Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mario Vitor Santos

‘Recebi do internauta Joaquim Branco a seguinte manifestação, questionando as mudanças do blog do Luis Nassif e pedindo mais destaque:

‘Acesso o blog do Nassif há bastante tempo, porém, após as mudanças no blog efetuadas pelo iG, estou tendo cada vez mais dificuldades para fazê-lo. As mudanças também prejudicaram muito a qualidade do blog e a sua interatividade.

Além disso, parece que o objetivo é escondê-lo no portal, pois torna-se muito difícil, entrando pelo portal do iG, localizá-lo.’

A manifestação do internauta foi transmitida ao Diretor de Conteúdo do iG, Caique Santana Severo, que enviou a seguinte resposta, pela qual agradeço:

‘O blog do Luis Nassif migrou para a nova plataforma de blogs editoriais do iG no final do ano passado, onde também está hospedado o blog do ombudsman. Essa plataforma é muito superior à anterior em muitos aspectos, como o arquivamento por palavra-chave, assunto, data e uma busca que funciona bem. A nova plataforma também melhorou muito a indexação dos textos dos blogs pelos buscadores. Como resultado, a audiência vinda de resultados orgânicos aumentou para todos os blogs.

Não houve nenhuma mudança na visibilidade que o blog do Nassif tem. O colunista continua aparecendo no canal Blogs e Colunistas e dentro de várias páginas do Último Segundo, assim como chamadas eventuais na home do portal, como qualquer outro colunista.

O que o leitor pode ter sentido foram os efeitos de três semanas de problemas técnicos no sistema de blogs editoriais. Em muitos momentos durante esse período os blogs ficaram fora do ar, os colaboradores não puderam publicar novos textos e os participantes não conseguiram enviar comentários. Desde terça à noite, os blogs foram movidos para um novo conjunto de servidores em um novo data center do iG e não tivemos nenhum novo problema técnico.’

***

Darwin, a evolução e o jornalismo do iG (12/2/09)

O iG destaca em sua capa um ‘especial’ dos 200 anos de Charles Darwin, produzido pelo iG Educação. Quem clica no especial se decepciona duas vezes. Não há, a rigor, uma página especial para o fato, apresentado como uma nota comum dentro do site de Educação. Além disso, o material produzido não esta à altura da importância do homenageado.

O registro feito pelo iG deveria privilegiar pesquisa e reportagens, mostrar didaticamente detalhes da teoria da evolução genialmente proposta por Darwin. Era a oportunidade para dar voz a especialistas e proporcionar ao leitor uma descrição mais completa do cenário histórico em que os estudos revolucionários de Darwin foram desenvolvidos.

Até hoje a teoria de Darwin, que põe em dúvida a origem divina da vida, enfrenta grande oposição de grupos religiosos, inclusive no Brasil. Mostrar essa oposição seria obrigatório para fazer jus à radicalidade do debate.

Como o próprio iG relata, parte importante da viagem de pesquisas de Darwin percorreu o litoral brasileiro. O que haveria de novidades, memórias e imagens dessa passagem?

Um especial sobre Darwin e sua teoria deveria obrigatoriamente trazer uma profusão de ilustrações, desenhos, quadros e gráfico. Informação visual e é valiosa tanto para o jornalismo como para a pesquisa científica. A rigor, sem os esquemas visuais, alguns dos quais foram criados e são parte essencial da pesquisa darwiniana, fica muito mais difícil compreender a revolução criada pelo pesquisador britânico.

Suas idéias mudaram para sempre a maneira como o ser humano encara a si mesmo e entende a religião. Poucas efemérides justificariam tanto que o iG desse ao tema tratamento realmente nobre.

***

Mulher de malandro (11/2/09)

A capa do iG destacava na tarde de hoje texto, produzido pelo iG Música, que fala de cantoras que já sofreram agressões físicas por parte de seus namorados. A notícia aborda o assunto com o viés da curiosidade em torno dos famosos e do entretenimento, quando se sabe que violência contra a mulher demanda também cuidado e envolve outros valores bem mais sérios.

Não tem qualquer sentido nem nenhuma graça, por exemplo, a chamada na página do iG Música, que aplica às cantoras Rihanna, Tina Turner e Whitney Houston o rótulo de ‘mulheres de malandros’. A expressão refere-se a mulheres que gostam de apanhar, que toleram esse tipo de violência, justamente quando as três mulheres citadas reagiram e denunciaram agressões de seus companheiros.

