‘No dia 10 do mês passado, a CGTP–Intersindical organizou em todo o país uma jornada nacional de luta que tinha como primeiro ponto de uma lista de reivindicações o ‘aumento real dos salários, das pensões e prestações sociais e 390,60 euros para o salário mínimo nacional’. Nos objectivos desta iniciativa estava igualmente a contestação das políticas sociais e laborais do Governo chefiado por Pedro Santana Lopes. A principal palavra de ordem era ‘Basta de injustiças e desigualdades – Um novo rumo é possível’.
Este ‘Dia Nacional de Luta’ mobilizou, com bastante antecedência, todas as estruturas regionais e sectoriais da Confederação e traduziu-se, no continente, em duas grandes manifestações, uma centrada em Lisboa, que reuniu os trabalhadores aderentes dos distritos a Sul do Mondego, e outra na cidade do Porto, congregando os do Norte.
O modo como o ‘Jornal de Notícias’ cobriu este acontecimento desagradou à União de Sindicatos do Porto (USP/CGTP-IN). Em fax enviado ao provedor, em 24 do mesmo mês, a Direcção desta estrutura escreve
‘Lamentavelmente, o `Jornal de Notícias´, a exemplo do que tem acontecido com outras anteriores lutas de trabalhadores e iniciativas sindicais, tratou o assunto de uma forma que a Direcção da USP/CGTP-IN considera como uma inaceitável falta de rigor, quer pelo espaço dado à notícia, quer pela falta de destaque que a iniciativa merecia, quer ainda pela avaliação dada ao número de participantes’.
A USP vai mais longe na crítica ao comportamento do jornal e acrescenta:
‘No que ao JN diz respeito (…), esta não é, infelizmente, a primeira vez que tem um comportamento do mesmo tipo. Têm sido várias as ocasiões em que esse jornal trata mal as iniciativas, acções e lutas dos trabalhadores do distrito, chegando ao ponto de as não referir ou de apenas dar a notícia e a foto relativa a Lisboa, ignorando o que se passa na cidade aonde tem a sua sede e a redacção principal e com grandes iniciativas e lutas dos trabalhadores a decorrer nas suas `barbas´ ou seja, passando junto às suas instalações’.
Como foi a cobertura dada pelo ‘Jornal de Notícias’ à jornada da CGTP? Na edição de 11 de Novembro, dia seguinte ao do evento, inseriu uma peça ao alto e a toda a largura da página 10, na secção de ‘Sociedade’, intitulada ‘Contestação laboral saiu à rua’ e com o antetítulo ‘CGTP exige reforço da negociação colectiva, em manifestações em que já se sentiu o apelo à greve’. A peça, relativamente sumária, reporta conjuntamente as manifestações de Lisboa e Porto, dizendo que nelas participaram ‘milhares de trabalhadores’. Relativamente à do Porto, apresenta um número mais preciso – ‘cerca de quatro mil’ – recorrendo a informações policiais (mas não dos organizadores). A peça vem acompanhada de uma pequena foto a duas colunas.
O editor de Sociedade, em comentário às observações da USP, chama a atenção para o facto de a peça abrir a página em que está inserida, dar a ideia da dimensão do acontecimento e estar acompanhada de uma foto feita na manifestação da cidade do Porto. Considera ainda que é muitas vezes difícil ao jornal cobrir todas as iniciativas, nomeadamente quando se repartem por vários locais.
O provedor considera que há, nas observações da União dos Sindicatos do Porto, várias questões diferentes. Sobre a cobertura da Jornada do dia 11, importa notar que não foi a estrutura central da CGTP que questionou o trabalho do JN, mas apenas a USP. Esta União não pôs em causa, por outro lado, o rigor da informação dada, mas a dimensão e destaque. É preciso dizer que, sobre o destaque, há nesta crítica alguma pertinência, uma vez que o jornal, além do lugar relativamente recatado em que colocou a peça, não fez ao assunto qualquer chamada de primeira página.
Já parece menos consistente, embora merecedora de ponderação, a crítica segundo a qual o facto de o jornal estar sedeado no Porto dever levá-lo a focalizar no Porto uma iniciativa que é nacional e que tem em Lisboa o seu lado jornalisticamente mais relevante (assinalado, no caso, pela assinatura simbólica de uma resolução frente à Assembleia da República e pelo discurso do secretário-geral da CGTP-IN, Manuel Carvalho da Silva). Se o jornal fosse regional, o argumento aduzido faria sentido; tratando-se de um jornal nacional, o ponto já é mais discutível.
Quanto à afirmação de que o alegado tratamento deficiente das lutas dos trabalhadores, longe de ser pontual, manifestaria uma ‘falta de sensibilidade para os graves problemas sociais por que passam milhares e milhares de pessoas, nomeadamente trabalhadores’, fica a garantia do editor do JN de que não há qualquer ‘partis pris’ no sentido de menorizar as matérias laborais e sindicais. Não dispõe o provedor de elementos consistentes para confirmar ou infirmar o que a USP assevera. Mas manifesta o propósito de acompanhar com redobrada atenção esta matéria, indubitavelmente importante.’