Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mario Vitor Santos

‘Dois dias depois de discutir ética numa reunião de seus jornalistas, o iG publica em sua capa a chamada para um vídeo com imagens fortes de um operário sendo eletrocutado, com a roupa incendiada e despencando de uma altura de dez andares. Sem um aviso suficientemente explícito sobre as imagens, a chamada de capa é claramente sensacionalista:’Assista ao vídeo’, o iG anuncia primeiro. Depois em destaque menor, vem a informação: ‘Operário leva choque e cai’.

As imagens são angustiantes e deveriam ser divulgadas com mais cuidado. Em lugar de serem convidados a assistir, os leitores deveriam ser alertados de que as imagens são chocantes, apesar de feitas à distância e que podem causar muito sofrimentos em pessoas mais sensíveis. Essas, ao contrário, deveriam ser convidadas a não assistir.

O Manual do iG, por incrível que pareça, não tem o verbete sensacionalismo. Isso quer dizer que na prática, o iG não dispõe de um compromisso explícito, ou seja, de uma política que regule a divulgação de material chocante.

Com os meios de captação hoje disponíveis, uma quantidade grande de material sobre acidentes, cenas de ferimentos graves e morte são capturadas por amadores. É preciso estabelecer os critérios de uso desse material, pois a falta de uma política cria um vale-tudo. O iG não veicula qualquer cena que recebe. É responsável pelo que veicula, mesmo que a fonte seja externa. Um grande portal não pode se render ao anárquico, nem ao perverso. Faz um recorte do mundo segundo valores que respeita. Nesse caso, o que se pergunta é se a publicação obedece a esses valores ou se a ânsia de causar sensação fala mais forte, mesmo à custa de um ataque à sensibilidade de uma parcela do público.

Em tempo: o operário teve queimaduras em 50% do corpo e está internado na Unidade de Tratamento Intensivo de um hospital de Recife.

O iG e o YouTube

Recebi, por intermédio da editoria-chefe do Último Segundo, a seguinte manifestação do editor de Esportes, Gian Oddi, pela qual agradeço:

‘Do ponto de vista jornalístico, acho fundamental o seguinte: o conteúdo da nota do GP, um parceiro de inquestionável qualidade, era bem bacana. Tanto o texto como o vídeo eram de indiscutível relevância. A chamada, portanto, valia.’

‘Posto isso, acho que o post do Ombudsman levanta uma discussão interessante sobre o preço a ser pago pela utilização de vídeos do Youtube ou de qualquer outro conteúdo que não esteja hospedado no iG. Mas o uso desses conteúdos nos permite aproveitar melhor as possibilidades da internet. Por outro lado, também nos expõe a casos como esse.’

‘Porque por mais que a redação confira se o conteúdo da nota e o funcionamento do vídeo estão ok na hora da publicação, existirá sempre a possibilidade de que depois de alguns minutos eles não estejam mais. E, claro, fica a lição para que, quando o conteúdo não for produzido por nós e hospedado no iG, a redação passe a conferir com maior freqüência se não ocorreram mudanças.’

Gian Oddi, editor de Esportes’

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Batida na F-1 (4/10/2007)

‘Bastava acreditar no título da primeira página de hoje e a manchete da capa de Esportes para dar de cara com uma notícia surpreendente para os fãs de esporte. Um vídeo feito por um amador, e já colocado no ar dentro do You Tube, parece ter captado o momento em que o piloto inglês Lewis Hamiltom, da McLaren, vencedor do Grande Prêmio do Japão no domingo passado, freia exageradamente, quando o safety car ainda estava na pista, causando um inesperado e até agora inexplicado choque entre dois outros pilotos.

O registro é único e está sendo avaliado pela Federação Internacional de Automobilismo, que pode até tirar os pontos de Hamilton, que acabou vencendo a corrida, ou puni-lo na próxima corrida, em Xangai. Tudo isso o iG publicava mais ou menos bem explicadinho, pelas palavras do parceiro jornalista Flavio Gomes em seu blog.

