Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Manuel Pinto

‘Na secção de ‘Sociedade’ da edição da passada sexta-feira do ‘Jornal de Notícias’, vinha uma notícia intitulada ‘Sampaio alerta media para novas responsabilidades’. Referia-se a uma mensagem do presidente da República, dirigida aos participantes no congresso da Associação Portuguesa de Imprensa, na qual o Chefe de Estado aludia ao impacto daquilo que se tem vindo a chamar ‘sociedade em rede’ e ‘sociedade da informação’. Para Jorge Sampaio, as mudanças verificadas neste domínio ‘vieram alterar muitos aspectos da nossa vida, incluindo a disseminação do conhecimento, uma maior interacção social e também os novos papéis e as novas responsabilidades dos meios de comunicação social’.

Aludo a esta observação do presidente, por me servir de apoio a uma questão que pretendo há bastante tempo reflectir com os leitores e com os responsáveis deste Jornal e que tem que ver com o tratamento e apresentação das notícias relacionadas com o campo comunicacional e mediático.

A pergunta que se pode colocar é esta se o JN dispõe de uma secção dedicada à Televisão porque não alargar o seu âmbito à comunicação social, permitindo arrumar melhor as matérias desta área que, por vezes, se dispersam por diferentes zonas do Jornal? Por outras palavras: não fará sentido que tudo quanto diga respeito a noticiário sobre a Imprensa, Rádio, Televisão, novos Media, Internet, medidas legislativas sobre estas áreas e sobre o campo da comunicação mediática figure numa mesma secção? Do ponto de vista de quem consulta e lê, tal cenário não conferirá ao JN melhor legibilidade?

O director do Jornal de Notícias, José Leite Pereira, a quem solicitei um depoimento sobre esta matéria, mostra-se sensível a estas preocupações ‘Entre nós, na direcção, temos discutido várias vezes o assunto, precisamente porque somos confrontados com a colocação de matérias em secções distintas. Mas, como não temos certezas, temos continuado sem secção de Media’.

Explica deste modo a lógica da situação actual ‘no JN, a secção de Televisão é, sobretudo, uma secção sobre programas que passam na TV. Não vem mal ao mundo por isso: cada vez mais os jornais estão obrigados a dar atenção à programação televisiva porque é por ela que passa boa parte do tempo disponível dos nossos leitores. As notícias sobre Media no JN encaixam em diferentes secções: na Política, na Sociedade, na Cultura ou na própria Televisão. Pessoalmente, considero que não vem daí nenhuma confusão para o leitor, mas aceito que para os especialistas em comunicação esta arrumação redunde em confusão, sobretudo porque na imprensa concorrente existe a secção de Media’.

Outra justificação da Direcção para continuar com uma secção centrada na programação televisiva consiste em fugir de ‘invasões corporativas’ e, assim, ‘impedir a proliferação de textos que só interessariam a determinados grupos e não ao leitor em geral’.

Em resumo, José Leite Pereira entende que, num jornal com as características do ‘Jornal de Notícias’ não será ‘uma prioridade a concentração de todo o noticiário de Media numa única secção’, com as implicações que tal envolveria (criação de uma estrutura física permanente e respectiva alocação de recursos).

Há, nos argumentos da Direcção do JN, aspectos que não podem deixar de ser considerados. Os recursos humanos (indissociáveis dos financeiros) são talvez o mais determinante. Mas tudo depende, como bem observa José Leite Pereira, das prioridades que se definem, tendo em conta as tais ‘características’ deste Jornal.

Uma coisa é certa mudanças desta natureza não se fazem de ânimo leve. Mas considero que é necessário manter o debate aberto e continuar a ponderar as melhores soluções para este e outros campos da vida social (o director cita, por exemplo, os casos da Ciência, da Educação e da Saúde).

Nesse debate a prosseguir, interessaria considerar outros argumentos, de que destaco os seguintes a) cada vez mais pessoas, e não apenas especialistas e profissionais, acompanham com atenção o que se passa no sector dos media; b) a televisão, ainda que com uma centralidade inquestionável na vida familiar, tende para a convergência com outros media; c) as práticas sociais de lazer diversificam-se e passam cada vez mais pela Internet; d) o panorama mediático é cada vez mais marcado pelo multimédia; e) o sector mediático e comunicacional é cada vez mais não apenas um campo da cultura e do entretenimento, mas um pilar estratégico das economias; f) acima de tudo, uma informação cuidada e abrangente sobre este terreno constitui uma ferramenta essencial para a consciência crítica dos cidadãos face à comunicação social.

Provavelmente a designação de Comunicação e Media seria até mais adequada. Em todo o caso, o tratamento jornalístico deste campo tem de ir além dos conteúdos e das programações e considerar igualmente as empresas e grupos, os profissionais e respectivas associações, as tecnologias, as audiências, as políticas sectoriais, a ética e a deontologia, os estudos e levantamentos estatísticos, bem como as iniciativas dos cidadãos em torno dos novos media. Por outras palavras, é possível conceber e produzir um projecto que responda a preocupações de sectores mais envolvidos com os media, mas que procure interessar também camadas mais amplas de leitores, nomeadamente professores e alunos que procuram na imprensa um apoio pedagógico insubstituível.

Interessar um maior número de leitores pela área dos media’