora de programa. A oferta máxima, de 24 horas, custa R$ 9,90. A Vivo vende vídeos por unidade e canais por hora. O mais caro sai por R$ 14,90 por mês. A Claro cobra mensalidade de R$ 9,90 em seu pacote completo. O problema é que, na maioria das vezes, as horas não viram créditos, como ocorre com o telefone pré-pago. Não dá para continuar assistindo no dia seguinte. Esse sistema foi adotado para evitar que a rede de dados das operadoras entrasse em pane, caso o serviço fosse difundido rapidamente. Nos últimos dois anos, elas investiram pesado para reforçar a capacidade de suas redes e, agora, já acreditam ter condições de liberar o acesso, ampliar o número de canais de TV e cobrar somente uma assinatura mensal. Hoje qualquer aparelho recebe o sinal da TV fechada, incluindo iPhone e BlackBerry. Mas, para ter uma imagem de alta definição no celular, é preciso modelos com telas de alta resolução, que já começam a ser fabricados. INTERNET Banda larga tem expansão de 42% no semestre, diz estudo A internet em banda larga atingiu 26,1 milhões de acessos no final do primeiro semestre deste ano, registrando um crescimento de 42% em relação a dezembro do ano passado. O número inclui conexões de internet fixas e móveis (celulares). É o que revela o balanço da Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil). Entre janeiro e junho, foram ativados 7,7 milhões de novas conexões. Nesse período, a banda larga fixa passou de 11,4 milhões de acessos para 12,2 milhões. Já na banda larga móvel, o número de celulares com conexão de terceira geração (3G) saltou de 4,3 milhões para 10,4 milhões e o total de modems de acesso à internet subiu de 2,7 milhões para 3,5 milhões. De acordo com a Telebrasil, o crescimento da internet no Brasil supera a média mundial, hoje em 13,7%. MÍDIA Grupo Abril anuncia reestruturação Com as modificações, a companhia terá agora sua estrutura organizacional apoiada em quatro pilares: mídia -que inclui a Editora Abril e a MTV-, distribuição, gráfica e educação. A vice-presidência de internet e iniciativas digitais, criada em maio, foi extinta com as alterações. TELEVISÃO Morris Kachani O furacão Sayad Ele foi o principal articulador do afastamento de John Neschling, quando à frente da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp). Também deu um chega para lá em Paulo Markun, em abril deste ano, para assumir a presidência da Fundação Padre Anchieta. Seu desafio agora? Restituir a credibilidade que a TV Cultura já teve. Não importa que seus críticos o julguem desqualificado para assumir o posto, pela falta de familiaridade com o meio televisivo. João Sayad dá as costas e com astúcia lhes responde: ‘Mas esta é justamente minha vantagem, a de ser um ‘outsider’. Eu não poderia reformular a Cultura se fosse deste meio, com todas as suas doutrinas, pois teria um vínculo afetivo com as coisas’, diz o presidente, em entrevista à Folha. A dança das cadeiras já começou. Dois programas foram extintos, três, reformulados e três novos estão a caminho. Nem a diretoria escapou. Sayad nomeou dois vice-presidentes e transformou o corpo diretor em uma instância do terceiro escalão. ‘Até para comprar passagem para o Rio eu preciso pedir autorização’, queixa-se um deles. O último desafio foi a sabatina a que Sayad foi submetido na última reunião do conselho curador da entidade, anteontem. Embora quase nunca o exerça -salvo em situações históricas como as tentativas malufistas de aparelhar a TV-, o conselho tem poder de veto. Saiu-se bem da sabatina e com aval para levar adiante suas ideias, pelo menos pelos próximos seis meses. Houve porém algumas ressalvas. Importantes. Para Sayad, modelo da TV é ultrapassado Nem os maiores detratores de Sayad -não são poucos- desdenham da capacidade de gestão deste doutor em Economia na universidade de Yale (EUA) e professor da Faculdade de Economia da USP, que ganhou respeito como secretário de finanças em gestões petistas e tucanas. Todos concordam que a TV Cultura tornou-se um Jurassic Park. Os números são fatais: 1.925 funcionários, sete estúdios de gravação que produzem só 6 das 24 horas diárias de programação. Na reunião do conselho curador da entidade, na última segunda, Sayad disse que o modelo da emissora é da primeira metade do século 20. RETROCESSO ‘O problema é regressarmos para a segunda metade do século 19’, ironiza Jorge da Cunha Lima, que ocupou por nove anos a presidência da