Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mario Vitor Santos

‘Para encerrar, a pesquisa da APME e do Reynolds Journalism Institute (veja as notas anteriores) mediu a reação de editores e leitores quando se põe em questão um tabu: a separação, cada vez menos disfarçada, entre textos jornalísticos e a publicidade.

As audiências online gostam da separação clara entre notícias e anúncios. Mas também apreciam as conexões úteis das notícias para os anúncios.

Os números são estes: 94% dos editores disseram que é benéfico manter claramente separados os anúncios das notícias, contra 88% dos leitores.

Os leitores estão divididos (em torno de 45%) quanto à validade de estabelecer links entre notícias e anúncios relacionados.

Quais são as conseqüências para os editores?

Os leitores da internet entendem e apreciam o divisão teórica publicidade-informação, mas aceitam links pertinentes. Assim, os escrúpulos dos jornalistas podem ser irritantes para os leitores.

O que editores devem fazer: conhecer os planos e metas de sua empresa, influir em sua elaboração, descobrir formas de incrementar os links sem ameaçar a integridade do trabalho jornalístico.

Descoberta número 5: tanto leitores como jornalistas não dominam inteiramente o conteúdos dos sites. Estes apresentam áreas e instrumentos que raramente são visitados e usados.

É angustiante a sensação tão freqüente de que o internauta navega às cegas num mar sem limites e sem bússolas.

Uma das vantagens da velha mídia é justamente a impressão de limites que ela traz consigo. Nesse sentido, o jornal parece ter uma escala mais humana.

Muitos leitores não se sentem informados das ferramentas à sua disposição num site. E desconhecem as regras de funcionamento. Elas não são publicadas com clareza suficiente.

A proporção de leitores que conhecem e dos que desconhecem os termos de serviço é semelhante, em torno dos 35%.

Os leitores (50%) não sabem que podem denunciar posts inaceitáveis. O surpreendente é que 35% dos editores também desconhecem essa possibilidade.

Muitos leitores (40%) não sabem que posts ofensivos podem ser e são removidos (são?).

Quais são as implicações: os jornalistas têm comunicado mal aos leitores o que fazem. E também informam mal suas equipes sobre as regras de funcionamento do site em que elas trabalham.

Editores devem conhecer as regras de sua empresa e comunicá-las claramente às equipes.

Além disso, a navegação deve ser clara e consistente para permitir diálogo e interação com os leitores sobre o funcionamento dos sites.

O feedback dos leitores deve gerar ações, que por sua vez devem ser explicadas aos leitores.

Em resumo: os leitores querem mais transparência, flexibilidade, respeito ao anonimato, mais conexões com outros conteúdos pertinentes. Também precisam ser mais bem informados sobre o que é ou não aceitável publicar.

O seminário do Poynter Institute sobre Credibilidade mostra que editores têm muito a fazer se quiserem continuar a gozar da grande confiança que o jornalismo conseguiu carrear da era impressa para o mundo da internet.

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Os leitores online querem mais anonimato que os jornalistas (11/4/08)

Implicações da pesquisa com editores e leitores que foi tema de seminário no Poynter Institute de Estudos de Jornalismo, nos Estados Unidos:

Os instintos dos jornalistas (sobre revelações relativas à sua vida pessoal) são contrários àquilo que funciona junto aos leitores.

Tradições existentes no jornalismo impresso podem ser obstáculo no ambiente online.

Habilidades específicas do bom jornalismo (conhecimento, repertório acumulado e capacidade de análise) têm valor para os leitores.

A correta identificação de informação e opinião também é valorizada pelo público.

Revelação da pesquisa: editores e leitores discordam quanto ao uso de posts e comentários anônimos.

A maior parte dos leitores (40%) acha uma boa idéia que os leitores não sejam obrigados a revelar seus nomes (contra apenas 20% dos jornalistas). A maioria destes (60%, contra apenas 35% dos leitores) acha que é ruim não exigir a identidade de quem comenta ou publica um post.

Jornalistas consideram a anonimidade do usuário prejudicial ao bom jornalismo numa proporção de 60 a 20 (dos que a acham benéfica).

Já os leitores estão divididos (40 a 40). Os leitores também ficam rachados quando têm que responder se ainda publicariam posts e comentários caso fossem obrigados a declarar seu nome (real). A proporção é de 47% para cada lado.

Implicações: Privacidade não é um fator tão importante para certas parcelas do público. As tradições e instintos provenientes do ambiente impresso têm menos valor para algumas faixas da audiência online.

Por outro lado, provas de identidade podem não afetar tão gravemente o número de comentários, ao menos nos EUA.

Ações: o jornalismo online deve explicar claramente suas políticas para os leitores.

É necessário criar uma política de privacidade e mantê-la renovada e atualizada. Os leitores devem ser estimulados a conhecê-la.

É preciso explicar que valores deseja-se construir online, e por quê.

