’14/06/2004
Unctad, arraial do Lula, Chico Buarque de Holanda e a tocha olímpica. E assim foi o fim-de-semana nos jornais.
A Folha aproveitou bem uma pesquisa da USP sobre o hábito de bebida. O ‘Estado’ insistiu no MST. ‘O Globo’ antecipou a disputa por empregos em 2005 a partir de projeção do IBGE.
Saúde e exercícios físicos ocupam mais uma vez as capas das revistas
‘Veja’ traz a história mais curiosa da semana: a Abin caça um espião da Abin instalado no Planalto; a reportagem diz que já se sabe que é um jornalista e trabalha no 4º andar do palácio. São seis os suspeitos, segundo a revista.
Forças Armadas
No domingo, Clóvis Rossi e Cony, cada um do seu jeito, mostram que a discussão sobre a participação das Forças Armadas no enfrentamento da violência urbana ainda justifica muitas reportagens.
Kofi Annan
Em São Paulo para a conferência da Unctad, o dirigente da ONU deu entrevistas exclusivas para dois dos mais importantes meios de comunicação do Brasil, a TV Globo e a Veja. Não sei se a Folha tentou e não conseguiu, mas era de esperar que tivesse algo exclusivo sobre a mais importante reunião que São Paulo recebe.
Unctad
A edição do ‘Estado’ que circulou no Rio no domingo já trazia o discurso de Kofi Annan em São Paulo. Na Folha, a reprodução do discurso ‘Mundo é muito mais desigual, diz Annan’, capa de Dinheiro) só foi possível na Edição São Paulo.
Painel
É necessário acompanhar bem a política cearense para descobrir o partido de Luizianne Lins (nota ‘Bom Comportamento’, hoje, página A4).
Arraial
Da festa de sábado na Granja do Torto, a Folha só tem fotos dos ministros chegando de carro. O ‘Estado’ estampa na sua primeira página de hoje o momento em que Lula e Marisa celebravam o aniversário de 30 anos de casamento. Dentro, o ‘Estado’ tem mais foto da festa.
A bebida do presidente
Ao descrever a festa, a Folha informa que foram servidos quentão, cerveja, refrigerantes e uísque, ‘provado por Lula’. O ‘Estado’ tem um registro menor da festa, mas informa que o presidente bebeu cachaça e cerveja. Como o jornal aparentemente estava com um fotógrafo dentro da festa, é possível que esteja mais bem informado que a Folha.
Espião
O mais incrível nesta história do espião é que o governo aparentemente desconhecia as investigações. As reportagens de hoje que repercutem a história da ‘Veja’ mostram isso: ‘Lula discutirá medidas contra suposto espião’, segundo a Folha; ‘Denúncia de espionagem da Abin dentro do Planalto será investigada’, diz o ‘Globo’. Ou seja, a revista sabia mais do que o governo. E é incrível o presidente da República precisar se reunir com um ministro, como informa a Folha, para analisar que medidas vai tomar contra o suposto espião.
Parada gay
Já que desde a véspera a principal preocupação da Parada Gay e de sua cobertura jornalística era a de registrar o recorde mundial de público, a Folha poderia ter se preparado um pouco melhor e trazido algumas informações que ajudassem a sair dos números chutados pela PM e pelos organizadores. Segundo o jornal, quando os primeiros 25 trios elétricos chegaram à praça da República, os últimos carros ainda deixavam a praça Oswaldo Cruz, no início da Paulista. Quantos quilômetros separam os dois pontos? Para quem não conhece São Paulo, é impossível saber se é uma distância grande ou pequena.
Números
Ontem foi o dia das multidões.
A Parada Gay reuniu mais de 1 milhão na Edição Nacional da Folha, cerca de 1,5 milhão na mesma Folha, na Edição SP, entre 1,5 milhão e 2 milhões (no ‘Estado’) e 1,5 milhão no ‘Globo’.
A passagem da tocha olímpica pelo Rio foi acompanhada nas ruas por pelo menos 300 mil pessoas, segundo a Folha, e por 1,3 milhão, segundo o ‘Globo’. Neste caso, o ‘Estado’ se absteve.
‘Guia Universitário’
Ficaram estranhos, para quem leu ontem a Edição Nacional da Folha fora do Estado de São Paulo, o ‘Erramos’ e a relação de cursos e notas que teriam ficado de fora de um ‘Guia Universitário’ que o leitor nunca recebeu.
