Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Marcelo Beraba

’08/10/2004

Folha, ‘Estado’ e ‘Globo’ publicaram, no alto de suas capas, a mesma foto dos atentados no Egito, a do socorro à grávida israelense ferida. Curioso que, internamente, os três optaram também pela mesma foto, a de um menino israelense sendo atendido em uma maca. A maioria dos diários brasileiros preferiu não publicar fotos do atentado na capa. Entre os diários norte-americanos, a maioria também veio sem fotos do atentado. Os que publicaram, preferiram a de um garoto ferido carregado no colo por um funcionário israelense. É uma foto mais ‘palatável’. E alguns dos grandes jornais, como o ‘Los Angeles Times’, o ‘New York Times’ e o ‘Chicago Tribune’, fizeram a mesma opção da Folha, ‘Estado e ‘Globo’ e publicaram a foto da grávida ferida, sem dúvida a mais forte das que pude ver editadas.

É até compreensível que os jornais, em casos como o dos atentados no Egito, optem por fotos iguais de um cardápio às vezes limitado enviado pelas agências internacionais. Mas, Folha e ‘Estado’ optarem por uma foto praticamente idêntica _ a do voleio de Ronaldinho assistido por Ronaldo, ontem, no treino em Teresópolis _, aí já é coincidência demais. Os cortes das fotos (a do Egito e a da seleção) são idênticos, a diagramação dos dois jornais concorrentes idem. A indiferenciação é ruim para os dois e para os seus leitores.

As manchetes:

Folha: ‘Ataques deixam 35 mortos no Egito’ (na Edição Nacional eram 42 mortos);

‘Estado’: ‘Erundina nega apoio e irrita o PT’;

‘Globo’: ‘Terror ataca balneários com bombas e mata 37 no Egito’.

Os três jornais deram destaque para a conclusão de auditoria feita pelo Ministério da Saúde no Rio. A Folha foi o único jornal que tentou ‘politizar’ o anúncio : ‘Governo aponta fraude na saúde em gestão tucana’ (na Edição Nacional, ‘União aponta fraudes em hospital na gestão tucana’).

‘Globo’: ‘Máfia desviou R$ 100 milhões de hospital federal no Rio’ (manchete);

‘Estado’: ‘Fraude custou R$ 200 milhões, avalia Saúde’.

‘Eleições 2004’

Alianças, alianças e alianças. A cobertura eleitoral da Folha e do ‘Estado’ de hoje é toda dedicada às negociações para o segundo turno. E nada mais.

O ‘Globo’ tem, pelo menos, uma história curiosa, de uma vereadora eleita pelo Prona, Senhorita Suely, que, segundo o jornal, ainda não apareceu, e ninguém a conhece no endereço que forneceu como domicílio.

Egito

Uma das três cidades atingidas pelos atentados, Ras al-Sultam, não aparece no mapa que a Folha publica na pág. A12. O mapa é imprescindível em notícias como esta, e é inexplicável que seja publicado tão pequeno e incompleto.

‘Dinheiro’

O jornal consegue escapar do cardápio diário de indicadores econômicos com um levantamento próprio sobre o impacto dos aumentos salariais nos preços (capa de ‘Dinheiro’).

O jornal poderia ter escolhido uma foto melhor do que a que ilustra o noticiário sobre a Vasp, na pág. B4 (‘Ultima chamada’).

O ‘Estado’ edita repercussões bem mais amplas do que as da Folha a respeito da aprovação, pelo Senado, da Lei de Biossegurança. Tanto em relação às pesquisas científicas (que a Folha publica em ‘Ciência’) como às relativas ao impasse que persiste na questão da soja transgênica (‘Dinheiro’).

Crimes

Embora esteja correto o título da reportagem que trata do levantamento de casos de violência no Brasil no ano passado (‘Registro de crimes sobe no governo Lula’, capa da Ed. Nacional e pág. C4 da Edição SP), ele passa a idéia de uma responsabilidade que a própria reportagem se preocupa em relativizar.

A questão da segurança exige cada vez mais uma ação nacional, mas ainda é basicamente de responsabilidade dos governos estaduais. O jornal teria sido mais preciso, quando decidiu dar um foco político à reportagem nomeando Lula, se tivesse, por exemplo, dito que 2002, quando se computou um aumento de 11% nos registros criminais, foi o último ano do governo Fernando Henrique. Ou seja, os registros cresceram tanto no último ano do governo FHC (11%) quanto no primeiro do governo Lula (18%). Poderia ter citado, também, os governadores do Sudeste que estão à frente dos Estados que concentram 60% de crimes violentos contra o patrimônio. Assim, os principais responsáveis pela segurança pública (FHC até 2002, Lula a partir de 2003 e os atuais governadores) estariam todos nomeados.

O jornal informa que os crimes registrados que tiveram maiores altas foram os contra o patrimônio, e relaciona seqüestros e roubos. Só que os seqüestros, como a própria reportagem informa, caíram muito. Portanto, o texto teria sido preciso se informasse que o que aumentou de fato, e muito, foi roubo. Seja pelo volume, seja pelo percentual de aumento, este é o crime mais praticado no Brasil em 2003.



