Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Mário Magalhães

‘A cidade de São Paulo viveu no fim de semana passado um evento que reuniu 3,5 milhões de pessoas, divididas por 350 atividades em 80 lugares. São números da prefeitura, a promotora da Virada Cultural.

No oceano de apresentações que duraram 24 horas, o destaque da Folha foi o maremoto ocorrido na praça da Sé na madrugada de domingo, quando o grupo de rap Racionais MC´s se exibia para uma platéia de 35 mil.

Confronto da Polícia Militar com fãs da banda pôs fim ao show, deixou dez feridos e provocou destruição.

Até a sexta o jornal não esclarecera o motivo do tumulto. Na segunda, a Ilustrada contou: ‘A confusão começou [quando] um grupo subiu numa banca de jornal e outros espectadores invadiram a sacada de um apartamento. A polícia tentou retirar as pessoas e passou a ser atacada pelo público com latas, garrafas e outros objetos’.

Em seu blog, o jornalista Xico Sá, colunista da Folha, escreveu que estava ‘colado’ à banca: ‘[Os PMs] não foram atacados. […] Somente depois de vários tiros para cima, bombas de gás lacrimogêneo, chuva de gás pimenta e um massacre de cassetete no lombo da platéia, uma garrafa PET foi atirada em direção aos homens de farda’.

A Folha não publicou o testemunho do colunista. Um leitor disse ao ombudsman que, na verdade, fazia horas que jovens estavam sobre a banca.

O jornal registrou declaração de oficial da PM, segundo o qual ‘os integrantes dos Racionais incitaram o público contra os policiais’. E reproduziu afirmação do vocalista Mano Brown: ‘Vamos continuar, essa festa é nossa, vamos ignorar a polícia’.

O relato não dá conta dos incontáveis apelos por tranqüilidade feitos pelo artista, como se assiste em numerosos vídeos na internet. Os leitores da Folha não souberam quem deflagrou o conflito -se os mesmos baderneiros do quebra-quebra ou a PM tantas vezes inepta.

Outro problema da cobertura foi ofuscar a dimensão da Virada, embora lhe concedesse espaço. O título da capa da Ilustrada traduz a prioridade: ‘Confusão e festa’. Melhor seria ‘Festa e confusão’.’

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‘Lula e Alkmin, dois pesos’, copyright Folha de S. Paulo, 13/05/07.

‘O ‘Painel’ deu informação exclusiva na terça: ‘Parecer de técnicos do TSE [Tribunal Superior Eleitoral] recomenda a rejeição das contas de Geraldo Alckmin na campanha presidencial de 2006. O tucano não movimentou a conta de candidato, deixando o fluxo de dinheiro a cargo de seu comitê, o que é irregular, segundo corpo técnico do tribunal’.

O ‘furo’ não ganhou citação na primeira página. Nos dias seguintes, o jornal não publicou reportagem alguma. Nem ouviu Alckmin. Na quinta, o ‘Painel’ dedicou mais duas notas ao assunto.

No dia 6 de dezembro passado, o segundo título mais destacado na capa da Folha foi ‘Laudo do TSE rejeita contas da campanha do presidente’. Em página interna, a novidade recebeu justa atenção. Trecho da chamada: ‘Se vencer a rejeição [no plenário do TSE], a posse do eleito é impedida’.

Em 13 de dezembro o jornal manchetou ‘TSE rejeita contas do comitê de Lula’. E sublinhou: ‘Diplomação do petista é mantida’. O parecer sobre Lula, presidente reeleito, era mais importante que o relativo a Alckmin, derrotado.

Mas creio que a Folha errou ao minimizar a informação desta semana. Ela merecia exposição na primeira página e reportagem. O apartidarismo é princípio editorial que implica equilíbrio no noticiário.’

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‘Sóbria, cobertura escapa ao oba-oba’, copyright Folha de S. Paulo, 13/05/07.

‘‘A Folha pareceu nos últimos anos se sair bem na maioria das ‘grandes coberturas’ e deixar a desejar no noticiário do dia-a-dia.’

Foi o que comentei na crítica diária da segunda-feira, distribuída à Redação e acessível sem restrições aos leitores na Folha Online (www.folha.com.br/ombudsman). Era o prólogo para elogiar o inspirado caderno de domingo sobre religião.

O jornal já tinha ido bem nos meses que antecederam a visita do papa Bento 16, com os repórteres Rafael Cariello e Leandro Beguoci empenhados em acompanhar a Igreja Católica. Eles anteciparam a escolha de dom Odilo Scherer para arcebispo de São Paulo.

Além das revelações exclusivas, como o acordo que o Vaticano busca com o Brasil, houve um mérito especial: manter a sobriedade em um noticiário sensível.

Assim como o Estado é laico, o jornal deve exercer a independência em relação à igreja -que já tem o seu diário, ‘L´Osservatore Romano’.

A ‘grande cobertura’ fugiu ao oba-oba, porém teve tropeços (aponto-os nas críticas na internet). Na sexta, dava a impressão de overdose informativa, mas sem comprometer o bom trabalho jornalístico.

A Folha deveria retomar a cobertura sistemática de religião -de todas elas.’

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‘Folha esconde Galo, Grêmio e novos campeões’, copyright Folha de S. Paulo, 13/05/07.

‘Poucos temas motivaram protestos tão irados dos leitores nesta semana como o minúsculo espaço que a Folha reservou na segunda-feira às decisões dos campeonatos estaduais de futebol.

Eles têm toda a razão.

Os triunfos dos Atléticos (o de GO e o Galo de MG), Grêmio (RS), Paranavaí (PR) e Vitória (BA) receberam, cada um, míseras 11 linhas.

O título da Portuguesa na segunda divisão paulista, obtido após longo ‘jejum’, foi anunciado pela legenda de uma fotografia.

Somados, os feitos dos campeões mineiros, gaúchos e paranaenses não mereceram as 35 linhas publicadas sobre a conquista do Manchester na Inglaterra (nada contra esta notícia, que na era da globalização esportiva valia ainda mais destaque).

O leitor-torcedor, tendo ou não assistido aos seus times nas finais, nos estádios ou na TV, esperava que o jornal trouxesse um bom resumo dos confrontos do fim de semana. Ao abrir a Folha, deparou-se com notas condenadas ao rodapé de página.

O diário mais nacional não pode pensar que o país tem o tamanho de São Paulo. Nem esquecer os leitores de outras terras que vivem no Estado.’