emissora e por seis a presidência do conselho (hoje é membro vitalício). Não que Cunha Lima discorde da onda de mudanças que Sayad almeja encabeçar. A palavra-chave aqui é inovação, numa emissora que já foi associada à inventividade de seus programas, como ‘Castelo Rá-Tim-Bum’. Para Cunha Lima e outros membros do conselho, a pergunta é se a emissora vai conseguir se renovar trazendo veteranos como Marília Gabriela, Maria Cristina Poli, Alexandre Machado -nomes escalados por Sayad. ‘Para a emissora se renovar, não basta trazer veteranos com grandes nomes. É preciso encontrar uma nova geração’, afirma. O caso de Marília Gabriela, que tem estreia prevista para o próximo dia 30 à frente do ‘Roda Viva’, divide opiniões. ‘Roda Viva’ é um tradicional programa da TV brasileira. Tinha a reputação de ser um dos raros espaços provocativos da TV, com a propriedade de colocar os entrevistados contra a parede. Mas ele vinha tornando-se um bate-papo amigável entre jornalistas nem tão bem preparados e entrevistados. ‘Ninguém conseguia falar mal de pessoas consagradas’, afirma Cunha Lima. Marília Gabriela tem carisma e respeito. Mas é mais conhecida como entrevistadora do que como mediadora. Teme-se que a atração perca sua essência e vire uma espécie de ‘talk show’. Conselheiros ouvidos pela Folha também torcem o nariz para o fato de o programa, antes ao vivo, passar a ser gravado. Sayad afirma que esta é só a primeira etapa de seu processo de renovação. ‘Precisava chamar nomes consagrados, para resgatar a credibilidade. Lançar novos programas, profissionais e formatos vem depois.’ Há outras discussões em voga. Paulo Markun, seu antecessor, notabilizou-se por expandir as atividades da TV para internet, a criação de uma revista e sobretudo a prestação de serviços, como a produção da TV Justiça. A receita dos serviços prestados em 2009 foi de R$ 100 milhões, quase 50% de todo o dinheiro que entrou para os cofres da fundação. RECEITA Sayad riscou do mapa esta linha de receita, com o argumento de que o foco deve estar na TV Cultura, não em atividades que dispersam a atenção dos profissionais e implicam riscos trabalhistas. Há ainda uma questão de rentabilidade. A margem de lucro com os serviços é de 10% ou 20%, considerada pequena por Sayad. A emissora acumula neste ano déficit de R$ 10 milhões. O próximo grande desafio de Sayad deve ser selado nas urnas. Se Geraldo Alckmin (PSDB) for eleito governador, sobe a cotação de Marcos Mendonça para a Secretaria da Cultura. Logo ele, que foi afastado da presidência da TV Cultura em 2007 por Sayad, à época secretário da Cultura. ‘Nós nos vemos como uma loja de departamentos’ No final da tarde da última segunda-feira, já com a fisionomia cansada depois da sabatina a que foi submetido pelo conselho curador da Fundação Padre Anchieta e por uma agenda de sucessivas reuniões, o presidente da fundação, João Sayad, recebeu a Folha. Leia a seguir os principais trechos da entrevista. Folha – Como foi a apresentação de seu plano de gestão ao conselho da fundação? João Sayad – Estamos fazendo o esforço para o lançamento de uma nova TV Cultura. Havia críticas no conselho, devido à baixa audiência e ao baixo prestígio dos programas. Nós nos vemos como uma loja de departamentos, que tem alguns produtos próprios muito atraentes, como ‘Roda Viva’, ‘Metrópolis’, Inezita Barroso. Agora, precisamos criar outros. Quais serão? Vamos exibir os filmes da Mostra Internacional de Cinema de SP e os documentários do festival É Tudo Verdade. Além disso, o ‘Jornal da Cultura’ terá uma abordagem mais analítica e menos de ‘hard news’ [factual]. Estamos negociando com Ruy Castro, para fazer um programa a partir de nossos arquivos, que são muito preciosos. A meta é aumentar audiência? A meta é ter audiência! Há um problema estético, de linguagem. Andando pelos estúdios, a gente vê, por exemplo, cenários que parecem saídos dos filmes do Jacques Tati, coisa que era bonita nos anos 1960, não agora. Esses profissionais que o sr. está contratando representam renovação? Estamos recuperando o prestígio da TV Cultura com personalidades conhecidas, em nome do espectador. Em um primeiro momento, não estamos formando personalidades artísticas e apresentadores. Existe um temor de que o ‘Roda Viva’ perca sua essência com Marília Gabriela, mais conhecida como entrevistadora do que mediadora. Pode ser que tenham razão, mas nós confiamos nela como