08/10/2004

Folha, ‘Estado’ e ‘Globo’ publicaram, no alto de suas capas, a mesma foto dos atentados no Egito, a do socorro à grávida israelense ferida. Curioso que, internamente, os três optaram também pela mesma foto, a de um menino israelense sendo atendido em uma maca. A maioria dos diários brasileiros preferiu não publicar fotos do atentado na capa. Entre os diários norte-americanos, a maioria também veio sem fotos do atentado. Os que publicaram, preferiram a de um garoto ferido carregado no colo por um funcionário israelense. É uma foto mais ‘palatável’. E alguns dos grandes jornais, como o ‘Los Angeles Times’, o ‘New York Times’ e o ‘Chicago Tribune’, fizeram a mesma opção da Folha, ‘Estado e ‘Globo’ e publicaram a foto da grávida ferida, sem dúvida a mais forte das que pude ver editadas.

É até compreensível que os jornais, em casos como o dos atentados no Egito, optem por fotos iguais de um cardápio às vezes limitado enviado pelas agências internacionais. Mas, Folha e ‘Estado’ optarem por uma foto praticamente idêntica _ a do voleio de Ronaldinho assistido por Ronaldo, ontem, no treino em Teresópolis _, aí já é coincidência demais. Os cortes das fotos (a do Egito e a da seleção) são idênticos, a diagramação dos dois jornais concorrentes idem. A indiferenciação é ruim para os dois e para os seus leitores.

As manchetes:

Folha: ‘Ataques deixam 35 mortos no Egito’ (na Edição Nacional eram 42 mortos);

‘Estado’: ‘Erundina nega apoio e irrita o PT’;

‘Globo’: ‘Terror ataca balneários com bombas e mata 37 no Egito’.

Os três jornais deram destaque para a conclusão de auditoria feita pelo Ministério da Saúde no Rio. A Folha foi o único jornal que tentou ‘politizar’ o anúncio : ‘Governo aponta fraude na saúde em gestão tucana’ (na Edição Nacional, ‘União aponta fraudes em hospital na gestão tucana’).

‘Globo’: ‘Máfia desviou R$ 100 milhões de hospital federal no Rio’ (manchete);

‘Estado’: ‘Fraude custou R$ 200 milhões, avalia Saúde’.

‘Eleições 2004’

Alianças, alianças e alianças. A cobertura eleitoral da Folha e do ‘Estado’ de hoje é toda dedicada às negociações para o segundo turno. E nada mais.

O ‘Globo’ tem, pelo menos, uma história curiosa, de uma vereadora eleita pelo Prona, Senhorita Suely, que, segundo o jornal, ainda não apareceu, e ninguém a conhece no endereço que forneceu como domicílio.

Egito

Uma das três cidades atingidas pelos atentados, Ras al-Sultam, não aparece no mapa que a Folha publica na pág. A12. O mapa é imprescindível em notícias como esta, e é inexplicável que seja publicado tão pequeno e incompleto.

‘Dinheiro’

O jornal consegue escapar do cardápio diário de indicadores econômicos com um levantamento próprio sobre o impacto dos aumentos salariais nos preços (capa de ‘Dinheiro’).

O jornal poderia ter escolhido uma foto melhor do que a que ilustra o noticiário sobre a Vasp, na pág. B4 (‘Ultima chamada’).

O ‘Estado’ edita repercussões bem mais amplas do que as da Folha a respeito da aprovação, pelo Senado, da Lei de Biossegurança. Tanto em relação às pesquisas científicas (que a Folha publica em ‘Ciência’) como às relativas ao impasse que persiste na questão da soja transgênica (‘Dinheiro’).

Crimes

Embora esteja correto o título da reportagem que trata do levantamento de casos de violência no Brasil no ano passado (‘Registro de crimes sobe no governo Lula’, capa da Ed. Nacional e pág. C4 da Edição SP), ele passa a idéia de uma responsabilidade que a própria reportagem se preocupa em relativizar.

A questão da segurança exige cada vez mais uma ação nacional, mas ainda é basicamente de responsabilidade dos governos estaduais. O jornal teria sido mais preciso, quando decidiu dar um foco político à reportagem nomeando Lula, se tivesse, por exemplo, dito que 2002, quando se computou um aumento de 11% nos registros criminais, foi o último ano do governo Fernando Henrique. Ou seja, os registros cresceram tanto no último ano do governo FHC (11%) quanto no primeiro do governo Lula (18%). Poderia ter citado, também, os governadores do Sudeste que estão à frente dos Estados que concentram 60% de crimes violentos contra o patrimônio. Assim, os principais responsáveis pela segurança pública (FHC até 2002, Lula a partir de 2003 e os atuais governadores) estariam todos nomeados.

O jornal informa que os crimes registrados que tiveram maiores altas foram os contra o patrimônio, e relaciona seqüestros e roubos. Só que os seqüestros, como a própria reportagem informa, caíram muito. Portanto, o texto teria sido preciso se informasse que o que aumentou de fato, e muito, foi roubo. Seja pelo volume, seja pelo percentual de aumento, este é o crime mais praticado no Brasil em 2003.’