Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mario Vitor Santos

‘O especial que o iG publicou sobre Maio de 1968 apresenta um panorama de opiniões, ‘memórias’ e ‘fatos’ que tentam reconstituir o que foi aquele ano e dimensionar o seu legado. Para isso, o iG reuniu depoimentos, mais ou menos extensos e interessantes, com Zuenir Ventura, Fernando Henrique Cardoso, José Dirceu, Zé Celso Martinez Corrêa, Heloísa Buarque de Hollanda e outros.

Na cobertura, destaca-se o trabalho dos repórteres Jair Stangler e de Carolina Ribeiro Pietoso, esta a partir de Londres. Fazem uma visita aos ‘principais acontecimentos’ de 1968 e tratam, em reportagens, de expor uma avaliação sobre temas comportamentais, como a libertação sexual, e assuntos políticos, tratando das idéias que surgiram naquele ano.

O conjunto de entrevistas e reportagens traz à tona a disputa pela apropriação das narrativas dos fatos e do significado deles. Tanto as conjunto de reportagens como as opiniões dos blogueiros do iG não permitem juízos definitivos. O trabalho de edição mantém um aparente distanciamento, com simpatia pelas idéias revolucionárias atribuídas àquela geração. O único texto que dá voz a conservadores, na França e na Bélgica, ganhou título claramente ‘68’: ‘Ainda há quem diga não à revolução’.

As entrevistas com os personagens brasileiros tentam um reencontro com aqueles tempos, o que é impossível. A de Zuenir Ventura, por exemplo, teve que ser dividida em quatro partes. Juntamente com a de Heloísa Buarque de Hollanda, compõe um quadro talvez muito mais zona sul carioca, e mais intelectual, do que o movimento que gerou a passeata dos 100 mil ‘realmente’ tinha.

Os personagens atrevem-se em avaliações que jamais ousariam fazer em outras épocas. Até Zé Celso Martinez Corrêa, que desde os anos 60 persegue uma experiência artística aguda, ao seu jeito, queixa-se do cansaço atual daquela geração, empenhada em abandonar os ideais que teve.

Há, portanto, uma unidade entre as partes desse trabalho do iG. Até as audácias dos entrevistados são determinadas pelo que é moda pensar em cada momento. A julgar pelo que se lê no especial sobre Maio de 1968, ninguém hoje defende mais o comunismo soviético, que saiu de moda, nem a revolução armada, que virou anátema.

O melhor de tudo é a aparição de um vigor jornalístico ainda discreto, mas palpável. O Último Segundo consegue investir na produção de reportagens de mais alcance sobre tema relevante, estimulando a reflexão e o debate.

O passado é irrecuperável. Aquilo que convém a maio de 2008 determina as idéias dos personagens de 1968. Maio de 2008 também é o mês em que a concentração de esforços do jornalismo do iG dá sinais de que pode seguir numa direção mais clara. Resta acompanhar. E torcer por novos episódios.

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Avião: o iG acusa; Infraero responde (21/5/08)

Na correção que publicou ontem, assumindo o erro da manchete que informava a queda de um avião na zona sul de São Paulo, o iG atribuía à Infraero a culpa pelo engano. Dentre os veículos, foi o único a apontar essa fonte para a falsa notícia. Dizia o iG na errata: ‘A informação havia sido passada pela assessoria de imprensa da Infraero, que negou o fato minutos depois.’

A Infraero, porém, nega ter transmitido ou sequer confirmado a informação da queda do avião. A assessora de imprensa da empresa, Léa Cavallero, afirma: ‘Ficamos surpresos com a falta de preparo na apuração. Em nenhum momento a Infraero deu qualquer declaração ou emitiu qualquer nota confirmando a queda do avião. Muito pelo contrário. Quando os primeiros jornalistas ligaram perguntando, dissemos que não tínhamos informação. Em seguida, ligamos para São Paulo que negou o acidente. Acho que esse é um ótimo case de falta de apuração, de despreparo das pessoas que checaram a notícia. Foi um caso da imprensa apurando a imprensa.’

Em sua errata, o portal concorrente Uol comunica que, ao fazer uma checagem da mesma informação, a Infraero desmentira a informação. Não há menção ao fato de que a Infraero tenha confirmado ao Uol. Será que a Infraero confirmou então apenas para o iG e desmentiu para o Uol? O iG, em sua ‘correção’ (leia aqui), não menciona, como origem da informação, a TV Globonews, que chegou a levar a CNN a dar o mesmo ‘furo’.