É preciso não só ouvir o público, mas também descobrir formas de construir um fórum de discussões que seja vivo, funcional e que goze de credibilidade.

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O espelho do Big Brother (9/4/08)

A primeira parte da pesquisa da Asssociated Press Managing Editors e do Reynolds Jornalism Institute (leia detalhes na nota anterior) induz às seguintes ações:

– Jornalistas devem continuar fazendo online aquilo que fazem melhor no jornalismo impresso

– Devem selecionar formatos e estilos próprios ao mundo online

– Devem estabelecer uma política de publicação de correções e usá-la consistentemente ( o jornalismo do iG, por exemplo, após um período de negligência em relação à divulgação de correções, vem recentemente procurando retificar seus erros com mais freqüência).

O segundo achado da pesquisa aparentemente é contraditório com o primeiro. Leitores e jornalistas discordam sobre se estes devem manifestar seus pontos de vistas pessoais:

– A maioria dos editores (mais de 50%) acha que isso é prejudicial

– A maioria dos leitores (cerca de 50%) acha que isso é benéfico

Leitores (40%) consideram que saber das opiniões e das preferências pessoais dos jornalistas aumenta seu interesse nas notícias que estes escrevem. Jornalistas (50%) acham que saber das opiniões e da vida pessoal dos jornalistas aumenta a credibilidade, o que é diverso.

Trazendo essa pesquisa americana aqui para o iG: cada reportagem sobre telefonia e negócios na área de telefonia no iG, por exemplo, deveria informar claramente que o portal pertence a uma empresa com interesses na área, a Brasil Telecom. Isso aumenta a transparência e reforça a credibilidade.

Em resumo, leitores e editores diferem quanto a certos valores:

– sobre os editores entrarem na conversa online;

– sobre declararem opiniões pessoais;

– sobre identificarem claramente opinião e informação;

– sobre quão importante é incluir opiniões e vida pessoal dos jornalistas no aumento do interesse do público e…

– sobre quanto isso aumenta ou não a credibilidade do público.

A pesquisa toca, portanto, numa espécie de inversão do jogo. As opiniões e a vida pessoal do jornalista devem ser mais expostas e fazer parte do trabalho que ele apresenta ao público? A vida do profissional da informação afeta sua credibilidade? Não há dados conclusivos, mas a pesquisa sugere que sim.

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Pesquisa: leitores querem princípios do jornalismo (8/4/08)

Pesquisa sobre credibilidade do jornalismo da internet foi tema de um ‘webinar’ realizado hoje no Poynter Institute (EUA). Este ombudsman assistiu. Responderam a pesquisa 500 leitores de sites jornalísticos da internet e 1.270 editores de jornais americanos. A pesquisa compara percepções de jornalistas e do público sobre padrões jornalísticos clássicos e sobre seu uso na ‘nova’ mídia. As mesmas questões foram feitas para jornalistas e leitores.

O webinário foi conduzido por J. ‘Bart’ Bartosek, chairman do comitê de credibidade da Associated Press Managing Editors e editor do Palm Beach Post, da Florida. Eis as conclusões iniciais.

Os leitores acreditam nos princípios do jornalismo. Editores e leitores compartilham da mesma fé no uso das técnicas básicas.

Cerca de 90% dos editores e dos leitores crêem que checar informações é benéfico para o jornalismo, bem como apurar os fatos rigorosamente e publicar correções de forma rápida e com destaque. Editores (90%) e leitores (80%) concordam que é bom para o jornalismo haver correta identificação (e separação) de notícia e opinião.

Leitores (80%) e editores (70%) acham benéfico para o jornalismo quando as notícias oferecem links para conteúdo mais aprofundado oriundo de outras fontes.

Implicações: os leitores não abandonaram na internet os princípios do jornalismo impresso. Eles continuam constituindo uma audiência viável e engajada. Os sites oferecem serviço valioso e relevante para os leitores. A necessidade que o jornalismo impresso atende segue existindo on line.

O abandono das práticas básicas de checagem e apuração é grave nos meios on line. Os leitores percebem e pedem rigor nos princípios.

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Comentário sim, lama não (7/4/08)

‘Prezados senhores,

Como assíduo freqüentador do ‘Último Segundo’ do iG, não posso deixar de observar e deplorar a falta de verificação do conteúdo dos comentários emitidos por internautas, relacionados às notícias que figuram no site.

É freqüente lerem-se palavrões, ofensas, ataques pessoais, racismo (principalmente contra judeus), etc., contrariando diretrizes do próprio iG quanto a esse tipo de expressão.

Os internautas se aproveitam do fato de poderem ‘se ocultar’ através de pseudônimos para, ao emitirem esses comentários, poderem ‘se safar’ de eventuais processos contra racismo, etc.

Creio que seria de bom alvitre que o iG não permita esse tipo de expressão, sujeita a penalidades legais, para não se tornar cúmplice dela e, portanto, solidário com as eventuais medidas judiciais que ela provocar.

