‘São diversos os motivos que levam os leitores deste diário a dirigir-se ao seu provedor. Uns fazem-no porque estão, como se costuma dizer, de candeias ás avessas com o seu jornal. Outros porque não aceitam de boamente erros mais ou menos grosseiros publicados pontualmente em alguma das edições. Neste caso, pretendem alertar quer para o eventual erro em concreto, quer para a atenção que é necessário ter para que não se ultrapassem níveis de razoabilidade no que diz respeito a lapsos, gralhas e falhas.
Hoje passo em revista exemplos de várias destas situações, partindo de mensagens recebidas nos últimos tempos, que assuntos que considerei mais prementes não me permitiram ainda tratar.
Comecemos pelo leitor José Farinha. Consultou o jornal na sua versão online a partir de Faro e chamou-lhe a atenção uma notícia do JN relativa à zona onde habita. Vinha na edição do passado dia 4 e dizia em título que, no Algarve, haviam sido ‘apreendidas 1800 toneladas de haxixe’, perto de Manta Rota. O descarregamento, acrescentava a notícia, fora detectado por uma patrulha da Brigada Fiscal da GNR. ‘Os alegados traficantes descarregavam a droga de uma embarcação para duas viaturas que se encontravam no areal da praia do concelho de Vila Real de Santo António’. Comentário de José Farinha ‘Como se torna evidente o conteúdo desta notícia revela uma falta de rigor a toda a prova acabando por se tornar num insulto à inteligência do leitor…Com efeito não se compreende como uma embarcação capaz de carregar 1800 toneladas, ou seja um milhão e oitocentos mil quilos de mercadoria, se pode aproximar da costa e como tal peso caberia em duas viaturas… Ou seria, 1,8 toneladas, ou seja 1800 quilos?’. A verdade é que o mesmo número é repetido no corpo da notícia. A lógica deste leitor parece linear.
A reclamação de Alexandre Rocha, enviada a 30 de Maio por correio electrónico, vai no mesmo sentido. Sendo estudante de Jornalismo, considera ser seu especial dever – e a meu ver bem – ler o Jornal com atenção. Diz ele não poder ‘mais suportar calado ver tantas ´gafes´ internacionais nas notícias do JN’. No preciso dia em que escreveu, a ‘tampa’ saltou-lhe quando viu, numa notícia relativa ao Brasil publicada na secção Negócios, a companhia aérea TAM (Táxi Aéreo Marília) ser chamada Transportes do Mercosul… ‘Ou seja – reprova o leitor – sem ter a certeza da informação, o jornalista sequer dignou-se consultar o site da empresa (?). Tudo ao alcance no seu computador, bem à sua frente. No mínimo, laxismo’.
Este e outro caso que o autor do e-mail refere, embora sem indicar datas, referem-se, de facto, a notícias relacionadas com outro país, neste caso o Brasil, mas não foram publicadas na secção Internacional. Subscrevo, em todo o caso, a chamada de atenção para a diligência e rigor no trabalho jornalístico.
Por vezes, quando os jornalistas procuram transmitir os ambientes testemunhados, na informação que produzem, recorrem a imagens ou comparações que os directamente envolvidos nos acontecimentos reportados sentem como inapropriados ou mesmo ofensivos. O leitor António Joaquim Santos Rodrigues, de Lordelo do Ouro (Porto), sentiu-se ofendido por ter visto, numa peça relativa às comemorações do Dia de Portugal, comparar a homenagem prestada pelos ‘ex-combatentes’ aos ‘milhares de colegas’ que morreram na ‘guerra do Ultramar’ a uma ‘romaria’. Para este leitor, não se tratou de uma romaria, mas, antes de ‘um acto muito simbólico’. É claro que estamos aqui perante o sentido que entendermos dar ao termo romaria. Se for entendido como percurso alegre e festivo, com o seu arraial e outros condimentos, a comparação poderá ter o seu lado ultrajante para quem se reúne para evocar os mortos de uma guerra que afectou tragicamente o nosso país e as suas principais ex-colónias, nos anos 60 e na primeira metade dos anos 70 do século findo. Se se optar, antes, por um significado polarizado no ritual e na jornada de devoção já o termo poderia ser menos inapropriado. Fica, em todo o caso, registada a interpretação e a frontal discordância deste leitor.
Refiro, por fim o gesto de um ou outro leitor – por exemplo, M. Lima, do Porto – apostados numa verdadeira ‘marcação’ do JN, coleccionando erros, deficiências e contradições e enviando os recortes como documentação comprovativa ao provedor (quase como quem diz afinal que é que está o provedor a fazer, que não contribui para que o Jornal melhore neste aspecto específico tão importante para a credibilidade para a informação que publica?). Pela minha parte diria apenas que não gostaria de, neste particular, fazer o papel de ‘bobo da corte’. Prefiro acreditar que um jornal que mantém o cargo é porque aceita ser instado, ´opportune et inopportune´, ou, por palavras mais simples, por acreditar que ‘água mole em pedra dura?’. Por isso termino, parafraseando um anúncio conhecido: ‘Voltem sempre!’.
Uma palavra inapropriada pode ‘matar’ uma notícia’