entrevistadora. E o ‘Roda Viva’ não é debate, é entrevista, fogo cruzado. O receio que alguns conselheiros têm com relação à presença da Marília Gabriela é que ela seja maior do que o programa. Não acho uma boa crítica, porque a ideia é prestigiar o programa. Como o sr. lida com as críticas de que não está familiarizado com o meio cultural e menos ainda com o televisivo? Eu acho que o melhor administrador de uma área qualquer é um ‘outsider’. Ele está livre das invejas, das disputas e das imposições dogmáticas sobre o assunto. Não vejo o que tenho a mais ou a menos do que meus antecessores. A grande questão aqui é que eu não represento o meu gosto, eu represento o que o público quer. Francamente, o sr. acha que a emissora terá condição de manter todos os seus atuais 2.200 funcionários com a remodelação que o sr. pretende implementar? A Band [emissora aberta de TV, que é o quarto lugar geral em audiência], por exemplo, tem 1.200 funcionários e é maior do que nós. Estamos estudando a grade, e haverá repercussões que geram essa gritaria toda. Mas não temos nenhum tipo de meta ou programa de redução de quadros. Emissora retoma contrato refutado por Paulo Markun Uma das novidades do pacote anunciado pelo presidente da Fundação Padre Anchieta, João Sayad, para a TV Cultura foi a retomada de um acordo para exibição de filmes da Mostra Internacional de Cinema de SP, dirigida por Leon Cakoff. Esta programação havia sido extinta pela gestão anterior, de Paulo Markun. O raciocínio predominante na época era que a TV Cultura pagava para expor uma marca que não lhe pertencia. Markun era contrário ao acordo. A Mostra também detinha exclusividade do direito de exibir todos os filmes estrangeiros da emissora. Outra questão que motivou o corte foi o valor do contrato. A Mostra recebia aproximadamente R$ 10 mil para fazer a curadoria dos filmes que já haviam sido exibidos no evento e o cabeçalho -uma introdução de Cakoff com duração de 4 min. ou 5 min.- para cada um dos quatro longas exibidos mensalmente pela Cultura. Além disso, a TV pagava pela exibição dos filmes. Sayad disse desconhecer esse antecedente. Afirmou não lembrar que a Mostra já fez parte da programação da TV Cultura. Depois, argumentou que a Cultura será beneficiada pela associação de seu nome a uma marca consagrada como a Mostra. A esse respeito, a Folha conversou também com Cakoff. O diretor da Mostra confirma o salário, que qualifica como ‘simbólico’. ‘A curadoria tem um preço, a marca da Mostra é muito forte’, afirma. Audrey Furlaneto MTV troca direção depois de audiência crescer 90% A mudança de direção da MTV, que deixa de ser comandada por André Mantovani, ocorre em momento no mínimo inusitado: a audiência do canal cresceu 90% no primeiro semestre deste ano. Depois de passar por momentos difíceis em 2009, ano que fechou com déficit, a emissora voltou a oferecer programação inédita e atraente, aumentou o número de visitantes do site de 2,5 milhões para 9,5 milhões (em julho) e ampliou em 25% a venda de publicidade. A editora Abril, acionista do canal, passou a direção a Helena Bagnoli, atual diretora superintendente da Unidade de Negócios Segmentada I da editora. A mudança ocorreu depois que Mantovani apresentou projeto, há duas semanas, em que pedia mais investimentos para o canal. Previa, entre outros, passar de 30 para 90 horas o tempo semanal de programação inédita, investir em novos gêneros (séries e filmes) e transformar a rede toda do canal em HD (hoje a alta qualidade é restrita a São Paulo). Com a troca de direção, a expectativa nos bastidores é que a MTV se aproxime mais das revistas da editora Abril. Já existe até um ‘exemplo-modelo’ no ar: o reality ‘Colírios Capricho’, que liga o leitor teen da revista ‘Capricho’ ao público, também teen, do canal. Nacional 1 O grupo Bandeirantes comprou 90% do capital da TV Cidade na última segunda-feira. A operadora de TV a cabo, que cobre 808 mil domicílios em oito Estados, deixou de ter investidores estrangeiros e, agora, está dividida apenas entre Band e SBT (com 10% do capital). Nacional 2 Além do mero negócio, a compra reflete posição (contrária) da Bandeirantes com relação a projeto de lei que cria regras para o setor da TV paga, em tramitação no Senado. Entre outras, a lei quer proibir que produtores de conteúdo controlem operadoras de TV por assinatura. Per amore Romance à vista em ‘Passione’, na Globo: o italiano Totó (Tony