E, pela quantidade de cursos e notas do provão que ficaram de fora do ‘Guia’ e só hoje foram publicados, imagino a qualidade do trabalho editado. Como é uma prestação de serviços, deveria ter passado por uma checagem rigorosa antes de ser publicado. É um caso grave porque questiona o rigor de apuração do jornal.
09/06/04
O Iraque é a manchete da Folha e do ‘Estado’. A do ‘Estado’ é mais informativa: ‘ONU: Iraque terá soberania limitada’.
O ambiente interno ainda é de confiança. Folha, ‘Estado’ e ‘Valor’ registram, com destaque, a pesquisa da CNI que confirma o crescimento industrial. José Dirceu quase estraga a festa.
O ‘Estado’ inova hoje na sua capa e transfere para o leitor a responsabilidade pela apuração de uma notícia (importantíssima) que não conseguiu confirmar: ‘Sob a Bacia de Campos, outra Bacia de Campos?’. Não me recordo de outro caso parecido. Se a moda pega, vai ficar mais fácil fazer jornalismo.
Painel do leitor
Tem razão o juiz Ali Mazloum na segunda carta que envia para a Folha. Ou o jornal comprova que ele está mentindo ou o jornal deixa de acusá-lo sem provas. No mínimo, o jornal deve ouvi-lo toda vez que acusá-lo. Hoje também tem carta do juiz Casem Mazloum.
Operação Vampiro
Está superdimensionada, e não merecia o alto da melhor página de Brasil (A5) na Edição Nacional, a reportagem sobre as investigações do arrombamento do arquivo do Ministério da Saúde (‘Arquivo de licitações foi revirado na Saúde’). Como a linha fina acima do título informa, ‘não há indícios de que papéis tenham desaparecido no arrombamento de uma sala do ministério’. Na Ed. SP este material foi para o alto da página A8.
A única notícia que encontrei foi que teriam sumido R$ 170 de uma funcionária. Ou seja, o ministério, que só foi informado do arrombamento 48 horas depois, continua sem saber de nada. E este talvez devesse ter sido o enfoque da reportagem: a lerdeza para se apurar um simples arrombamento de sala.
A informação de que as fichas cadastrais estavam entre os documentos revirados (mas não necessariamente roubados, porque ainda não se sabe, quatro dias depois, se algo foi roubado) não justifica um alto de página.
O texto é impreciso quando diz que ‘o prejuízo para o governo pode ser milionário’. Não quer dizer nada.
Tenho sentido falta, nas artes sobre o caso, de alguma referência às contribuições eleitorais dos laboratórios. Se não me engano, há algum tipo de investigação sobre isso também.
Pirataria
Pareceu-me gratuito, inconsistente e, por isso, preconceituoso o texto que serve de legenda para a foto da pág. A7, da Edição Nacional, e que ilustra a reportagem sobre a CPI da Pirataria: ‘Negócios do Planalto – Feira na região central de Brasília que é famosa por vender alguns produtos a preços mais baratos, o que levanta suspeita de pirataria; ao fundo, a Esplanada dos Ministérios’. Além da referência ao Planalto (para todos sinônimo do palácio presidencial), o texto escorrega quando diz que o fato de a feira vender barato levanta suspeita de pirataria. Por que? Todos os lugares que vendem mais barato (e este é o princípio da concorrência) o fazem por que vendem produtos piratas? Aliás, quem suspeita? Como saiu, é o jornal que suspeita. Se o jornal suspeita, por que não faz uma reportagem na tal feira? Aí sim poderá afirmar que aquela feira fotografada vende produtos piratas.
Lula
O ‘Estado’ já traz na sua edição que circula no Rio o discurso de Lula em Brasília, na Abdib. A Folha só tem na Ed. SP.
Bacia de Campos
Sem a interrogação da primeira página, o ‘Estado’ informa na sua página B6 que ‘Sob a Bacia de Campos, outra Bacia de Campos’. Informação colhida com o diretor-geral da ANP, que ontem deu entrevista coletiva. Segundo ele, há ‘fortes indícios’. Não vi qualquer registro na Folha.
Edição
Acho que o jornal erra quando edita uma foto ou ilustração sob o título de uma outra reportagem que não tem nada a ver com aquela foto. Vi dois casos hoje: a foto da propaganda da Nike no rio Pinheiros (Cotidiano A7 da Edição SP), que parece ilustrar a reportagem sobre a licitação do lixo em SP; e a foto do ministro Roberto Lavagna (Dinheiro B11 da Edição Nacional), que parece ilustrar a reportagem sobre soja.
Aviso
Não haverá Crítica Interna amanhã e sexta.’