‘Se há ponto a que os leitores do JN são sensíveis é à falta de cuidado, que leva a não prevenir os erros e as gralhas no seu jornal. Podem não escrever muito para criticar as deficiências e enviesamentos do jornalismo e, menos ainda, para aplaudir o que é bem feito. Mas não suportam uma troca de nomes ou de números e, acima de tudo, erros ortográficos. Na maioria dos casos, as críticas e chamadas de atenção provêm de pessoas a quem custa não encontrar, em cada dia, uma jornal mais perfeito. Vejamos alguns casos.
O leitor Armando Bastos, de Rio Tinto, enviou, ainda no mês de Abril, um bucólico postal ilustrado a reclamar por, na edição do dia 10, ter sido publicada uma ‘gralha inqualificável’ a propósito de um livro do papa João Paulo II. Sobre o mesmo assunto, a que chamou ‘trapalhada’, escreveu também António Pinheiro, de Olival (V.N. de Gaia).
Já M. Lima, do Porto, não se fica por uma gralha, mas por muitas dezenas. Regularmente continua a fazer chegar recortes com tantas imperfeições que quase leva a pensar que o jornal só publica matérias trocadas ou truncadas peças ou frases sem remate, nomes diversos para a mesma pessoa, contradições entre factos… Cada edição é por ele passada a pente fino e nem a programação televisiva ou a publicidade escapam ao seu olhar microscópico e exigente: chega a tomar o reconhecimento de erros da rubrica ‘JN corrige’ não como penitência pública do jornal, mas como prova acrescida de ‘falta de cuidado’. E comenta ao provedor: ‘Estou consciente de que, às vezes, possa ser demasiado crítico, mas isso deve-se ao meu grande ´amor´ pelo ´nosso´ JN e também para (…) tentar acicatar o brio profissional’ de quem escreve neste jornal.
Mas nem sempre aquilo que parece é. Maria Adelaide Fernandes, leitora que escreve do Peso da Régua, insurge-se contra uma crónica do caderno de Desporto de 2 de Abril, na qual aparece, em título, a palavra mercenário com cedilha no ‘cê’. ‘Admite-se?’, pergunta ela. E acrescenta um desabafo e uma esperança ‘Já encontrei muitos [erros], mas em letra pequena. Não pode fazer nada?’.
Este caso é interessante visto que envolve códigos relativamente familiares para os jornalistas, mas que não são do domínio de muitos daqueles que os lêem. É que a palavra está grafada entre aspas, assinalando que alguma coisa se passa com ela. E o que se passa é claramente explicado no texto refere-se a um ‘graffiti’ em que o erro ortográfico surge exibido em todo o seu (triste) esplendor. Se a leitora tivesse lido o artigo, teria encontrado facilmente a explicação.
Um outro leitor de nome indecifrável pega em exemplos para apresentar sugestões. A primeira é para que se atenda à legibilidade. Numa rubrica sobre animais, da edição de 29 de Março, aparece um texto impresso a branco sobre fundo laranja que é muito dificilmente legível, por insuficiente contraste. A segunda solicita que o JN seja mais completo na informação que dá. Ao apresentar uma figura (como na rubrica ‘A cara da gente’), a peça deveria dar elementos bastantes para que alguém que queira contactar directamente a pessoa apresentada o possa fazer.
António Castro Vieira enviou uma mensagem através de correio electrónico para chamar a atenção para os erros com números. Cita, de entre muitos exemplos, a edição do JN de 25 de Abril, em que se escrevia que ‘82 metros quadrados é a área ocupada pelo aterro sanitário’ de Sermonde. O comentário jocoso do leitor justifica-se ‘uma vez que armazenar o lixo em altura é claramente inviável, terão os responsáveis pelo aterro conseguido contrariar o princípio básico da Física (incompressibilidade da matéria)?’
As opiniões de comentadores deste jornal, nomeadamente os de desporto, são frequentemente objecto de reparos, por vezes azedos e nem sempre nos termos mais correctos. O provedor, como já foi salientado, não pode nem deve intrometer-se no livre exercício da opinião, restando-lhe apenas recomendar que ela seja formulada em termos não ofensivos.
Um caso especial foi o de um concerto da banda britânica Judas Priest, no Pavilhão Atlântico, em meados de Abril. A crónica desse evento motivou a ira de três leitores – António Cachopas, Dito Ribeiro e Ricardo Oliveira – pelos termos em que o autor se referiu ao concerto. O provedor procurou obter algum comentário sobre este caso através do editor da respectiva área, mas sem resposta. O que se lamenta e verbera.
Os jornalistas deveriam ter presente que um reparo ou uma queixa dirigida ao ‘Jornal de Notícias’ por um dos seus leitores, sobretudo quando nem sequer estão interesses particulares em jogo, envolve muita estima e muito empenho, devendo, por isso, ser tratada com o máximo de atenção. A primeira medida é reduzir drasticamente o número de erros, para aumentar a confiança e a credibilidade.
Quem critica por altruísmo merece o máximo de atenção’