Quando se trata de fazer a cobertura da morte de um juiz da Suprema Corte, uma década faz uma diferença colossal. No fim do verão de 2005, Linda Greenhouse, que havia muito tempo cobria a Corte Suprema para o Times, soube da morte do presidente da Corte Suprema, William Rehnquist, quando o assessor de imprensa do tribunal lhe telefonou e disse: “Linda, o presidente morreu.” Imediatamente, ela entrou em contato com o chefe da filial de Washington e preparou um artigo para a edição impressa do dia seguinte. Philip Taubman, seu editor em Washington, trouxe consigo o filho, tecnicamente mais capacitado para ajudar a enviar a matéria para Nova York.
Atualmente aposentada e dando aulas de Direito na Universidade de Yale (e ainda escrevendo para o jornal), Linda Greenhouse tomou conhecimento da morte do juiz Antonin Scalia, na semana passada, de maneira bastante diferente: seu marido viu a notícia no Facebook.
Entretanto, o Times preparava-se para uma enorme série de matérias. O jornal tinha um obituário já pronto, mas enquanto o presidente da Corte Rehnquist já se encontrava doente há algum tempo, a morte do juiz Antonin Scalia foi inesperada. De uma maneira geral, a cobertura feita durante a semana foi boa – esplêndida, em termos de profundidade e abrangência –, mas não deu para evitar alguns tropeços, principalmente nas primeiras matérias.
Algumas das questões que surgiram provocaram reações nos leitores. Alguns leitores ficaram decepcionados com o tempo que levou o Times a divulgar a notícia na tarde de sábado. Outros ficaram preocupados com o fato de a edição impressa de domingo – parte da qual é fechada no sábado à tarde – não trazer coisa alguma sobre o juiz Scalia. E outros ainda ficaram incomodados com a velocidade com que o enfoque da notícia mudou, da morte de uma personalidade pública importante para as desagradáveis intrigas políticas sobre a nomeação de um novo juiz para a Corte Suprema.
“Fiquei estupefato, decepcionado e consternado com a rapidez com que o site nytimes.com divulgou matérias, análises e um editorial sobre a luta pela sucessão que se avizinha”, disse Eliot Kieval, um advogado de Nova York. “Parece-me que as primeiras horas após o anúncio da morte de uma importante autoridade pública são um momento de recordá-la enquanto pessoa e enquanto profissional.”
Profundidade e memória institucional
No que se refere à demora do Times em divulgar um aviso sobre a morte do juiz, o editor-executivo, Dean Baquet, disse-me que acreditou que era necessária uma cautela incomum. “Fiquei apreensivo com a divulgação. Havia alguma coisa que me preocupava”, disse ele. “E é uma coisa que se você divulgar errada, não há como voltar atrás.” Dean Baquet soube da morte do juiz pelo editor Marc Lacey, às 16:53. Cerca de dez minutos antes, o San Antonio Express News tinha divulgado a notícia e várias outras organizações jornalísticas lhe deram suíte. O Guardian deu a notícia pelo Twitter às 17:04 e a CNN, às 17:20. O Times foi um dos últimos a divulgá-la, às 17:39.
Bob Swofford foi um dos leitores que ficaram decepcionados. “Eu queria uma matéria imediata e confiável do Times”, escreveu, “mas tive que confiar em outras fontes.”
O obituário do juiz Scalia, escrito por Adam Liptak há cerca de dois anos, foi fundamental para a cobertura, mas não por completo, de imediato. Apenas alguns parágrafos acompanharam a divulgação da notícia. Embora o obituário, de 4.700 palavras, estivesse basicamente pronto – com exceção de algumas atualizações –, passaram-se quase duas horas antes que a versão completa fosse divulgada. “Dei um suspiro de alívio porque sabia que o obituário de Scalia fora escrito há cerca de dois anos”, disse-me Liptak. (O Times tem frequentemente prontos os obituários de personalidade públicas.)
O fato é que ter um obituário pronto não ajuda muito os leitores se uma personalidade importante morre na hora errada do dia e alguns assinantes ficaram insatisfeitos – entre eles, Don Noel, de Connecticut, ex-editor do Times, que escreveu para registrar sua insatisfação. “Às 17:44 da tarde de sábado recebi um aviso do Times, em meu iPhone divulgando a morte de Antonin Scalia”, escreveu. “Mais de 12 horas depois, minha edição de domingo do Times foi entregue em minha casa – sem uma linha sequer sobre a morte de Scalia.” E acrescentou: “Talvez o jornalismo impresso esteja mais morto do que eu pensava.”
Quando o Times se sentiu plenamente preparado, a profundidade das reportagens e a memória institucional resultaram num sólido conjunto de matérias fortes. Como destacou no último fim de semana James Warren, do Poynter, o Times tinha um pacote de pelo menos 14 artigos de fundo e de opinião na versão online de segunda-feira e um pacote considerável para seus leitores da versão impressa de segunda-feira.
Uma luta que não acaba tão cedo
Adam Liptak falou-me de uma conferência online convocada pela chefe da filial de Washington, Elisabeth Bumiller, da qual participaram pelo menos 12 repórteres e editores. “Quando a instituição se acerta, é uma coisa que vale a pena ver”, disse ele.
Eis a opinião que tenho em relação à cobertura do Times e às reclamações dos leitores: no que se refere à relativa demora, seria fácil dizer, agora, que o jornal foi excessivamente cauteloso, mas eu acho que esperar um pouco foi uma atitude inteligente. Muitas vezes os leitores dizem-me que preferem que o jornal demore um pouco para garantir que a informação dada é correta. Como disse uma leitora, censurando o Times por um erro publicado em consequência da pressa por ocasião do massacre na escola de Newtown, em 2012, “nós acreditávamos que o New York Times estivesse mais interessado em apurar os fatos corretamente do que em divulgar os fatos em primeira mão”.
Considerando que um extenso obituário já tinha sido preparado, foi lamentável que tivesse levado horas para ser divulgado por completo. E embora os prazos para as edições matinais de domingo sejam assim porque têm que ser, também é deplorável que muitos dos assinantes do jornal impresso não tenham sequer sentido o cheiro de uma notícia tão importante em seus jornais de domingo.
Finalmente, em relação à reclamação de Eliot Kieval, concordo que, num mundo ideal, a mídia – e a sociedade em geral – deveria ser capaz de passar algumas horas refletindo sobre a vida de uma personalidade pública antes de investigar o processo de encontrar (ou demorar a encontrar) seu substituto. Mas nós não vivemos nesse mundo ideal e não critico o Times por entrar imediatamente nessa luta. Na realidade, acho que é a única coisa a fazer.
Essa luta não irá acabar tão cedo, como qualquer pessoa consciente sabe. Nem se espera que vá acabar tão cedo, pois há muita coisa em jogo. Como disse Adam Liptak, “isto tem o potencial para dar uma nova forma à vida norte-americana por 30 anos”.
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Margaret Sullivan é ombudsman do New York Times