Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Marcelo Beraba

’07/07/2005

Apenas a Folha e o ‘Estado’ (na última edição) conseguiram informações importantes e escaparam, na manchete, do depoimento de Marcos Valério à CPI dos Correios. Segundo a Folha, ‘Valério deu R$ 902 mil a procurador’. E o ‘Estado’ informa que ‘BB exonera dois vices por empréstimos ao PT’. O ‘Globo’ tem uma informação exclusiva importante na capa –‘Gushiken também deve deixar o cargo’–, mas a manchete é o depoimento, já exaustivamente explorado ontem pelas TVs e pela Internet: ‘Valério nega mensalão mas não explica saques’.

Escândalo do ‘mensalão’

O ‘Estado’ começa a rodar sem a informação de que o procurador Glênio Guedes recebeu R$ 902 mil de Marcos Valério, principal reportagem da Folha. Mas recupera a informação na sua edição de 0h50, com fonte identificada, o deputado Eduardo Paes. A Folha, no entanto, não consegue recuperar a informação da manchete do ‘Estado’, ‘Empréstimos ao PT derrubam 2 dirigentes do Banco do Brasil’.

O ‘Globo’ dá como certa a saída do ministro-chefe da Secom, ‘Gushiken decide sair do governo’. E o ‘Estado’ informa que ‘PT loteia fundo de pensão de Furnas’.

Acabamento: Estão trocadas as duas artes ‘Valério na CPI dos Correios’, na pág. A6 da Edição Nacional. Ficou confuso.

O jornal acabou em boa hora com a imposição da idade em todas os textos do jornal. Mas não aboliu. Um perfil, como o do novo ministro de Minas e Energia (pág. A11), por exemplo, requer a informação.

Ribeirão Preto

A reportagem ‘Ex-servidor diz que recebia ‘extra’ (pág. A9) quebra um acordo firmado pelo jornal com uma fonte que decidiu confessar, sob condições, uma irregularidade que ajudou a cometer durante a gestão do ministro Antônio Palocci na Prefeitura de Ribeiro Preto (2001/2002). Não vou entrar no mérito do acordo, feito em junho de 2004, nem do rompimento porque me faltam elementos. Mas achei que a razão do rompimento do acordo agora, e não antes, não ficou muito clara. Segundo o texto, o acordo foi rompido depois que a Folha soube que o Tribunal de Contas do Estado julgou irregular a contratação da Coderp pela Prefeitura. Por que não rompeu antes? De quando é a decisão do TCE? O jornal ficou sabendo ontem?

Esporte

A Folha informa, no relato do jogo de ontem (‘Longe dos olhos, primeiro duelo só aperta o coração’, capa): ‘No Beira-Rio, com público considerável para um jogo de dois times de outros Estados, Atlético-PR e São Paulo ficaram no 1 a 1’. Quantas pessoas assistiram ao jogo?

06/07/2005

Folha e ‘Estado’ começaram a rodar com manchetes parecidas: ‘Valério negociava cargos, diz deputado’ (Folha) e ‘Valério tratava de cargos no governo, diz líder do PMDB’. O ‘Estado’ mudou depois para ‘Valério movimentou R$ 1,2 bi’, informação atribuída ao Coaf. Este também foi o número registrado inicialmente pela Folha, mas trocado, na Edição SP, para R$ 836 milhões.

No ‘Globo’, ‘Delúbio cai e PF prepara a quebra de sigilo do PT’.

Segundo o ‘Valor’, ‘Empresas ignoram crise política e captam bilhões’.

Escândalo do ‘mensalão’

A principal foto na capa das duas edições da Folha é um protesto de ‘metalúrgicos e integrantes do Movimento Urbano dos Sem Teto contra a corrupção em frente à sede do PT’. Na Edição Nacional, não há qualquer referência à manifestação nas páginas internas. Na Ed. SP há apenas um texto-legenda na pág. A7, ‘Pressão externa’, que repete as ralas informações da capa e omite a presença de metalúrgicos. Se a manifestação era tão importante a ponto de o jornal reservar o espaço de sua principal foto, era de se esperar uma reportagem interna sobre o assunto. Quantas pessoas participaram, durou quanto tempo, quem organizou, que metalúrgicos eram estes, foi durante a reunião da Executiva, o PT tentou acalmá-los?