O resumo da história é o seguinte: um vídeo amador furou a imprensa internacional e as próprias câmaras encarregadas de esquadrinhar toda a pista para a organização da Fórmula 1 e para gerar as imagens da transmissão ao vivo. Todo o aparato não captou as circunstâncias que levaram à batida.

Talvez por sorte, um solitário amador flagrou a cena, e logo a exibiu no You Tube. Segundo o iG, bastava clicar na seta para assistir as imagens. Quem fizesse isso hoje de manhã recebia de volta a mensagem’This vídeo is no longer available’ (Este vídeo não está mais disponível).

É ruim, mas acontece. As coisas nem sempre funcionam na internet. O problema é que há duas horas o iG destaca a notícia em suas capas externa (inicialmente) e interna (de esportes). Cada um que clica ali se depara com a mesma mensagem. Não há mais vídeo no local. Mas o iG continua exibindo a mesma mensagem , conduzindo o curioso leitor a um beco.

O vídeo aparentemente existe, mas não está acessível, apesar de o íG dizer que está. A internet trouxe muitas dificuldades, mas também multiplicou as chances de erro, pois tornou informações e serviços dependentes.de terceiros. Não basta publicar. É preciso conferir se funciona.

Depois de 12h15, o vídeo voltou a rodar.’

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Balanço ético (3/10/2007)

‘O iG reuniu ontem seus jornalistas e colaboradores da área de Conteúdo em São Paulo para uma conversa sobre ética, conduzida por Caio Túlio Costa, diretor-presidente e jornalista.

Foi uma ação muito positiva, que vai servir como um suporte aos jornalistas em suas múltiplas decisões editoriais. Ajuda a criar critérios comuns para nivelar os conceitos e buscar argumentos para justificar ações jornalísticas. Mas deve ser também um sinal para todos os que produzem o conteúdo do iG, no sentido de praticar o respeito à ética e de tornar mais transparentes os seus julgamentos.

Investir na formação dos jornalistas, acreditar em seu contínuo aperfeiçoamento, é uma forma de influenciar a qualidade do trabalho que chega aos leitores. Isso é o que importa.

Na palestra, os profissionais puderam ter acesso a uma apresentação sobre ética e moral. Foram abordadas as diferenças e influências entre esses dois campos. Houve votações e até um debate sobre temas polêmicos, como o uso de gravações com câmara escondida e recurso à mentira para obtenção de informações, por exemplo. As opiniões foram sempre divididas e o debate chegou até a empolgar. É evidente a avidez dos profissionais do iG por atividades intelectuais enriquecedoras e também por uma convivência mais instigante. Essa não foi a primeira nem a última das iniciativas do programa de palestras organizado pela equipe de Conteúdo do iG.

Quanto ao tema da ética, é importante que essa discussão avance sempre e torne-se mais concreta. Os conceitos teóricos devem ser adotados na prática. O iG como um todo, e cada profissional em particular, deve encarar as razões éticas e os valores morais que justificam seus procedimentos. A ética colocada de lado nem deve ser relativizada por razões de audiência, concorrência ou mercado.

O esforço pela prática de valores éticos tem que ser adotado desde os mais altos níveis hierárquicos até a base da estrutura funcional. É preciso fortalecer, portanto, uma cultura de qualidade, cuja essência maior deve ser a excelência do conteúdo que chega ao cliente. Tem que estar baseada na veracidade, na diversidade, na imparcialidade e no equilíbrio. Como sugeriu o próprio diretor-presidente, é preciso sempre separar o joio do trigo e jamais ficar com o joio.

A preocupação ética deve estar presente em cada detalhe, desde a redação das manchetes, títulos, subtítulos até os temas e fotos escolhidos para todas as capas do portal. A ética deve estar no comando quando se decide que tipo de estímulo o iG vai oferecer ao seu visitante, que aparência exibir e que preço ético pagar pela audiência.’

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Mensalão mineiro, mensalão petista (2/10/2007)

‘Um leitor, que prefere não se identificar, provoca e dispara as seguintes perguntas:

‘Por que o iG não confere a mesma dimensão de cobertura ao mensalão do PSDB como conferiu ao mensalão do PT? Por que notícias favoráveis ao governo Lula não duram mais do que minutos na manchete da página inicial e as notícias neutras ou desfavoráveis ficam horas? Por que o ombudsman nunca trata desse assunto?’