Ramos) vai começar a se interessar por Felícia (Larissa Maciel) quando estiver no Brasil. O conde O diretor Carlos Manga foi convidado para fazer participação na série ‘Afinal, o que Querem as Mulheres?’, de Luiz Fernando Carvalho, prevista para o segundo semestre na Globo. Vai interpretar um conde decadente. Enfermaria A atriz Cleyde Yáconis volta a gravar cenas de ‘Passione’ hoje. Ela fraturou o fêmur no dia 27 de julho, após uma queda em seu apartamento, no Rio. A atriz deve aparecer em uma cadeira de rodas. Especial Britney Spears gravará cenas para aparecer nas alucinações dos alunos de ‘Glee’. ‘John Stamos, que agora interpreta um dentista, irá a escola para a semana nacional da cárie e descobrirá que quatro alunos têm uma higiene bucal ruim’, explicou o criador, Ryan Murphy. INFORMAÇÃO Mônica Bergamo Leitura dinâmica O governo vai fazer, em setembro, uma megapesquisa para avaliar os hábitos de informação ‘e formação de opinião’ da população brasileira. Numa primeira rodada, com 12 mil pessoas, no começo do ano, levantamento semelhante constatou que 35% dos brasileiros maiores de 16 anos leem revistas e 46% leem jornais; 80% se informam por meio do rádio e 96,6% assistem à TV. BIBLIOTECA A pesquisa constatou também que 53% nunca abrem um livro pra ler. O governo afirma que o levantamento servirá para refinar a primeira pesquisa e para redirecionar verbas de mídia no Orçamento de 2011. ************ O Estado de S. Paulo Quarta-feira, 11 de agosto de 2010 REUNIÃO Moacir Assunção SIP prepara encontro em São Paulo O Grupo Estado e alguns dos principais órgãos de comunicação do País vão integrar o comitê organizador da Assembleia Anual da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP na sigla em espanhol). O evento deverá trazer de 500 a 600 delegados de jornais das três Américas ao Brasil em outubro de 2012. A primeira reunião para discussões e início do planejamento para o encontro ocorreu ontem em São Paulo, no Hotel Hilton Morumbi, e contou com uma apresentação da entidade por parte de seu presidente, o chileno Julio Muñoz, ao lado do diretor-presidente do Estado, Silvio Genesini. Participaram representantes do jornal Folha de S. Paulo, da Rede Globo, da Editora Abril, da Tribuna de Santos e da Rede Anhanguera de Comunicação de Campinas. A SIP, que tem sede em Miami (EUA) reune 1,3 mil jornais de todo o continente e luta pela liberdade de imprensa e expressão, temas centrais de seu ideário. Durante a reunião de ontem, Genesini destacou a importância do envolvimento imediato de todos na organização. ‘Embora dois anos pareça um tempo razoável, é necessário que comecemos já a definir como será o evento, para garantir que ele seja um sucesso’, disse. Em geral, o evento se estende por uma média de cinco dias e discute questões relacionadas à liberdade de imprensa, novas tecnologias para o meio impresso e atividades culturais, além de temas políticos e econômicos. Tradicionalmente, as assembleias são abertas pelos presidentes dos países-sede. Organização. O evento é custeado mediante patrocínios, geralmente obtidos graças ao prestígio das empresas que integram a SIP. A entidade entra com a organização do encontro em suas partes temáticas e as empresas sócias com a estrutura local, o apoio para acomodação dos delegados e atividades culturais para os participantes. Na parte de discussões, são feitos painéis e seminários com temas que dizem respeito à atividade do jornalismo. A última vez que o evento ocorreu no Brasil foi em São Paulo, em 1991. As próximas reuniões da SIP, entre assembleias e encontros de meio de ano, serão em San Diego (EUA), Mérida (México), Buenos Aires (Argentina) e Lima (Peru). Segundo o presidente da SIP, a realização do evento de 2012 no Brasil está relacionada à crescente importância da imprensa brasileira na América e no mundo. ‘Em todos os países, até mesmo nos Estados Unidos, a imprensa escrita tem perdido espaço para a internet. Há casos até de jornais fechando suas portas. No Brasil, o panorama, muito animador, é exatamente contrário’, observou Muñoz. Cenário. De acordo com ele, no País, a circulação e o faturamento dos jornais têm aumentado, ao contrário do que ocorre no resto do mundo. ‘Somente o Brasil e a Índia apresentam esse panorama, de jornais crescendo, e são casos de imprensa ascendente. É preciso que o mundo inteiro saiba o que está ocorrendo no Brasil e a assembleia anual da SIP