Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Marcelo Beraba

‘A revista ‘Veja’ que circulou no sábado, dia 14, trouxe a notícia que marcaria o resto da semana: ‘O vídeo da corrupção em Brasília – A incrível seqüência do dinheiro saindo das mãos do corruptor para o bolso do corrupto. Mais: diálogos inesquecíveis!’.

Era o título que se lia na capa. Dentro, havia ampla e bem ilustrada reportagem que reproduzia cenas e diálogos do vídeo que flagrava um funcionário dos Correios recebendo dinheiro e revelando um esquema que envolvia seu partido, o PTB, e o PMDB, além de citar os nomes de várias empresas.

A notícia teve repercussão instantânea não só por causa do choque que denúncias documentadas sempre provocam mas também pelo fato de ter sido publicada num momento de extrema debilidade política do governo do PT. Para usar o chavão, caiu como uma bomba – e seu efeito foi imediato.

Menos na Folha. O jornal demorou a acordar para o caso. Na edição de domingo, publicou apenas um pequeno registro no pé da página A4, ‘Correios vão apurar caso de corrupção’. Na segunda-feira, a mesma parcimônia. O caso não mereceu espaço na primeira página e, no interior, a reportagem era curta e burocrática. Salvaram-se o ‘Painel’ político e a coluna de Brasília. O assunto principal do jornal era um levantamento sobre a arrecadação financeira do PT durante o governo Lula.

O alheamento da Folha ficou ainda mais constrangedor com a omissão, naquela segunda, de outra denúncia importante de corrupção: o ‘Fantástico’, da TV Globo, havia mostrado na noite de domingo trechos de vídeos que surpreendiam deputados de Rondônia tentando subornar o governador.

Registrei as falhas na Crítica Interna: ‘A Folha trata mal os dois casos de corrupção que surgiram no final de semana’. Relendo as edições acho que fui condescendente. Apenas na terça-feira o jornal deu aos dois casos a atenção que exigiam. O caso da ‘Veja’ era a manchete (‘Oposição tenta criar CPI sobre os Correios’) e o do ‘Fantástico’ também estava na capa (‘Fitas geram crise e ato contra censura em RO’).

Ainda assim o jornal demorou a dar um rumo aos casos. Os ‘chapéus’ que utiliza para classificar os assuntos comprovam isso. O caso dos Correios foi editado no domingo como ‘Investigação’, na segunda, como ‘Tremor na base’, na terça, como ‘Mala direta’, na quarta, como ‘Crise dos Correios’ e, na quinta, como ‘Governo sob pressão’.

Na quarta-feira, voltei a criticar o jornal por não publicar nenhuma carta de leitor comentando os escândalos. Não era possível que ninguém tivesse se interessado. Na quinta saíram algumas mensagens.

Não é a primeira vez que o jornal reage lentamente aos fatos. Isso ocorre principalmente nos fins de semana, quando as equipes são menores e a maior parte do material está antecipadamente produzida. Há uma dificuldade para perceber as notícias e fugir do planejado. Por essa razão, freqüentemente as edições de segunda são frias, mesmo quando há fatos relevantes, como os escândalos dos Correios e de Rondônia.’

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‘Temporada de caça’, copyright Folha de S. Paulo, 22/5/05.

‘Uma observação em relação ao comportamento da imprensa em geral. A explosão simultânea de escândalos, como os de agora, deve acender uma luz amarela nas Redações. Este é o momento mais difícil para o jornalismo.

A competição pela informação exclusiva que pode derrubar uma autoridade ou levar um político a ter o mandato cassado faz com que os mecanismos de controle interno de qualidade sejam afrouxados.

Nesses momentos, jornais e revistas escrevem suas melhores páginas, mas também cometem seus piores erros.

Já vivemos episódios semelhantes, como o caso Collor, o dos anões do Orçamento, o do prédio do TRT de São Paulo e outros tantos, para saber que a corrida desenfreada termina em desastres e injustiças.

A importância desses casos – e de outros que provavelmente surgirão – exige que repórteres mergulhem nos bastidores do poder e nas investigações jornalísticas, mas sem perder de vista que credibilidade se alcança e se mantém com informação precisa, denúncias documentadas e coberturas equilibradas.’

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‘Outro painel’, copyright Folha de S. Paulo, 22/5/05.

‘Já critiquei a Folha, em várias ocasiões, pelo excesso de cartas de autoridades que publica no ‘Painel do Leitor’ e que acabam ocupando o lugar dos comentários e das críticas dos leitores. Recebi, nos últimos dias, sugestões que reproduzo a seguir. Podem ajudar o jornal a reformular o espaço que deveria ser destinado aos leitores.

‘Não vou me juntar ao coro dos que reclamam espaço no ‘Painel do Leitor’. Ao contrário, faço já uma sugestão, apesar de reconhecer que, depois das reclamações registradas em sua coluna, a situação até está um pouco melhor.

Que tal criar o ‘Painel de Respostas e Contestações’ para autoridades, quase autoridades, ex-autoridades, pretensas autoridades, assessores e similares? Assim, aqueles leitores mais leitores que os outros (parafraseando George Orwell), que hoje ocupam boa parte do ‘Painel do Leitor’, teriam espaço próprio. Deixariam para os demais mortais, que compram ou assinam o jornal, um espaço que se tornaria mais rico, com opiniões que podem ir além das contestações habituais.’

Henrique César de Conti, Brasília

‘Sempre leio primeiro o autor da mensagem. Se é do sr. Joaquim ou da dona Maria, sempre leio. Se é uma resposta ‘oficial’, nunca leio. Daí, um comentário: respostas ‘oficiais’ deveriam ter um espaço próprio, e não misturado com as cartas dos leitores.

Poderia ser feito inclusive com uma tarja, assim como ocorre quando o texto é de propaganda ou promocional). […] Se somarmos o papel do ombudsman com um ‘Painel do Leitor’ também democrático, teremos um jornal democraticamente moderno e retroalimentado pelos leitores. Seria o reconhecimento de que o leitor está querendo cada vez mais participar e cada vez menos receber ‘prato pronto’.’

Leovi Antonio Pinto Carisio, Belo Horizonte

‘Sugiro a criação – lá nas páginas do meio, para não mexer com o layout das páginas de hoje – de uma seção de reclamações. Aí, então, os jornalistas que assinaram as matérias terão obrigação de comentar as cartas, não poderão se esquivar. Convenhamos, espaço não é problema para este jornal, não? Porque, se for, é o fim da picada.’

Renato Vercesi

Tendências/Debates

Na segunda-feira, dia 16, o ‘Painel do Leitor’ publicou carta em que Hélio Batista de Oliveira Júnior reclamava da freqüência com que o jornal publica artigos do senador Jorge Bornhausen, presidente do PFL, na seção ‘Tendências/ Debates’.

A mensagem não surtiu efeito. No dia seguinte, o jornal editou novo texto do senador, ‘Democracia x populismo’. Recebi, então, carta de Edilson Adão Silva, de São Paulo: ‘Para não parecer patrulhamento ideológico, recomendo que faça um levantamento sobre aqueles que mais escreveram na seção nos últimos tempos. Penso que Bornhausen deve ganhar em disparado’.

O levantamento confirma que o senador é quem mais assina artigos na página A3. Neste ano, foram seis em cinco meses. Seguem, com cinco artigos, o general Carlos de Meira Mattos, o físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite e o advogado Ives Gandra Martins.

Bornhausen também liderou o ranking do ano passado, com 15 artigos publicados em 12 meses.

A Redação não quis comentar o assunto.’