Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mara Gama

‘Os leitores Josimara, Luis Augusto e David criticaram manchete do UOL que esteve na home page do portal na tarde de domingo, 31 de janeiro, entre 16h e 17h: ‘Agentes israelenses matam líder do Hamas em hotel’, sob o chapéu ‘Oriente Médio’.

Ao clicar, o leitor era enviado para o texto da agência EFE intitulado: ‘Agentes israelenses matam líder do Hamas envenenado, diz jornal’.

No texto, a agência atribui o assassinato a agentes israelenses e atribui esta acusação ao jornal britânico ‘The Times’:

‘Agentes israelenses injetaram uma droga que imediatamente provocou um ataque cardíaco e matou o líder do Hamas Mahmoud al-Mabhuh no quarto do hotel em que ele estava hospedado em Dubai, informa hoje o jornal britânico ‘The Times’. Em seguida, os agentes fotografaram todos os documentos que Mabhuh levava após colocarem na porta do quarto o aviso de ‘Não Perturbe’. O corpo do palestino, de 50 anos, foi encontrado no dia seguinte, em 20 de janeiro, por empregados do luxuoso Hotel Al-Bustan Rotana. Como não encontraram nenhum sinal suspeito, os médicos locais atribuíram a morte do líder do Hamas a um ataque cardíaco. No entanto, nove dias depois, amostras de sangue enviadas a Paris para serem analisadas indicaram a presença de veneno no corpo do miliciano. O Hamas, então, anunciou a morte de Mabhuh e culpou o serviço de inteligência israelense, o Mossad, pelo assassinato. Mabhuh era um dos fundadores das Brigadas de Ezzedine al-Qassam, braço militar do Hamas, que controla a Faixa de Gaza desde 2007.’

O leitor Luis Augusto escreveu: ‘Fui ler o texto e descobri que quem atribui essa culpa é o próprio Hamas. Acho estranho uma declaração de um inimigo declarado de Israel ser o título da reportagem. Por favor, me apontem onde está a certeza que o título anuncia. Acho que para um assunto bombástico como esse deveria haver um pouco mais de análise antes da publicação’.

O leitor David argumenta na mesma linha e ainda cita texto com outra versão: ‘O UOL publicou uma manchete em sua home afirmando que agentes israelenses teriam assassinado o maior líder do Hamas. Quando li a notícia, percebi que não havia prova alguma de que teriam sido israelenses que haviam matado Mahmoud al-Mabhuh, apenas declarações do grupo Hamas. Achei estranho o UOL publicar uma manchete como esta, afirmando com todas as letras a culpa de Israel no caso. Qual não foi meu espanto quando vejo agora o jornal Haaretz afirmar que investigações do Hamas apontam para governos árabes como principais suspeitos do assassinato. Não vi nenhum tipo de retratação do UOL com relação ao assunto. Foi uma manchete equivocada e tendenciosa’.

A leitora Josimara escreveu: ‘Cliquei para ler e foi absolutamente frustrante, pois a manchete acusava os israelenses pela morte de um dos líderes do Hamas e a matéria relacionada a tal manchete era minúscula, sem detalhes, sem referências. Considero tal manchete uma leviandade, tendenciosa. Não é este tipo de ‘informação’ que espero do Grupo Folha. Manchetes sensacionalistas com micromatérias que não esclarecem nada, não condizem com jornalismo ético, sério, sem tendências que eu espero e pago (pontualmente, mensalmente) para ler. Detesto ler acusações sem provas: podem ser contra católicos, macumbeiros, muçulmanos, judeus… Não importa, isto não é jornalismo de alta qualidade’.

Pedi análise da área de Internacional. Para o gerente responsável, Rodrigo Flores, o título da notícia estava correto: ‘O Hamas atribui a ação a agentes israelenses e a apuração do ‘Times’ vai na mesma linha . É o jornal que está dizendo que houve uma ação israelense contra o líder do grupo palestino’.