No aguardo de suas providências,

Atenciosamente,’

Jorge Diaconescu

Há mais de uma semana essa mensagem foi enviada ao ombudsman, que remeteu-a à direção do iG, sem que esta tenha elaborado uma resposta até agora. A situação é a seguinte: o iG abre suas páginas a todo tipo de comentário, mas se isenta de responsabilidade pelo que publica. O leitor afirma que aquilo que é enviado pela pessoa que faz o comentário vai para o ar. Não há verificação prévia do conteúdo da mensagem. Se alguém procura o iG para denunciar crime ou ofensa, aí sim o portal toma a iniciativa de investigar e, se for o caso, retirar o texto do ar.

As áreas de comentários de sites lembram as pixações de banheiros públicos, como escreve Eric Alterman, repórter da revista ‘New Yorker’. Comentários trazem ofensas, mensagens racistas contra judeus e negros, preconceitos de sexo, xingamentos, incitação ao crime e outras transgressões, além de conteúdos de origem desconhecida ou duvidosa.

É incrível que isso aconteça, pois a internet é justamente um instrumento valioso por aproximar produtores e consumidores de notícias. Emissor e receptor podem trocar de posição. Para que isso aconteça, porém, é preciso que os sites assumam as responsabilidades sobre o que divulgam. É uma questão de checagem, de qualidade e de autoria

Para funcionar, alguém tem que zelar pelo padrão. Em lugar de atrair, a situação atual afasta o público. O baixo nível das opiniões, a linguagem incompreensível e muitas vezes chula desanimam, quando não assustam, os visitantes. Poucos querem freqüentar a sarjeta, nem locais vazios.

Além do problema ético, a falta de controle pode ter um preço alto. Sites como o Imprensa Marrom chegaram a ser retirados do ar por um período sem aviso prévio e condenados a pagar multas por causa de comentários não mediados e não autorizados.

A imagem dos veículos, inclusive deste iG, é portanto, afetada, perde prestígio e credibilidade. É obrigação zelar com mais cuidado pela imagem do veículo, respeitando os esforços realizados por centenas de profissionais ao longo dos anos.

Recentemente, o site webmanario chamou a atenção recentemente para a falta de uma compreensão mais séria do papel dos comentários. Sites usam a ferramenta de maneira apenas propagandística, para dar um ‘gostinho’ de democracia e participação. Não há diálogo real, uma conversa que evolua em alguma direção. O comentário vai para uma espécie de vala. A opinião dos leitores é apenas depositada e ignorada. Leitores percebem e abandonam essas áreas. Levam clicar em outro jardim.

A área de comentários é preciosa demais para ser tratada assim. Precisa ser mantida e cuidada. Receber investimentos em pessoal, equipamentos e outros recursos. Pode ser inteligente e criativa. É preciso ter uma política de dinamização, com o uso de mediadores hábeis, capazes de, quem sabe, regenerar sua credibilidade. Não é o caso de fechar os comentários, nem de deixá-los ao deus-dará como hoje. A missão é difícil, mas factível, evitando as armadilhas de ambos os lados. É preciso encontrar o ponto de equilíbrio entre participação sem controle e qualidade, e o uso excessivamente vigiado, que desencoraja a interação.

Veja abaixo somente alguns desses casos:

‘Só faltava essa, bicha ganhou estatuto! Vai xingar bicha de bicha e terás um processo nas costas. Ha…… saudades do meu tempo!!!!’

‘Lugar de judeu é em Israel. O mundo esta farto das atrocidades cometidos pelos judeus remanescentes do holocausto.’

‘(…) é corinthiano, se fosse são paulino, estaria numa boate gay…’

‘Pilantra. Tomou no (…)!! Agora a casa caiu.’

‘Eles pedem igualdade mas não merecem. Eles querem tratamento especial, como se nós, caucasianos, devêssemos alguma coisa a eles. Nós não devemos nada. Eles é que nos devem, pois se não fosse por nós, eles ainda estariam nas selvas da Guiné e Daomé.’

‘(…), caucasiano filho (…). Quem levou esse país a desgraça não foram os negros, mas quem administra essa (…) de país. São esseS filhos da #!@$%@# ladrões da sua raça.’

‘Não culpo o Lula e sim a Princesa Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga.’

‘O acesso que as classes C,D, e E tivéram à internet, proporcionou um verdadeiro festival de analfabetos e semi-analfabetos que ainda de quatro tentam se aventurar a comentar alguns artigos na Internet (…) É muito fácil projetar o seu biotipo, deve ter a cabeça no formato de…’

‘Atualmente eu pago minhas contas em dia, visto que a (…) da sua mãe me paga para…’

‘Motoboy bom é motoboy com a cabeça…’

‘Pare com esse blá-blá-blá ridículo e vai tomar nesse seu…’ ‘