A Redação do iG, porém, reafirma ter sido levada ao erro pela assessoria da Infraero e dá detalhes. Diz a editora Gabriela Dobner: ‘Quem ligou para a Infraero foi a nossa editora Camila Nascimento. Ela ligou para o telefone da assessoria de imprensa da Infraero e conversou com a assessora Roseane, que informou à nossa editora que se tratava da queda de um avião, mas que eles não tinham outros detalhes, pois trabalhavam para ‘recolher todas informações’. Questionada se era um avião de pequeno ou grande porte, se era da empresa Pantanal, como estava sendo noticiado, a assessora disse que essas informações ela não tinha, mas estava trabalhando para ‘recolher as informações’. Questionada mais uma vez se seria um avião, a assessora disse que ‘sim’, mas não tinha mais detalhes. Ela pediu o telefone da Redação e disse que ligaria quando tivesse mais informações. Ligamos, minutos depois, e ao conversar com a assessora Ana, que se apresentou como coordenadora da equipe, a informação foi desmentida para a mesma jornalista. Ela chamou a Roseane, que disse não ter dito que havia dado esta informação. A conversa não foi gravada, não sendo possível reproduzi-la.’

Há diversos aspectos, portanto, que ainda precisam ser examinados, para tentar esclarecer o caso. Se o iG está certo, não pode mais se basear na Infraero. Se está errado, faltando com a verdade, deve publicar a correção da correção?

O mais importante deles já está evidente: a apuração foi precária, a confirmação foi mambembe, os critérios para que a notícia chegue ao leitor foram frouxos. O iG precisa submetê-los a uma completa revisão para garantir que entrega aos internautas notícias dignas do nome.

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Correção (20/5/08)

A Redação do iG publicou correção sobre o erro do avião, apontado no post abaixo.

Diz a retificação do iG:

‘Correção: incêndio atinge tapeçaria na zona sul de São Paulo’

‘Diferentemente do que informou o Último Segundo, o incêndio que atinge uma tapeçaria na zona sul de São Paulo não foi provocado por uma queda de avião.’

‘A informação havia sido passada pela assessoria de imprensa da Infraero, que negou o fato minutos depois.’

A falsa queda do avião

O iG acaba de anunciar erradamente a queda de um avião em bairro residencial de São Paulo. A notícia (‘Avião cai em bairro residencial de São Paulo’) não se confirmou.

O texto era lido a partir da manchete da capa do iG. Foi colocado como um link da manchete que anunciava um incêndio na capital. Minutos depois da notícia errada do desastre, mais grave ainda numa cidade já traumatizada por acidentes desse tipo nas imediações do aeroporto de Congonhas, a nota foi retirada do ar.

A manchete passou a anunciar um incêndio numa fábrica de colchões. O iG precipitou-se e errou. Deve ter confiado em quem não deveria. Atribuiu o erro à Infraero. Certamente não verificou a informação antes de levá-la ao ar. Precisa avaliar isso, e corrigir com o mesmo destaque dado ao falso acidente de avião. Além disso, precisa agora acompanhar correta e cautelosamente o incêndio que de fato parece ter existido.

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A fala de Mantega (19/5/08)

Merece elogios a entrevista com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, realizada pelo jornalista José Paulo Kupfer, e publicada ontem e hoje pelo iG. A conversa dá espaço para que o ministro, sempre submetido a severa vigilância pelo coro de especialistas, se estenda um pouco mais na sua avaliação do desempenho da economia brasileira.

Vale ressaltar de positivo, entre outros pontos:

1. as considerações do ministro a respeito da inflação, que está sob controle, diz ele;

2. sua visão otimista sobre os déficits em conta corrente;

3. o recado de Mantega contra o possível ‘exagero na dose’ de aumento de juros por parte do Banco Central.

Embora trate do assunto, a entrevista não explora suficientemente, a meu ver, as críticas que se fazem ao chamado fundo soberano anunciado por Mantega. Seria necessário confrontar o ministro com os argumentos de que esse fundo, ao contrário dos outros existentes no mundo, não seria feito com recursos oriundos do superávit das balança comercial (que está rapidamente sendo consumido), de que seria captado a taxas muito altas no mercado interno e de que seriam recursos públicos usados para financiar empresas privadas no exterior.

Apesar disso, Kupfer e o iG fazem bom jornalismo, com mais uma entrevista exclusiva de uma autoridade do governo federal.’