Uma consulta ao texto original do ‘The Times’ mostra que este só se baseia na acusação do Hamas e dá a acusação entre aspas no título: ‘Israel ‘poisoned Hamas leader’. No texto, a acusação é atribuída ao grupo Hamas.

Consultei a EFE no Brasil sobre o título. O diretor Jaime Ortega consultou a sede da agência em Madri.

‘Após consulta com a nossa sede em Madri, recebi a informação que o título do ‘The Times’, diz textualmente: ‘Israel ‘poisoned Hamas leader’’. A EFE simplesmente reproduziu essa informação citando o jornal’, escreveu Jaime Ortega.

Em minha opinião, o título do ‘The Times’ sinaliza pelas aspas que se trata de acusação feita por alguém e não pelo próprio jornal.

Aparentemente a EFE não vê esta diferença. E dá ênfase a esta versão quando, em seu texto, coloca como sujeitos da ação ‘agentes israelenses’:

‘Agentes israelenses injetaram uma droga que imediatamente provocou um ataque cardíaco e matou o líder do Hamas’.

Enquanto o ‘The Times’ diz no lide:

‘A tropa de choque que matou o alto comandante do Hamas em seu hotel em Dubai injetou nele uma droga que induziu um ataque cardíaco, fotografou todos os seus documentos de sua pasta e deixou um aviso de ‘do not disturb’ (não perturbe) na porta (…). Nove dias depois, após amostras de sangue que haviam sido enviadas a Paris mostraram sinais de veneno, o Hamas anunciou a morte e culpou o Mossad, o serviço de inteligência internacional de Israel, pelo assassinato.’

No caminho da notícia, a contextualização da acusação foi sendo diluída. O The Times usa as aspas no título, permitindo ao mesmo tempo precisão e temperatura. No texto, contextualiza afirmação.

A EFE se apoiou na autoridade do The Times para cravar em título a acusação. O UOL recebeu a mensagem já com problemas e não analisou suficientemente o conteúdo, embarcando no navio.

Depois de receber os alertas dos leitores, a equipe que edita a home page do UOL reconheceu o erro de publicar o título com a acusação, como se endossasse a versão, e publicou hoje a seguinte errata:

‘A home page do UOL errou ao publicar no último domingo, por volta das 15h, enunciado onde afirmava que agentes israelenses tinham assassinado líder do movimento Hamas num hotel em Dubai. A edição deveria ter citado que a informação havia sido publicada pelo jornal britânico ‘The Times’, que tinha como fonte primária o próprio movimento palestino.’

***

Pesquisas eleitorais (3/2/10)

No último dia 30 de janeiro, leitores questionaram o UOL, em mensagens para a ombudsman, pelo fato de o portal não ter dado os resultados da pesquisa Vox Populi de intenção de voto para as eleições presidenciais.

‘Onde está a pesquisa realizada pelo Instituto Vox Populi e divulgada por alguns veículos de comunicação social no dia de ontem, 29/01?’, questionou Klebber.

‘Estranhei o comportamento do UOL de omitir a pesquisa Vox Populi desta semana. Por quê?’, perguntou Daniel.

‘Sou assinante UOL e li as páginas de ontem e de hoje, 29 e 30 de janeiro. Fui surpreendido por um comentário de um amigo sobre a pesquisa Vox Populi para presidência. Estranho não ter visto nenhuma informação a respeito no UOL. Será que não li direito o UOL? Parece-me que esse tipo de notícia merece manchete. Será que o UOL só acredita no Datafolha? Mesmo assim não tem obrigação de divulgar tal notícia? Será que é porque nesta pesquisa a Sra. Dilma Roussef cresceu e o candidato Serra caiu? Ou o UOL censura as notícias? Favor me esclarecer’, escreveu Mario.

Através do arquivo de home pages do UOL, que fica em http://noticias.uol.com.br/arquivohome/datas.jhtm, verifiquei que a pesquisa recebeu chamada, sim, no bloco de notícias, na metade da página.