será uma ótima oportunidade para que todos os países conheçam essa realidade brasileira’, afirmou ele. Na segunda quinzena de setembro haverá outra reunião, da qual o presidente da SIP também deve participar. Nela serão definidos detalhes como o hotel que receberá o evento, as primeiras empresas que devem patrocinar a assembleia e outros temas relacionados à estrutura da reunião. INTERNET Alexandre Rodrigues ‘Jornalismo tem de ser remunerado na internet’ Lançada no fim de 2009 com 170 assinaturas após encontro do Conselho Europeu de Publishers (EPC) e da Associação Mundial de Jornais (WAN) na Alemanha, a Declaração de Hamburgo marcou a posição da indústria de informação pela proteção dos direitos autorais de textos jornalísticos na internet. No Brasil, foi subscrita pelo Estado, Folha de S. Paulo e O Globo e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) recomendou a adesão de seus 145 associados. O alvo principal do documento são os chamados agregadores de conteúdo, sites de busca e indexadores que se valem do material que não produziram para atrair visitantes. Em entrevista ao Estado, o advogado Luis Fernando Matos Jr., especialista em propriedade intelectual, diz que a declaração vai além: sinaliza a definição da indústria de jornais de que, assim como no papel, a informação na internet tem custo e sua remuneração precisa ser garantida. ‘Não tem almoço grátis. Se queremos jornalismo de qualidade, de alguma forma isso tem de ser remunerado’, diz o advogado, que conduz um debate sobre a declaração no 30º Congresso Internacional da Associação Brasileira de Propriedade Intelectual (ABPI), no fim deste mês, em São Paulo. A adesão de grandes grupos à Declaração de Hamburgo indica que a proteção dos direitos é o meio para a viabilidade econômica do jornalismo na internet? Acredito que a mobilização de diversos operadores da mídia foi inspirada em outras indústrias que sofreram muito na última década e meia com a internet. Notadamente, a indústria fonográfica, que teve de se reinventar por conta das novas tecnologias. Ela se assemelha ao jornalismo por produzir conteúdo protegido pelo mesmo parâmetro da propriedade intelectual. A indústria do jornalismo está preocupadíssima com a consolidação da ideia de que o jornalismo na internet tem de ser gratuito. Os grupos questionam, a médio e longo prazo, a qualidade da informação. Não tem almoço grátis. Se queremos jornalismo de qualidade, de alguma forma isso tem de ser remunerado. A principal motivação da declaração foi a divergência entre grupos de mídia e sites de busca. Os chamados agregadores de conteúdo realmente violam direito autoral ao indicar links ou reproduzir trechos de textos? É inquestionável que a maneira como o jornalista materializa o fato em seu texto, a sua forma de expressão, é protegida pelos direitos autorais. É uma obra literária. A forma de descrever, interpretar ou analisar é fruto do espírito do jornalista. Por que não proteger? Se a legislação prevê essa proteção, o que autoriza esses serviços agregadores de notícia a usurpar um direito sem qualquer remuneração? Ao meu ver, a usurpação de um trecho de um texto jornalístico sem devida autorização é uma evidente violação. A questão é o benefício comercial gerado pelo conteúdo para quem não o produziu? Lógico. Esses sites vivem de visitas para vender espaço publicitário. Dizem ter um milhão de visitas por dia porque usam conteúdo dos outros. É barato, né? Um dos sites mais visitados é o YouTube, com um conteúdo enorme de direitos autorais dos outros. E quem tem de ficar tomando conta é o titular do direito, não o responsável pelo site. É uma completa inversão. No começo da internet, a maior parte dos jornais ofereceu seus conteúdos livremente. Isso não estimulou os indexadores? A internet aconteceu muito rapidamente e vários segmentos iniciaram negócios que se tornavam grandes sem se definir como ganhar dinheiro com aquilo. É o que está acontecendo agora nas mídias sociais. Como diferenciar a reprodução de conteúdo com fins comerciais, como é o caso dos agregadores, daquela feita em blogs pessoais e redes sociais? Esse é o próximo desafio das empresas jornalísticas. Hoje em dia, o furo jornalístico não está nem nos blogs. Está no Twitter, Facebook e outras redes sociais. Como isso vai se resolver? O tempo vai dizer. Esse movimento de usuários produzindo ou reproduzindo informação não aumenta as dúvidas