Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mara Gama

‘Recebi 19 mensagens críticas à cobertura do UOL sobre a crise de Honduras de domingo, 27, a terça, 29.

Os leitores que escreveram à ombudsman sobre o assunto consideram que o UOL fez cobertura parcial do conflito e que o portal está apoiando a estratégia e as atitudes do governo brasileiro no caso. Neste grupo de leitores, a maior parte se manifestou contrária à posição do Brasil.

Os internautas que se comunicaram criticam o uso no UOL do termo ’golpe’ para designar o que houve naquele país e ’golpistas’ para designar os articuladores ou membros do grupo que governa Honduras atualmente, chefiado pelo presidente do Congresso, Roberto Micheletti.

Acho importante destacar que o uso do termo golpe é corrente não só no UOL, mas em vários veículos, como o jornal ’O Estado de S. Paulo’ (que classifica o atual governo como governo de facto), no site ’G1’, na revista ’Veja’, para citar apenas três.

’Estou cansado de entrar no UOL e ver notícias relacionadas a Honduras intitulando seu governo como ’’GOLPISTA’’. Pois bem, não cabe a mim fazer um julgamento sobre o governo de Honduras, assim como não cabe ao UOL. Mas mesmo assim vale fazer um refresco sobre o assunto, visto que os repórteres/redatores do UOL provavelmente não sabem: O tal ’ golpe’’ foi feito de acordo com a Suprema Corte Hondurenha, então não é um golpe. Quem desrespeitou a constituição foi o sr. Zelaya. Não concordo com esse viés esquerdista com que o caso esta sendo tratado no UOL’, escreveu Leandro.

Para o leitor Paulo, que escreveu perguntando se ’o UOL é PT?’, o portal tem dado muito destaque a assuntos e personagens pró-governo Lula: ’Isso sem contar com palavras bem-encaixadas nos textos que apóiam o envolvimento do Brasil na indigência diplomática hondurenha. O mundo todo já se deu conta que aquilo é uma tentativa de dar relevância para um problema que só diz respeito aos próprios hondurenhos. O único interessado é o Chaves. Todo mundo sabe, mas o UOL continua apoiando a posição do Lula’.

O leitor Rodolfo pede que o UOL use outro termo e que não emita opinião sobre o assunto: ’Solicito que o ’governo de facto’ de Honduras não seja tratado nos textos do UOL como ’golpista’. Como bom jornalista você deve saber que se deve evitar um julgamento de valor apressado que possa induzir o leitor a erro. Não há bandidos nem mocinhos nessa história. Isso sim deve ser informado com clareza. Erraram os que extraditaram Zelaya. Deviam tê-lo mantido e consumado seu processo lá mesmo, e erro maior cometem os que incentivaram e promoveram a sua volta’.

Recebi também cópias de artigos cujos autores defendem a tese de que não houve golpe, pois o presidente deposto Zelaya ferira previamente a Constituição do país .

O leitor Tibiriçá criticou a cobertura no geral, e mais especialmente a reportagem ’Governo de Honduras é golpista e não interino, dizem especialistas’, publicada no UOL na segunda, 28.

’Reivindico imparcialidade informativa. Há, com certeza outros especialistas que não concordam com os especialistas ouvidos pelo UOL.No mínimo, a reportagem deveria tentar ouvir esses outros especialistas para mostrar que não é consensual essa designação de ’’golpista’’. Os especialistas, no conjunto, estão divididos sobre a questão. Além disso, dos três especialistas ouvidos pelo UOL, dois são, por assim dizer, ’’suspeitos’’. O dr. Pedro Dallari é tão petista quanto o dr. José Antônio Toffoli e é de se supor que ele concorde com a posição do governo brasileiro, ocupado por um petista. O segundo, que é apresentado somente como ’’Especialista em questões latino-americanas, o venezuelano Rafael Villa ’’, torna-se suspeito não só por ser compatriota de Hugo Chavez, parte interessada no conflito, como por não ter seus créditos acadêmicos expostos . Uma reportagem como essa, que pretende claramente formar opinião, não pode absolutamente ser tão leviana, seja por preguiça, seja por parcialidade do repórter, pois acaba servindo a um dos lados envolvidos na questão.’

Pedi à Redação do UOL que comentasse o uso do termo e a reportagem citada pelo leitor. Seguem as respostas:

O governo de Honduras é golpista porque:

1) O presidente deposto, Manuel Zelaya, não teve direito de defesa, o que contraria o artigo 82 da Constituição hondurenha e também acordos dos quais o país é signatário, como a Convenção Americana de Direitos Humanos. A falta de devido rito legal fere o princípio básico do Estado de Direito, no qual o respeito às leis é condição fundadora. O artigo 82 da Constituição hondurenha diz ’El derecho de defensa es inviolable. Los habitantes de la República tienen libre acceso a los tribunales para ejercitar sus acciones en la forma que señalan las leyes’. O Ministério Público pediu a prisão de Zelaya em uma sexta-feira e a Justiça decidiu em termos definitivos no domingo.