O caso de Rihanna e de Chris Brown merece uma abordagem mais séria por parte do iG, que deve cultivar um jornalismo que estimule explicitamente a divulgação dos casos de agressão, nos quais as mulheres são as vítimas. Nesses casos não cabe qualquer graça, piada ou ambiguidade sobre quem está com a razão.

A saída de Felipão

Após sete meses no comando do time inglês Chelsea, o técnico Luiz Felipe Scolari foi demitido, o que merece, evidentemente, destaque no noticiário esportivo mundial. Todos – inclusive este iG – usaram como fonte central da notícia o comunicado oficial da direção do clube, que atribuiu a saída de Felipão aos maus resultados obtidos no Campeonato Inglês. Sem outras informações, sobrararam especulações.O iG,apoiou-se apenas em notas de agências, com seus textos em geral frios e distribuídos para todos os portais – o que tornou a informação muito semelhante em sites comcorrentes. Faltava nas notas um retrospecto completo da carreira do técnico (campeão pelo Grêmio, pelo Palmeiras, pelas seleções brasileira e portuguesa) e não havia nenhum texto mais aprofundado, no sentido de tentar entender sua inadaptação ao futebol inglês.

Por se tratar de uma mídia brasileira e próxima de boas fontes (jogadores, outros técnicos, amigos de Felipão, o próprio técnico), surpreende que não se tenham recuperado informações exclusivas sobre personagem tão célebre.

Dar atenção à imprensa esportiva inglesa, bem superior à média da mídia brasileira, é essencial agora. Nas reportagens do iG Esporte há informações do Times e do The Sun (também enviadas por agências), mas na tarde de segunda – dia da demissão, no calor da notícia, os artigos mais interessantes apareciam em outros jornais.

O The Guardian, por exemplo, entrevistou Acaz Fellegger, agente de Felipão, que afirmou que a demissão foi ordem direta do dono do Chelsea, o russo Roman Abramovich. Além disso, informou que o técnico deve permanecer na Europa pelos próximos dois ou três anos.

O mesmo Guardian e o Times foram além do comunicado oficial do Chelsea e levantaram mais prováveis motivos para a demissão de Felipão. O primeiro mostra um vídeo falando dos problemas de Felipão com a direção do clube e a inadaptação ao futebol inglês. O segundo dedica reportagem para a relação muitas vezes conflituosa entre Felipão e alguns jogadores, o que também pode ter atrapalhado sua performance no Chelsea.

A Folha de hoje, por exemplo, analisa estes e outros jornais ingleses que afirmam que a direção do clube reprovava os métodos de trabalho do treinador e relatam casos de ‘traição’ dentro do elenco. A coluna de Tostão, no mesmo jornal, analisa o estilo do técnico e como isso pode ter atrapalhado em seu trabalho no Chelsea.

Opinião

Infelizmente, a área de opinião de Esportes teve problemas com os blogueiros em razão de uma instabilidade apresentada pela ferramenta de publicação do iG , o que também tem afetado este blog. Alberto Helena ‘previu’ a saída de Felipão. Mas somente hoje o blogueiro de futebol inglês, Rogério Andrade, pode veicular sua opinião sobre a notícia.

***

A operação para triturar Edmar Moreira (10/2/09)

Desde que a mídia ‘descobriu’ Edmar Moreira e seu castelo em São João do Nepomuceno, tudo o que se refere ao deputado do DEM foi publicado como escândalo. Há muito que investigar sobre as acusações feitas contra o deputado e muito a se vasculhar sobre seu passado político.

Como bem lembra o colunista do Observatório da Imprensa, Luiz Antonio Magalhães, a história do castelo não é nova e já foi explorada em reportagem da Veja de 1999! Como pauta antiga, veio requentada por interesses. De quem? Só a própria imprensa poderá responder.

Para o DEM a ‘perseguição’, como o próprio Edmar definiu sua expulsão do partido, só interessa porque, na verdade, seu candidato à segunda secretaria da Câmara foi derrotado por Edmar, que venceu como candidato independente, avulso. Talvez o partido tenha liberado ou requentado as denúncias para a imprensa porque agora se vinga e pode indicar o candidato que lhe interessa. Quem foi que deu primeiro essas denúncias dessa vez?

Dia a dia, surgem novas denúncias, mas poucas provas. Uma nota afirma que políticos próximos a Edmar afirmam que o castelo em Minas seria usado como cassino, assim que o jogo fosse legalizado no Brasil. Sem mais informações, Edmar não foi procurado para se pronunciar sobre o caso. Hoje, o iG publica uma dívida – suspensa desde 2007 – do parlamentar com a Prefeitura de Belo Horizonte no valor de R$ 1 milhão.