sobre a disposição das pessoas de pagar por algo que julgam abundante na rede? A cobrança pelo conteúdo jornalístico de qualidade vai merecer remuneração. Todos esses fornecedores vão ter de cobrar. Quem quiser uma matéria elaborada, analítica, vai depender de uma geradora de conteúdo que seja remunerada. TELEVISÃO Cristina Padiglione Boni: ‘o que eu mudaria TV’ Dos 60 anos que a televisão brasileira há de completar em 18 de setembro, ele conta 58 dedicados ao tubo – os últimos 7, como acionista da Rede Vanguarda, afiliada da Globo no Vale do Paraíba, com estúdios e torres de transmissão em Taubaté e São José dos Campos. Alcance: 53 municípios. O cartão de visitas de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, no entanto, ainda é aquele que faz de Boni um dos principais pilares, senão o principal, na construção do tal padrão Globo de qualidade. Em entrevista concedida ao Estado no estúdio da TV Estadão, Boni contou que tem vontade de fazer um canal de jornalismo em São Paulo. Sabe que a Globo não voltará a registrar os 60 pontos de audiência que marcava no seu tempo, mas permite-se analisar itens a serem ajustados na programação atual. ‘Não entendo essa mania de programas de comédia de situação, todos iguais, para dar 16, 17% de audiência’, diz. Eis um resumo da nossa prosa. A TV no Brasil chega aos 60 anos e a Vanguarda completa 7 anos nas suas mãos. É possível se divertir, sendo dono? Muito, porque na Vanguarda a gente faz o que quer. Não só na parte tecnológica. O próprio jornalismo nosso não está preso aos padrões que nós mesmos criamos há muitos anos. É uma certa liberdade de regras que foram estabelecidas por mim mesmo, né? Pois é. O Tiago Leifert, tão celebrado como âncora do Central da Copa, por romper com teleprompter, veio da Vanguarda, não? Começou totalmente na Vanguarda. Neste período de 7 anos da TV Vanguarda, nós entregamos à Rede Globo sete profissionais. A função da regional é experimentar. A responsabilidade de colocar no ar e não dar certo é menor, então, é um bom laboratório. Você encabeçou a formação da TV em rede no Brasil e está descobrindo o valor da transmissão regional. Como é esse processo? É emocionante. Fui a Caraguatatuba, visitar a prefeitura, as escolas, e fui recebido com banda de música. Falo com 40 milhões de pessoas, daqui a pouco estou falando com 15: me deu um negócio que não consegui falar, fiquei nervoso. Eu estava tão próximo das pessoas que não sabia se fazia um pronunciamento, um discurso ou se batia um papo e pegava na mão delas. Você cobiça mais espaço, expandir suas retransmissoras? A Globo tem uma política de determinar áreas de cobertura, nós estamos dentro da área de cobertura determinada para a Vanguarda. Mas ainda pretendo fazer alguma coisa na televisão além da TV regional, estou com muita vontade. O quê? Ah, começar outra rede. Tenho muita paixão pelo jornalismo. Eu imaginava que talvez a gente pudesse fazer, fora da TV Globo, uma rede de jornalismo em São Paulo. Numa cidade com 18 a 20 milhões de habitantes, acho que cabe uma estação local muito forte, com grande cobertura de jornalismo, uma estação não tipo Globo News, mas presente na rua. O pessoal da Mix tem vontade de fazer, a própria Abril sonha em ter uma coisa assim. Tem que pensar quanto custa e se o mercado é capaz de tornar esse projeto viável. Por enquanto é só sonho. A Globo tem sofrido uma evasão de audiência, pulverizada entre outras mídias e emissoras. Isso é irreversível ou a Globo um dia pode voltar a dar 60 pontos? Não, 60 pontos é difícil, esse processo é irreversível, mas tanto confio na TV Globo que sou afiliado da Globo. Se estamos investindo na Vanguarda, sem visar ao lucro, é porque acreditamos nesse processo. Mas ela (Globo) cresceu muito em produção, a produção de hoje é significativamente melhor do que no passado, mas o conteúdo nosso foi melhor. Nós tivemos a oportunidade de usar gente de fora da televisão. Se você não trouxer uma contribuição intelectual de fora, a TV vai se repetindo e hoje ela está muito repetitiva. Tem que vir da literatura, do cinema. Com a greve dos roteiristas nos Estados Unidos, eles tiveram de buscar gente nova. Hoje, acredito que a qualidade da TV americana em séries seja superior à do cinema. Não adianta criar novos autores treinando com autores existentes, porque eles vão aprender a fazer aquilo já está sendo feito. Essa fórmula de novela + jornal + novela é