A chamada principal, que ficou no ar na noite do dia 29 até a manhã do dia 30, reproduzia quase literalmente o título do post do blog do jornalista Fernando Rodrigues:

‘Dilma sobe menos se Ciro sair da disputa presidencial, indica pesquisa da Vox Populi’ era a chamada e ‘Dilma sobe menos se Ciro sai da disputa, diz Vox Populi’, era o título do post do blog.

Registre-se que o UOL deu o material antes de outros portais. Mas as manchetes de dois deles davam o ‘placar’: ‘Dilma sobe 9 pontos e alcança 27%; Serra lidera com 34%’ e ‘Vox Populi aponta queda na diferença de Dilma para Serra’.

Considerei a notícia pouco valorizada no UOL, por não estar na manchete, e em minha opinião a chamada é mais adequada para um texto de apoio, uma análise que viesse a acompanhar um texto principal com os percentuais de intenção de votos para os candidatos que lideram a disputa: José Serra e Dilma Roussef.

Em seu post, como indica o título, Fernando Rodrigues escolheu abordar a variação do comportamento do eleitorado com a presença ou ausência de Ciro Gomes na disputa. O analista político está fazendo seu papel. Concorde-se ou não com ele.

Mas acho que houve equívoco na edição do UOL.

A internet é hoje fonte primária de informação para muita gente. Por isso, a presença de análises sobre os fatos não desobriga a noticiar os fatos em si.

Questionei a Redação sobre o pouco espaço dado à pesquisa e a formulação da chamada que não enuncia o ‘placar principal’, além de perguntar se há uma política de divulgação das pesquisas eleitorais já estipulada para o ano eleitoral.

Para o jornalista responsável pela edição da primeira página, o gerente geral Alexandre Gimenez, ‘o espaço dado ao levantamento foi adequado (a manchete do bloco de Notícias é uma das áreas mais clicadas da home page). A Redação optou, com acerto, por destacar no topo a polêmica sobre o PNDH, a maior alta mensal do dólar em 15 meses e a punição por doping de uma das mais importantes atletas brasileiras. Sobre o enunciado, acredito que a opção em destacar a influência de Ciro Gomes na corrida presidencial a mais correta, já que nas últimas semanas houve aumento da pressão de setores do PT pedindo ao deputado que desista de sua pré-candidatura’.

O jornalista responsável pela Gerência Geral de Notícias, Rodrigo Flores, informou que ‘a pesquisa foi manchete de UOL Notícias e destaque já havia sido dado para dados antecipados da pesquisa por Fernando Rodrigues na semana passada. O título da nossa reportagem não traz o número. Entendo que não é obrigatório exibir o número na manchete, e que cada caso deve ser avaliado individualmente. No meu entendimento, prestamos um serviço melhor ao internauta comparando diferentes cenários e dizendo que Ciro na disputa ajuda Dilma do que simplesmente colocar Dilma com X, Serra com Y e Ciro com Z. Jornalismo não é nem deve ser mera divulgação’.

Sobre a política de divulgação de resultados de pesquisas, a Redação não tem uma política definida: ‘Pesquisas são retratos de um período específico do cenário eleitoral e devem ser tratadas como qualquer fato. Na minha avaliação, o tamanho do destaque deve ser proporcional à novidade que ela traz. Se fatos econômicos, policiais e internacionais são tratados de maneiras diferentes de acordo com a relevância, por que a pesquisa (que é um fato político) deveria ter tratamento diferenciado?’, pergunta Flores. ‘Recusar regras como essa não significa que abrimos mão da nossa imparcialidade, pluralidade e independência. Esses compromissos devem estar em todas as notícias que produzimos e destacamos.’

Não considero que resultados de pesquisas eleitorais para presidente da República sejam fatos políticos comuns. E acho que deixar de estudar possíveis regras é prejudicial para a Redação.

O leitor Daniel, informado de que o UOL tinha sim noticiado a pesquisa, respondeu: ‘A manchete correta, por todos os manuais de jornalismo, seria: Dilma encosta em Serra ou Corrida presidencial fica embolada ou algo parecido. Não sou petista ou tucano, mas vejo que a grande mídia está cada vez mais partidária, principalmente nas manchetes’.