Sobre o castelo, ainda há o que se investigar. Qual o real valor da construção? Os filhos de Edmar declararam este bem no imposto de renda? Os valores batem?

Por enquanto, o único serviço prestado pelo iG em favor do esclarecimento do caso e conhecimento de Edmar Moreira é o Projeto Excelências, realizado pelo Transparência Brasil. No site, é possível conhecer o perfil político do deputado e retirar dados preciosos para conhecer seu passado político e entender seu papel dentro da Câmara.

Talvez ele tenha apresentado uma inadequada sinceridade (ao dizer que na corregedoria da Casa não iria investigar nenhum deputado). Ele só declarou aquilo que de fato vem acontecendo, mas não pode ser revelado: o poder legislativo no Brasil, a partir do nível federal, não faz qualquer espécie de auto-controle sério. Eles agem assim, mas condenam apenas quem é tosco o suficiente para admiti-lo e ainda colocar o tema como plataforma de campanha merecedora de amplo apoio dos deputados, à revelia inclusive das lideranças do DEM, que agora têm diante de si a oportunidade de vingança.

É preciso fazer jornalismo nesse caso, dando ampla oportunidade de defesa ao folclórico parlamentar discutindo a participação da mídia na execração de Edmar, e mostrando os interesses que se beneficiam de sua retirada. O deputado talvez até mereça ser destituído, mas entre os que buscam retirá-lo existem alguns velhacos a quem a imprensa docilmente presta serviço.

***

As explicações para o fim da iGpedia (9/2/09)

O iG anunciou, na semana passada, o fim da iGpedia, serviço de enciclopédia colaborativa ativo desde dezembro de 2006. Consultada por este ombudsman, a diretora-adjunta de Conteúdo, Alessandra Blanco explicitou gentilmente as razões que levaram ao fim da iGpedia:

‘A área era administrada pelo Klick Educação. E rompemos essa parceria como um todo, tanto iGpedia quanto conteúdo de disciplinas básicas. A ferramenta estava pouco atualizada, o resultado final do produto ficou bem aquém do que esperávamos dele. Por isso, tinha baixa audiência e procura pelo internauta. Além de ter um alto custo.’

Seria melhor que as razões fossem espontaneamente oferecidas ao público quando do anúncio do encerramento do iGpedia ou de qualquer outro serviço do iG.

Em tese, o iGpedia, como tantos outros lançamentos realizados pelo portal, é uma idéia preciosa, com grande potencial de serviço ao internauta e até de geração de negócios. Mas o projeto, claro, envolve muito trabalho de organização, edição, marketing e, frequentemente, implica prejuízos iniciais por conta do investimento necessário até atingir um patamar de equilíbrio.

A maturação é longa e mesmo os projetos mais bem estruturados sofrem até atingir uma situação aceitável. Em muitos aspectos, a sustentabilidade de projetos na internet é ainda uma incógnita. Não existem, em geral, exemplos bem sucedidos a serem copiados; mesmo os melhores projetos atravessam sérias dificuldades, como as que atingem a experiência mais conhecida nesse setor que é a Wikipédia.

A descontinuidade na internet é, portanto, freqüente. Por isso, é preciso resistir à tentação de inventar e lançar projetos em grande quantidade sem muitas vezes uma avaliação criteriosa dos sacrifícios que serão necessários para que a idéia se afirme e vença. Não basta criar, ter novas idéias. Para implantá-las é necessário garantir os recursos, a logística e a sustentação. Do contrário, corre-se o risco de perder credibilidade em meio ao um frenesi novidadeiro. Neste caso, mais do que o fim do serviço, interessa discutir os métodos pelos quais o iG lança seus produtos e os mantém.

O fim da iGpedia não é também apenas o desligamento de uma área de um grande portal. Aponta para mais do que isso. Representa a desativação de um projeto colaborativo em rede que supunha o protagonismo do internauta (como o slogan do serviço afirmava: ‘A enciclopédia escolar que é você quem faz’). Essa questão é a fundamental e merece avaliação cuidadosa. Por que o iG não conseguiu levar seu cliente a interessar-se e a participar de um serviço como este?

Por outro lado, a ideia da enciclopédia é útil aos interessados e não deveria ser abandonada. Nem sempre as boas idéias germinam na primeira tentativa.’