Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mário Magalhães

‘A Folha não deu muita pelota para a reportagem, excluindo-a da primeira página, mas na terça-feira teve um momento de jornalismo supimpa: revelou uma maldade contra uma criança, contou uma história comovente e abriu caminho para melhorar a vida de quem carece de ajuda.

A repórter Afra Balazina mostrou que a empregada doméstica Martinha deixou de trabalhar durante as manhãs para acompanhar a filha Natasha na escola em São Paulo.

Com paralisia cerebral, a menina de nove anos precisa de auxílio para subir 13 degraus, na hora do lanche e na de ir ao banheiro. A doença não afeta a capacidade intelectual, mas a motora, da boa aluna. O colégio público não tem professor ou funcionário para socorrer Natasha. Nem rampa para a cadeira de rodas. Em vez de instalar a classe no térreo, deixou-a no andar de cima, aonde se chega de escada.

A mãe não pode pagar alguém para estar com a filha. Assume, ela mesma, o dever do Estado: assegurar condições de estudo. ‘Faço tudo o que posso para melhorar a vida dela’, disse Martinha.

O caso da mãe amorosa, além de molhar com lágrimas o papel do jornal, expõe como a administração pública, em todos os níveis, tantas vezes (mal)trata a infância.

E como burocratas são incapazes de solucionar problemas simples -a transferência da turma para o piso inferior acabaria com parte deles.

Conforme escrevi na crítica diária, ‘a presença de Natasha em uma escola regular é um presente às outras crianças. Como disse um médico, elas têm a chance de conviver com quem é diferente’.

Ainda na terça, por ordem da Secretaria Estadual da Educação, a escola passou a turma de Natasha para o térreo. Prometeu-se uma equipe para atender a menina. O jornal fará bem se monitorar o cumprimento da promessa.’

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‘Sem confirmação, cena de cinema vira fato no jornal’, copyright Folha de S. Paulo, 2/3/08

‘A história, hollywoodiana, saiu na Folha na terça, reproduzindo texto do ‘Agora’: ‘Uma médica vítima de um seqüestro relâmpago dirigiu três horas ameaçada por um estilete, teve os pulsos cortados, foi empurrada de uma ponte a 15 m de altura e, embora não soubesse nadar, ficou sete horas imersa no rio Paraíba do Sul, em Taubaté (SP), agarrada ao mato para não se afogar -foi salva porque dois jovens a ouviram gritar’.

Só que no mesmo dia se soube que a ‘médica’ não é médica, embora exercesse a medicina em São José dos Campos. Pouco depois de a Santa Casa local convocá-la para esclarecimentos, a mulher de 49 anos apareceu com os pulsos cortados e seu relato espetacular.

O problema da Folha não foi informar a profissão -é difícil escapar de uma mentira dessas. O erro foi promover a fato o que era versão. Se não tinha como se certificar, não podia bancar.

Era preciso sublinhar que os acontecimentos foram aqueles de acordo com a palavra da mulher.

O leitor tem o direito de saber o que é afirmação de terceiros, sem comprovação, e o que são narrativas que o jornal afiança.

A polícia suspeita que a mulher tenha tentado se matar e inventado o crime.’

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‘Reciclagem’, copyright Folha de S. Paulo, 2/3/08

‘A manchete da Folha no domingo foi quase igual a um título de capa em 2005. O jornal sabia da reportagem antiga, mas considerou ‘os dados diferentes, atualizados’. Acho que a informação é igual. E que manchete merece notícia nova.’

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‘Considerações sobre o ‘Erramos’’, copyright Folha de S. Paulo, 2/3/08

‘Recebi da jornalista Suzana Singer, secretária de Redação da Folha (área de edição), um comentário sobre a correção de erros de informação.

Ei-lo: ‘O ombudsman chamou a atenção, em sua coluna de 10 de fevereiro, para a demora na publicação dos ‘Erramos’. Do dia em que saiu o erro até a correção, a média é de 7,34 dias [balanço de 2007]’.

‘No entanto, o gráfico acima mostra que a maioria dos ‘Erramos’ (55%) é publicada em até três dias. Isso não significa, porém, que a Redação se contente com esse desempenho -é nosso objetivo tornar as correções ainda mais ágeis.’

Contextualizo: nenhuma publicação brasileira retifica seus erros como a Folha. A seção ‘Erramos’ fornida não é sinal de fragilidade jornalística, mas de pujança. Todos erram, só alguns se corrigem.

Claro que a média de tempo para as retificações é inflada pela demora e rebaixada pela rapidez. Não parece um bom resultado que mais de 130 correções tenham esperado, em 2007, pelo menos três semanas para sair.

Em quatro anos de tabulação, a espera média começou em sete dias e assim permanece, sem avanço algum.

É possível melhorar? Os últimos dados indicam que sim: em fevereiro de 2008, o jornal corrigiu 127 erros de informação, salto de 33% em relação aos 96 do mesmo mês do ano anterior. O tempo entre a veiculação do erro e a correção foi de 6,88 dias, menos que a média de 2007. Ela pode cair muito mais, em benefício dos leitores.’

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‘Errei’, copyright Folha de S. Paulo, 2/3/08

‘Preocupado em não personalizar as críticas, cometi uma injustiça na semana passada, ao não identificar o editor da Folha que enviara mensagem com a expressão ‘and so what?’ em resposta à carta de um leitor.

Ao não nomeá-lo, permiti que se suspeitasse do conjunto dos editores do jornal. Corrijo o erro: o autor foi o editor de Turismo, Silvio Cioffi, em julho. Considerei os termos abusivos. A Redação escreveu nova resposta, respeitando o leitor.’