A Edição SP, na pág. C4 (Cotidiano), se refere a uma manifestação de sem teto no centro (‘Entidades de sem teto promovem ato no centro para pedir verbas’), mas não faz qualquer referência à sede do PT.

Não ficou claro para mim por que a Folha mudou, da Edição Nacional para a Edição SP, o valor da movimentação financeira das empresas de Marcos Valério. Na Edição Nacional consta que ‘Empresas de Valério movimentaram R$ 1,2 bi’ (o mesmo valor que está na manchete do ‘Estado’ que fechou às 23h30), enquanto na Ed. SP está que ‘Valério e sócios movimentaram R$ 836 mi’. Imagino que as informações da Ed. SP tenham sido obtidas mais tarde e estejam mais precisas. O ‘Globo’ também registra R$ 836 milhões. Mas o valor de R$ 1,2 bi é o que foi divulgado inicialmente pela Folha. Como todo o caso que envolve sistema bancário é confuso, seria importante o jornal esclarecer as diferenças.

‘Painel do Leitor’

O leitor Mario Calich só queria manifestar uma opinião pessoal quando enviou a mensagem ‘Iguais’, publicada ontem pela Folha no ‘Painel do Leitor’. Foram apenas doze linhas perdidas no meio das colunas. A resposta não tardou: as réplicas de três assessores de imprensa ocuparam hoje 47 linhas do alto do ‘PL’, mais ou menos um terço de todo o espaço que o leitor dispõe para se manifestar no jornal. Um exagero. Era apenas a opinião de um leitor.

A Prefeitura de São Paulo consegue emplacar hoje duas longas cartas. Chega ao luxo de enviá-las através de assessores com funções diferentes. Não deixa de ser instrutivo para o leitor, que assim fica sabendo que assessor de imprensa da Prefeitura de São Paulo e assessor de imprensa do prefeito José Serra são cargos diferentes, embora o da prefeitura fale pelo prefeito e o do prefeito fale pela administração.

Para o leitor sem título restou hoje o espaço mínimo de nove linhas (‘Bom exemplo, moda que pega’). Como cita o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, imagino que amanhã teremos na abertura do ‘PL’ uma resposta de algum assessor da Presidência ou do presidente.

A mensagem ‘Prefeitura’, assinada pelo assessor do prefeito, reclama que o jornal não publicou notícias sobre a prefeitura que o jornal, na resposta, garante que publicou, e inclusive cita as datas das publicações. Se a assessoria está errada, por que publicar a carta? Bastava ter respondido diretamente à assessoria informando que ela estava enganada e que as reportagens tinham sido publicadas. As outras considerações deveriam ter sido registradas no ‘Outro lado’ publicado no dia da reportagem que avaliou os seis meses da gestão Serra. O leitor teria ganho duplo: a prefeitura se manifestaria no lugar adequado e no momento certo, junto com a reportagem, e sobraria espaço no ‘Painel’ para o ‘Leitor’.

Colateral

O texto de abertura da entrevista com o economista e colunista da Folha Luiz Carlos Mendonça de Barros teve uma cautela que não foi incorporada ao título. Na abertura, o colunista informa que Mendonça de Barros ‘diz acreditar que a atual crise política (…) já tenha afetado as decisões de investimentos’ econômicos no país. O título é direto: ‘Crise já parou investimentos, afirma Mendonça de Barros’ (pág. B4). Parou mesmo? É até possível, mas a declaração do ex-ministro, se bem entendi, foi mais no sentido de uma previsão do que de mostrar números a respeito. O jornal não teria como checar para saber se já parou de fato ou é apenas uma impressão?

Violência

Está errada, na Edição Nacional, a informação de que a chacina de Diadema (‘PM é acusado de matar faxineira e 2 filhos’, capa de Cotidiano) teria ocorrido na noite de terça-feira. Foi na noite de segunda, certo?

