Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mário Magalhães

‘Como se não bastasse o desaparecimento da menina às vésperas de festejar quatro anos, o jornalismo engulhou ainda mais o mundo no ano passado ao anunciar que a polícia portuguesa suspeitava da iminência do fim dos tempos: os pais de Madeleine McCann seriam os responsáveis pela ´morte´.

Das mais sisudas às mais espalhafatosas páginas, a notícia gritou. Na Europa, a história mal contada do sumiço da garotinha inglesa durante as férias no sul de Portugal, em maio de 2007, tornou-se uma obsessão.

A ausência de lágrimas da mãe intrigou. ´Especialistas´, esta espécie da qual a imprensa se fez dependente, foram escalados para decifrar os olhos secos. A barbárie se batizara de nomes, Kate e Gerry, e sobrenome, McCann.

Duas semanas atrás, o chefe da Polícia Judiciária de Portugal reconheceu: pode ter havido precipitação em declarar os pais como suspeitos. A afirmação de Alípio Ribeiro passou quase despercebida no Brasil.

Quando foi para alardear a desconfiança, convocaram-se trombetas. Na hora de informar o recuo, entreouviram-se sussurros.

Lembrei do caso Madeleine ao ler reportagem de Simone Iglesias na Folha do último domingo, ´Jovem diz que mentiu ao acusar de pedofilia casal de americanos´.

Mais horror: dois casais, um americano e um brasileiro, integrantes da comunidade de nudistas Colina do Sol, foram presos em dezembro no Rio Grande do Sul sob suspeita de pedofilia.

O Ministério Público os acusa de ´atentado violento ao pudor, corrupção de menores, formação de quadrilha e produção e divulgação de imagens de sexo com crianças e adolescentes´. Os denunciados se dizem inocentes. Não houve julgamento.

Os investigadores colecionaram indícios de que jovens sofreram abusos. Um deles, de 16 anos, dissera ter sido obrigado a assistir a um sexagenário se masturbando. Depois, assegurou à Corregedoria da Polícia Civil que mentira ao ser agredido por policiais.

Ignoro se os acusados cometeram ou não os crimes. Bem como se o casal McCann é vítima ou autor da tragédia. Ou se Madeleine está viva. O que sei é que não cabe ao jornalismo sentenciar. Ele deve apurar e informar. Julgamento é com outras instituições do Estado democrático.

É o que se reafirmou em 1994, quando inocentes foram presos por acusações improcedentes de violência contra crianças na Escola Base, em São Paulo. De início, o jornalismo se limitou às fontes oficiais. Não deu voz aos investigados nem espaço a informações que contradissessem as suspeitas. Alguma lição daquela cobertura sombria ficou, como se constatou com a ótima reportagem dominical.’

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‘Folha de Nova York’, copyright Folha de S. Paulo, 17/2/08

‘A corrida eleitoral nos EUA foi marcada, no fim de semana passado, pelo avanço do senador Barack Obama. Ele disputa com a senadora Hillary Clinton a indicação democrata a candidato a presidente. Na segunda- feira, a primeira página da Folha deu mais destaque ao assunto que a do ´New York Times´. É certo que os EUA ocupam lugar protagonista no planeta, mas não precisa exagerar.’

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‘Cara e focinho’, copyright Folha de S. Paulo, 17/2/08

‘Na essência, os dois textos ao lado são iguais. Têm diferenças de tamanho e padronização. O da Folha foi veiculado no sábado 26 de janeiro. O de ´O Estado de S. Paulo´, quatro dias depois, na quarta.

Como estava com sua edição concluída, a Ilustrada noticiou em Cotidiano a morte do violonista Antônio Rago.

Em 1993, o ombudsman da Folha, Marcelo Leite, qualificou a ´cópia ou apropriação de trabalho alheio` como o ´pior delito intelectual´.

Consultei o ´Estado` para saber o que houve. Sua Direção de Redação: ´Embora textos noticiosos curtos tenham certa chance de se assemelhar, o caso em questão parece ser mesmo um típico ´recorta e cola´. Trata-se de episódio lamentável, que contraria os padrões éticos e de qualidade do ´Estado´. Estamos apurando as responsabilidades, para as devidas providências´.

A Folha já reproduziu como se fossem de jornalistas seus declarações e opiniões com origem em outras publicações -ou seja, plágio. Ombudsmans abordaram os casos.

Uma hipótese sobre o aparecimento do texto no ´Estado` seria uma certa liberalidade do jornalismo mundial em recolher informações, sem dar o crédito, na internet -meio que torna mais fácil copiar, mas também de identificar a cópia.

Mas a apuração do ´Estado` descobriu que pessoa próxima ao músico enviou por e-mail nota sobre a morte. Era o texto da Folha, o que não foi informado. Alguém o ´colou` no jornal, prática que o ´Estado´, como a Folha, condena: publicar ´press release` como se fosse da lavra da Redação.’