Quando recebeu a primeira provocação, o ombudsman, acredite, já tinha anunciado internamente em seu escritório a intenção de tratar desse assunto. A impressão é a seguinte: uma análise rigorosa do tratamento dado pelo iG aos dois temas envolvendo desvio de verbas públicas e sua canalização para supostos esquemas de compra de apoio organizados por tucanos e petistas é impossível. Digo análise rigorosa porque ela teria que ser baseada em alguns indicadores como espaço, tempo, exposição nas manchetes e tamanho dos textos dedicados a cada caso. A ferramenta de busca do iG, porém, não consegue detectar de maneira confiável o número de referências à palavra ‘mensalão’ já feitas pelo portal. Não há, portanto, uma estatística geral para orientar. Mas é possível detectar quantas referências existem a expressões próximas, como ‘mensalão petista’ e ‘mensalão mineiro’. Isso ainda não é rigoroso, mas dá uma idéia, uma impressão da situação. No total, há no iG, 99 referências aos petistas diretamente vinculados a palavras negativas como mensalão, esquema e valerioduto. Já o PSDB é beneficiado pela expressão ‘mensalão mineiro’ ou ‘esquema mineiro’ e tem um número mais reduzido de associações de seu nome a palavras negativas.

Isso parece indicar a importação de um favorecimento aos tucanos proveniente de outros veículos, de parceiros do iG.

Se retiram a igualdade do tratamento, as expressões ‘mensalão mineiro’, ‘esquema mineiro’ e ‘mensalinho mineiro’ ferem a sensibilidade de leitores, como afirma a manifestação do leitor Antonio Sérgio de Miranda.

Diz ele:’Senhores, na condição de’mineiro’ (nasci em Uberaba, Minas Gerais) exijo que tratem deste assunto como o’Mensalão do PSDB’, pois ofendem a população honesta de Minas Gerais.Antônio Sérgio de Miranda’.

Vale lembrar que um número importante das referências explícitas aos tucanos associados a termos negativos como mensalão e esquema aparecem nos textos do ‘Conversa Afiada’ de Paulo Henrique Amorim, do Observatório da Imprensa, da revista Carta Capital e do site Congresso em Foco. Deduzido o esforço desses veículos, o balanço do iG parece ser mais tolerante com os tucanos.

Questionada a respeito, a Redação do iG manifestou-se por meio de Alessandra Blanco, diretora adjunta de Portal e Conteúdo. Escreve ela:

‘- Na visão do iG, tanto a denominação ‘mensalão petista’ quanto ‘mensalão tucano’ estão incorretas. Nos dois casos mais de um partido político está envolvido. Sendo assim, o Último Segundo optou por chamar o primeiro apenas como ‘mensalão’ e o segundo por ‘mensalão mineiro’, já que é relacionado à disputa do governo de Minas e um dois principais envolvidos, o ministro Walfrido dos Mares Guia, é do PTB.’

‘- o iG não tem preferência por qualquer partido político’

‘- o Último Segundo chegou a publicar alguns textos de agências de notícias e parceiros que faziam referência ao ‘mensalão petista’, mas não usa essa nomenclatura em títulos, manchetes ou chapéus. Três textos de um repórter do iG em Brasília chegaram a fazer referência a um’mensalão petista’ em julho do ano passado, durante os primeiros depoimentos do então deputado Roberto Jefferson.’

O ombudsman agradece a manifestação do iG. Ela reafirma a intenção de apartidarismo no noticiário.

Lembra, porém, que, como o próprio ex-governador Eduardo Azeredo já declarou, o sistema de obtenção de recursos e pagamentos não declarados beneficiou candidatos de outros estados além de Minas, inclusive a candidatura presidencial do PSDB na ocasião. Isso, além da sensibilidade mineira, seria suficiente para justificar uma mudança da linguagem usada neste caso.

Mais do que olhar o passado, é importante zelar para que no futuro o equilíbrio retorne à cobertura e o iG adote uma atitude igualmente questionadora das duas supostas fraudes e de seus autores.’