2) Como se a falta de devido rito legal não bastasse, não apenas os golpistas destituíram Zelaya do poder sem que ele pudesse se defender das acusações que lhe foram feitas, como também o retiraram do país. Ou seja, o homem acusado de crimes como traição à pátria e tentativa de violação da Constituição não foi preso, mas sim deportado. O modelo, conforme especialistas americanos definiram há décadas, chama-se ’golpe de manual’.

3) O Congresso de Honduras fez referência a uma suposta carta de renúncia de Zelaya para entregar a Presidência a Roberto Micheletti. A carta nunca apareceu e o presidente deposto nega que tenha escrito um documento desse tipo.

4) O termo golpista serve para dizer que a ordem institucional foi rompida por fatores alheios ao jogo democrático e não condizentes com as regras de um Estado de Direito. Há golpes com apoio popular que se estabilizam e criam arcabouço jurídico que lhes permita se autodefinirem regimes de direito. Até que isso aconteça são apenas golpes. Esse é o caso em Honduras.

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O governo de Honduras é de fato porque:

1) Todo governo de fato tem origem em um golpe de Estado, como o que aconteceu em Honduras. Não há diferença no sentido dos dois termos

2) É o grupo que de fato exerce o poder em Honduras hoje. Com novas eleições ou a criação de um arcabouço jurídico que o regularize, o governo de fato pode vir a ser o governo de direito – movimento este que ainda não aconteceu.

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O governo de Honduras não é interino porque:

1) Interinidade pressupõe que a Constituição preveja os passos da situação, como aconteceu com Itamar Franco no Brasil em 1992. Zelaya foi expulso do país pelos golpistas e, como presidente do Congresso, Roberto Micheletti assumiu o cargo de um presidente que não foi devidamente processado, não renunciou ao cargo e que foi sumariamente ejetado do país.

2) Interino é sinônimo de provisório. Não há garantia de que haverá eleições em Honduras nos próximos meses e tampouco o grupo de Micheletti demonstrou que não tentará se perpetuar no poder depois de assumir o governo em uma alegada situação de rompimento institucional.

3) Até agora nenhum país e nenhuma entidade internacional reconhece o governo de Micheletti em Honduras.

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A reportagem ’Governo de Honduras é golpista e não interino, dizem especialistas’ foi bem equilibrada?

a) Os três especialistas são doutores de notório saber na área de relações internacionais, dois deles da Universidade de São Paulo e um das Faculdades Rio Branco, Ibmec e Fundação Getúlio Vargas – instituições de renome. Cedem entrevistas regularmente e, independentemente de crença ideológica, fornecem argumentos importantes no que diz respeito à natureza do governo hondurenho.

b) Rafael Villa, natural da Venezuela, é professor livre-docente de ciências políticas na USP, especialista em América Latina. Foi escolhido para falar porque é especialista no continente. Associá-lo ao aliado de Zelaya e presidente venezuelano, Hugo Chávez, é desmerecer as críticas que o entrevistado faz a Chávez, a quem considera um radical gerador de tensões em seu país, como mostram os textos das seguintes URLs: http://www.unibrasil.com.br/noticias/detalhes.asp?id_noticia=2163 http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2007/11/28/327352676.asp

c) Gilberto Sarfati, doutor pela USP, leciona na Faculdade Rio Branco, Ibmec e FGV. É especialista em política externa corporativa, diplomacia corporativa, empreendedorismo global e teorias de relações internacionais. Foi escolhido para falar porque tem perfil conservador, como demonstram seus textos sobre a situação no Oriente Médio entre judeus e palestinos. Perfil este que é bastante diferente de qualquer intelectual ligado à esquerda dita bolivariana que critica os golpistas.

d) Pedro Dallari, professor da USP especializado em direito internacional, é próximo ao PT e a grupos de esquerda. Foi escolhido porque é uma voz importante para quem considera o governo hondurenho golpista – esse parece ser o caso da ampla maioria dos especialistas ouvidos ao longo dos últimos dias, sejam eles de direita, de centro ou de esquerda

e) O texto faz ponderações sobre como o próprio Micheletti se defende, sob a alegação de que Zelaya quis ferir a Constituição e perdeu o cargo por isso. Mas o fato é que diante dos argumentos da ampla maioria dos especialistas, entre os quais esses três foram pinçados, as declarações do presidente de fato não se sustentam. Se a voz dos golpistas ganhasse mais espaço do que teve, o resultado seria um desequilíbrio, por considerarmos as duas posições com o mesmo valor para os analistas – o que não é verdade.