algo inconteste, que nunca vai acabar? Não sei se a novela vai continuar, ou se vai continuar da maneira como é. Sei que o jornalismo vai continuar, a informação vai continuar. Não sei se a novela passará a ser um produto que você vai adquirir. Mas a grade da TV tem de mudar. A hora que mudar a TV, isso não vai funcionar mais. E quando falo mudar, não vai mudar amanhã cedo, talvez em 30 anos. A tecnologia é rápida e o conteúdo evolui lentamente. No que você mexeria? Eu reduziria o volume de produção, traria contribuição de fora e procuraria desenvolver outros formatos brasileiros e não ficar preso a formatos americanos. Eu tinha um desafio lá de fazer uma coisa nova por ano. Renovar a programação não é trocar de cenário no jornal, nem botar lá uma alavancazinha para o Jô Soares subir de um andar para outro que não chega a lugar nenhum, é ver conteúdo. Eu admito que às vezes, quando você fracassa, está dando um passo para a frente. É preciso fazer isso, não só a Globo, como todo mundo. Não consigo entender, agora, essa mania da Globo de programas de comédia, todos comédias de situação, todos iguais. Temos poucos autores na TV, ainda mais em humor, uma coisa muito difícil de se fazer. Depois vai olhar a audiência, dá 16, 17%. Qual é o futuro da TV? O futuro da televisão é o video on demand, é ver o que quiser, onde quiser, quando quiser ver. A TV tem de estar preparada para a isso, com gerenciadores de programação, onde você pode misturar essas coisas todas, internet, televisão, iPhone, e pode usar a televisão na hora que você quiser ou para assistir a eventos. Onde é que vai se fortalecer a televisão aberta? Em cima de eventos que sejam transmitidos ao vivo. Shows, futebol, todas essas coisas. Em livro recente sobre Anos Rebeldes, Gilberto Braga conta que Roberto Marinho tentou suspender a minissérie O Pagador de Promessas e você o convenceu a cortar ‘só’ quatro capítulos. Como era negociar com ele? Doutor Roberto era uma pessoa muito inteligente, mas ele tinha interesses muito claros. Ele tinha, do ponto de vista político, medo de que o Brasil virasse uma Cuba, ele tinha esse pavor. E quando alguma coisa atingia o negócio dele, ele reclamava. O Dias colocou no Pagador de Promessas a questão que ele já tinha abordado em O Espigão: o mercado imobiliário como predador. E o doutor Roberto era um homem de mercado imobiliário. Então, nós tínhamos de convencer o doutor Roberto de que já tínhamos feito O Espigão e ele estava reclamando de uma coisa que já tinha acontecido. E ele acabou fazendo um editorial no Globo dizendo que o Dias Gomes havia traído sua própria história. Mas ele era perfeitamente razoável. Doutor Roberto só interferia quando alguém se sentia incomodado ou quando ele se sentia incomodado, mas sempre com critério. Uma frase que rege sua vida? Sempre olhar para a frente, nunca olhar para trás. OS MELHORES EM 60 ANOS Vila Sésamo Versão nacional dos anos 70 produzida para Globo e Cultura encabeça a lista dos melhores infantis produzidos para nossa TV, na opinião de Boni O Bem Amado Para ele, a trama de Odorico Paraguaçu, de Dias Gomes, é a melhor novela da história e um divisor de águas no humor da TV Chico Anysio Todos os personagens e programas feitos pelo humorista compõem a melhor safra que o riso já produziu para a TV. ‘Chico, sempre’, diz Keila Jimenez Legendários põe João Gordo de dieta Reality show de gordinhos tentando perder peso. Sim, você já viu isso na TV antes – canais pagos e SBT já apostaram na ideia – mas não com um rechonchudo famoso, desbocado, e disposto a sofrer por uma viagem para a Disney. Sim, esse é prêmio que Marcos Mion dará a João Gordo em Legendários se ele perder 15 quilos em um mês. A brincadeira, filmada dia a dia, virou reality no programa da Record, com estreia prevista para sábado. Internado no Spa 7 Voltas, em São Paulo, João Gordo, que entrou pesando 150 quilos, será submetido a uma dieta de 600 cal/ dia, tudo acompanhado pelas câmeras. No cardápio, a sobremesa é um quadrado de gelatina de cinco centímetros. 78 mil assinantes é a marca alcançada pelo Premier Combate, canal pay-per-view de lutadas na TV paga, até o primeiro semestre deste ano. É recorde do canal. ‘A Televisa vai lançar no Brasil um canal só de novelas mexicanas. Ué? Esse não é o SBT?’ Dani Calabresa no Furo MTV de anteontem A Medialand está finalizando uma nova produção nacional para o canal pago Discovery Home & Health: Especiais Médicos. Com entrevistas com especialistas e pacientes brasileiros, os especiais falam, entre outros temas, sobre câncer de pele, Alzheimer, ansiedade e enxaqueca. Estreia em outubro. Ione Borges pode voltar ao ar bem antes do esperado. A Gazeta está programando tirar parte de seu horário de concessionários nos fins de semana para dar um novo programa à ela. Serginho Groisman gravará o Altas Horas no dia 21, no Museu do Ipiranga, com um show em homenagem a Adoniran Barbosa. A Net aproveitou a ABTA, evento de TV por assinatura, e colocou ontem no ar mais nove canais em HD: ESPN, TLC, Megapix, TNT, Space, VH1, Max, Discovery Theater e NatGeo Wild. Na ABTA, a Net exibiu seus conteúdos em 3D, vindos de Globo, Band e Discovery. Tem cheiro de canal pago todo em 3D no ar. A Globo já está planejando mais um especial de fim de ano com Chico Anysio, assim como fez em 2009. Helena Bagnoli, superintendente de Negócios Segmentados da Abril, assume na próxima segunda-feira a direção-geral da MTV, no lugar de André Mantovani. O Estadão vai discutir a relação com a sessentona da vez: a TV. Hoje, amanhã e sexta-feira, às 13h, no Teatro Eva Hertz, da Livraria Cultura (Conjunto Nacional) tem Encontros Estadão & Cultura. Hoje é dia de Marcelo Tas (CQC) e Márcio Ballas (É Tudo Improviso) falarem sobre humor. Amanhã, Lillian Witte Fibe, Ana Paula Padrão e Paulo Markun conversam sobre jornalismo, e na sexta, Silvio de Abreu abre o jogo sobre teledramaturgia. MERCADO EDITORIAL Cai preço médio do livro no Brasil, indica pesquisa O preço médio do livro no Brasil manteve uma tendência de queda e, no ano passado, apontava R$ 11,11, pequena redução em relação a 2008, que era de R$ 11,52. Por outro lado, a produção total de volumes cresceu em 2009, chegando a exatas 386.367.136 unidades. ‘Mesmo assim, o faturamento das editoras continua estacionado nos últimos quatro anos’, observou Sônia Jardim. Ela é presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) que ontem, em parceria com a Câmara Brasileira do Livro, apresentou os resultados da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, tradicional diagnóstico sobre a saúde do mercado, agora com dados relativos a 2009. De uma forma geral, os números foram favoráveis. ‘Mesmo com a crise mundial, manteve-se a tendência de queda no preço médio do livro, além de um expressivo crescimento na produção total de livros’, observou Rosely Boschini, presidente da CBL, entidade que organiza a Bienal Internacional do Livro, cuja 21.ª edição abre as portas na sexta-feira para o público, no Palácio das Convenções do Anhembi. De fato, no ano passado, a indústria nacional produziu 386,4 milhões de exemplares diante dos 340,3 milhões editados em 2008. ‘Como a crise econômica praticamente não influenciou a produção de 2009, esperamos neste ano, com o mercado mundial recuperado, que os números sejam infinitamente melhores.’ A pesquisa é realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) da Universidade de São Paulo, cujos dados foram baseados nas respostas de 693 editoras, que responderam a questionários online. ‘Neste ano, acrescentamos uma novidade que é a venda direta na internet, ou seja, por livrarias com atuação exclusivamente virtual’, comentou Leda Maria Paulani, coordenadora do estudo e professora-titular da FEA-USP. Pelos dados coletados, a participação desse canal de comercialização é de 2,25%, número ainda ínfimo se comparado com a participação das livrarias (42,44%) e das vendas diretas (40,18%). ‘Mesmo assim, não são dados tão precisos, pois as informações vieram das editoras – o ideal é apurar diretamente com as livrarias’, observou Leda. Outra boa notícia foi o aumento de obras assinadas por autores nacionais – segundo a pesquisa, em 2009 foram editados 46.703 títulos de escritores brasileiros, contra 44.503 no ano anterior, um aumento de 4,94%. Já as cifras de obras traduzidas caiu (de 6.626 em 2008 para 5.807 no ano passado). ‘São várias as explicações’, comenta Sônia Jardim, do Snel. ‘Com a sombra da crise econômica, especialmente no primeiro semestre do ano passado, as editoras concentraram suas apostas em poucos autores estrangeiros, justamente aqueles que garantem best-sellers. Isso abriu brecha para o lançamento de mais escritores brasileiros, cuja negociação com os direitos autorais é menos complicada.’ As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. ************