Não concordo que o UOL seja partidário. Mas julgo que o público tem de ter acesso facilitado às informações relevantes. Neste caso, um simples texto com o placar deveria estar no bloco de chamadas. Assim, quem não quer ler a análise do quadro político, pode se informar rapidamente no UOL.

A função poderia também ser bem executada por um quadro, uma arte. Já tratei deste assunto no blog e sugeri a criação de uma interface menos poluída e mais eficaz. Não houve mudança. Na interface disponível hoje em dia é preciso fazer ginástica para enxergar a evolução no tempo de dados de um mesmo cenário e de um mesmo instituto.

Compartilhamento de conteúdo UOL

O leitor Norman enviou uma ótima pergunta à ombudsman, que divido aqui com o público do blog.

‘É notório o número de usuários que copiam conteúdo do portal UOL e de outros e disponibilizam no Youtube e outros sites de compartilhamento, sem créditos, referência ou links para o site. Porém não há nenhum lugar (ou se há, está bem escondido) para que entremos em contato com o pessoal do UOL a fim de obter informação se existe a possibilidade de disponibilizar alguns conteúdos do portal UOL para usuários de outros sites/redes com autorização do UOL. Ou seja, é muito mais fácil fazê-lo sem dar satisfação do que buscar autorização. No meu caso, gostaria de oferecer a opção aos meus usuários de assistir ao programa ‘Tabelinha’ do Juca Kfouri apenas em áudio. Para isso faria download dos filmes da TV UOL e converteria os arquivos, disponibilizando aos meus usuários com créditos e referência ao UOL e ao blog do jornalista. Acho que muitos outros têm essa dúvida.’

Pedi à diretora de Conteúdo do UOL, Márion Strecker, que comentasse a mensagem e ajudasse a esclarecer as dúvidas dos leitores sobre este assunto.

‘Em geral, preferimos que o público venha ao UOL ver o conteúdo do UOL, pois assim a empresa tem condições de mostrar também publicidade e assim financiar a criação do conteúdo que, para o público, é na maioria grátis. Mas estimulamos que o público compartilhe o conteúdo do UOL com outras pessoas e em suas redes sociais. Facilitamos esse compartilhamento pelo uso intensivo de barras como as mostradas abaixo (Enviar por E-mail; Compartilhe no Facebook, Twitter etc.). Em geral, o público publica apenas o link, o título e eventualmente um resumo, com ou sem comentário pessoal, em sua rede social ou em seu e-mail para um amigo. Se o amigo se interessar, clica no link e vê o resto do UOL.

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Em UOL Educação, como sempre houve bastante demanda para uso de conteúdo do UOL, criamos uma nota de rodapé que explica as regras (é livre o uso em trabalhos escolares, desde que citada a fonte). Veja nesta imagem:

Copyright UOL. Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução apenas em trabalhos escolares, sem fins comerciais e desde que com o devido crédito ao UOL e aos autores.

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No caso específico de vídeos (TV UOL e, no futuro, também Rádio UOL), estimulamos e facilitamos que o público embuta conteúdo do UOL em seus sites. No caso de streamings de vídeo e áudio, a questão da publicidade está resolvida, pois eventualmente podemos transmitir anúncios junto ao vídeo/áudio do UOL que esteja embutido num site de terceiro.

Como estimulamos e facilitamos isto? Abaixo do vídeo (veja este exemplo do Juca) aparece tanto a URL fixa quando o código do vídeo, para uso livre por terceiros.

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Além disso, eventualmente recebemos por meio da ombudsman ou do SAC solicitações específicas quanto à reprodução do conteúdo do UOL em outros sites, livros, revistas, TV ou jornais, que estudamos caso a caso.

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Mas quando o UOL se dá conta de que seu conteúdo está sendo pirateado (ou seja, reproduzido na íntegra por pessoas/empresas que querem ter ganhos financeiros às custas e à revelia do UOL), então normalmente o UOL notifica e toma outras providências jurídicas para coibir esse tipo de prática.’’