05/07/2005

As manchetes dos jornais do país estão parecidas: ‘Crise causa 1ª baixa na cúpula do PT’ (Folha), ‘Crise derruba secretário do PT’ (‘Estado’), ‘Cai o primeiro da cúpula do PT’ (‘Globo’), ‘Cai o primeiro dirigente do PT’ (‘Zero Hora’) e assim por diante. A capa da Folha se diferencia pela publicação de extratos de artigos de três colunistas. Mais opinião do que informação. Deixou de publicar, por exemplo, a entrevista do presidente do PT, José Genoino, no programa ‘Roda Viva’. Como as principais notícias eram conhecidas desde a tarde, a entrevista na TV, à noite, poderia esquentar a edição e torná-la, para o leitor de São Paulo, mais atualizada. O foco da Folha é o PT. Ficou de fora da primeira página uma nova frente de crise aberta com o envolvimento do PMDB no ‘mensalão’. É a manchete do ‘Valor’ (‘Denúncia ameaça cota do PMDB no ministério’) e chamadas no ‘Estado’ (‘PMDB perde lugar na reforma’) e no ‘Globo’ (‘Temer não põe a mão no fogo pelo PMDB’).

Escândalo do ‘mensalão’

É impressionante o relato que o ‘Globo’ faz dos protestos e manifestações de desilusão que marcaram o festival de rock que aconteceu no fim de semana em Belém: ‘Crítica que isso aí é rock’n’roll –Bandas atacam políticos e levam público ao delírio durante festival em Belém’. Não vi Folha.

Folha e ‘Estado’ têm informações contraditórias a respeito do apoio que José Genoino ainda tem no Planalto. Segundo a Folha (‘Genoino se vê abandonado por seu grupo’, pág. A6), ‘desde o último final de semana (…) Lula passou a defender a renúncia de toda a cúpula petista, incluindo Genoino (…)’. Segundo o ‘Estado’ (‘Partido agora teme Delúbio, o ‘homem-bomba’), Gilberto Carvalho, secretário de Lula, teria ligado para Genoino ontem e dito que o presidente mantém o apoio e a solidariedade. No sábado, Lula teria dito a Genoino, segundo o ‘Estado’: ‘Agüente firme. Segure o tranco’. A se ver.

A tendência que ocupa a secretaria de Mobilização do PT é ‘PT de Luta e de Massas’, e não ‘PT de Lula e de Massas’, como saiu no quadro ‘Executiva Nacional do PT’, na pág. A6.

Protecionismo

A Folha traz notícias sobre a Organização Mundial do Comércio (‘Bush admite acabar com subsídios’ e ‘Furlan critica ajuda européia a agricultores’, pág. B3), mas não tem a informação de que o Brasil enviou ontem à OMC pedido oficial para ter o direito de retaliar os Estados Unidos por não cumprirem decisões da entidade. É uma resposta à manutenção da produção a produtores americanos de algodão por parte dos EUA. Está no ‘Estado’: ‘Brasil vai retaliar EUA por subsídios’.

Resposta

Recebi, via Secretaria de Redação, a seguinte contestação do repórter Luiz Maklouf Carvalho:

‘A propósito do comentário do ombudsman, em sua coluna de hoje [ontem], gostaria de registrar que não vejo qualquer erro de edição na publicação da foto da família de Delúbio Soares na matéria ‘Delúbio ajudou candidato na terra natal’. O texto refere-se claramente à Festa de Reis, de resto pública, onde a foto foi feita. Sua publicação apenas ilustra este fato. Perfeitamente justificável, pois’.

O problema não é a festa, mas a exposição desnecessária da família. Como os pais e irmãos do personagem sob suspeição não foram até agora acusados de nada, não se justifica a edição da foto. É seguro que o jornal conseguiria encontrar outras fotos boas da mesma festa para ilustrar a reportagem sem a necessidade de expor pessoas que não são acusadas de nada.’