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Mais sobre anúncio que encobre a manchete (29/9/09)

Continuo recebendo queixas sobre o anúncio na home page. ’Não dá sequer para ler as manchetes e os pop ups são colocados de maneira que não consigo desativá-los. Há um enorme desrespeito ao cliente, ainda maior com esta propaganda do pré-sal. Sou assinante há sete ou oito anos e nunca vi algo assim no UOL. Acho que está na hora de rever o meu provedor’, escreveu Doris.

O internauta Erick pediu revisão do novo formato: ’Entendo a necessidade do portal em ter seus anunciantes. Mas esta última foi demais. Já tivemos que enfrentar todo aquele engodo da mudança dos pop ups para esse novo sistema. Disseram na época que cada anúncio ficava no ar apenas 7 segundos, o que foi mudado posteriormente. Além do fato do usuário não conseguir mais evitar essa propaganda indesejada, como era no caso dos pop ups. Como assinante há um bom tempo, peço a retirada deste tipo de anúncio que atrapalha a leitura da parte nobre do portal. Isso é um grande absurdo. Algo tem que ser feito.’

Marcelo comentou: ’Considerei o anúncio da Petrobras muito invasivo. Nunca vi no UOL este formato tão grande ser utilizado. Seria um formato especial por se tratar ’do melhor negócio do Governo Lula’? É sabido, através de pesquisas, que o pré-sal é o fato mais lembrado pela população, fato este positivo que encobre outros ’negativos’ como crise no senado, CPIs etc. Qual a intenção do UOL em criar um espaço tão destacado para esta propaganda? Por que o UOL permite isto? Deixo aqui meu protesto e insatisfação de cliente UOL. Sou assinante há mais de 10 anos e pela primeira vez escrevo para fazer alguma reclamação’.

Independência editorial

Comentando o post ’Anúncio cobre manchete da home page’, em que escrevi que Publicidade e Conteúdo atuam de forma independente no UOL, a internauta Elaine perguntou: ’Mas o que significa realmente esse papo de atuarem de forma independente? São chefes diferentes apenas, ou não há nenhum tipo de comunicação entre as áreas de forma a impedir quaisquer influencias entre as mesmas? E se o anunciante se sentir ofendido ou prejudicado? E se o anunciante milionário (como a Petrobras é) reclamar muito?’.

Agradeço a pergunta e respondo.

De acordo com princípios adotados pela Redação, os anunciantes não têm interferência sobre o conteúdo editorial. Isso quer dizer que a Redação não pauta reportagem sobre produtos de anunciantes ou muda sua direção em uma cobertura devido a um anúncio.

A regra adotada pela Redação diz o seguinte: ’As áreas editorial e de publicidade do UOL são independentes e sem relação de subordinação. O trabalho editorial não se subordina aos interesses, presumidos ou manifestos, de anunciantes. Funcionários da área editorial não devem ser influenciados por considerações comerciais – incluindo os interesses dos anunciantes – na preparação do conteúdo do portal. A área editorial do UOL não produz matéria paga. Também não publica informe publicitário sem deixar clara para o leitor essa condição.’

Anúncio cobre manchete da home page

Os leitores Paulo, Claudia, Eduardo e Ronaldo reclamaram de um novo anúncio veiculado hoje na home page do UOL. A propaganda, do pré-sal, da Petrobras, cobre a manchete e as chamadas editoriais mais importantes do UOL. O novo anúncio não cobre um outro anúncio, que fica na lateral direita da página.

Considero que este modelo ultrapassa o limite desejável, por impedir a leitura das chamadas para os assuntos mais importantes do conteúdo editorial.

’Hoje me deparei com uma propaganda enorme da Petrobrás na pagina inicial do UOL. Acredito que a empresa vive de propaganda, mas quase cobriu a página inteira. Acho um desrespeito ao assinante, e não é só dizer que é clicar no botão fechar neste pop-up disfarçado que nos fazem engolir. A página está poluída de anúncios, é só comparar com outros portais para ver a diferença. Vou aguardar exatamente um mês a partir de hoje, se nada for feito pelo UOL, acho que usarei a minha arma secreta: cancelar a assinatura tanto do UOL quanto da FOLHA e não entrar mais.’, escreveu Paulo.

Para Claudia, ’Pop ups no site acabam por descaracterizar a linha editorial democrática que a Redação evidencia. Não temos saída, elas estão sempre lá e hoje maiores do que nunca. Pode-se dizer que basta fechá-las, mas não concordo: elas são irritantes, atrapalham e não são bem-vindas por ninguém. Gosto do site, das notícias, da variedade, de tudo. Mas esses pop ups são um desrespeito’. Ronaldo pediu: ’Por gentileza, somos contrários ao spam e propagandas não-autorizadas. Queira rever essa publicidade que abre a página da UOL. É muito desagradável’.

O leitor Eduardo pergunta se a propaganda influencia o conteúdo: ’A propaganda gigante da Petrobras tem influência direta no conteúdo das reportagens?’.

Por princípio, no UOL, as áreas de Publicidade e Conteúdo atuam de forma independente.’