Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mario Vitor Santos

‘O iG traz hoje na capa um destaque para o show de João Gilberto ocorrido ontem em São Paulo. A chamada remete para texto no iG Música, com informações corretas e objetivas sobre o show. Seria melhor ainda se houvesse remissões para outros locais veiculados pelo próprio iG que tembém tivessem coberto o show. Aí surge um problema. Parece faltar uma edição mais abrangente, que reúna tudo o que é publicado sobre certo evento ou assunto e que está disperso nos vários blogs e sites do iG.

Mas o iG não tem uma ferramenta de busca? Sim, há uma ferramenta geral, na capa, mas os resultados apresentados não aparecem de maneira clara e fácil para o leitor. Como se pode ver abaixo:

O leitor tem que descobrir que o que lhe interessa está no lugar chamado ´Último Segundo´, que pode ser muito conhecido por internautas mais freqëntes, mas não é tão fácil para a maioria. As palvras que surgem no trecho oferecido nesta página são entrecortadas, enigmáticas, pouco clara.

Quem procura João Gilberto tem outras saídas mais óbvias, porém enganosas. O texto após a marca do Último Segundo traz a notícia certa, mas isso não fica claro para o leitor. O que deveria surgir logo nesse primeiro índice deveria ser algo que fizesse sentido, como o título da reportagem, pois aí o leitor saberia do que se trata e poderia chegar rapidamente ao que deseja. Esse é o segredo que faz que os grandes sites sejam tão visitados, a rapidez e facilidade da navegação e a certeza de obtenção de resultados corretos.

Se o leitor interessado em saber como foi o show de ontem fizer a mesma pesquisa no Google chegará logo de cara ao que deseja. O Google leva-o a uma tela bem clara, com várias entradas, todas completas, a primera delas sendo:

Ou seja, o Google chama para títulos de reportagens, adianta a primeira linha de um texto, informa o número de artigos relacionados e dá outras informações. Não há nada antes do jornalismo e da informação. Não há confusão, nem interferência de mensagens comerciais, que são necessárias, mas podem cumprir efeito diverso do desejado.

Como em tantos outros casos, o melhor é entregar logo ao cliente o que ele deseja. Se ele tiver que percorrer caminhos desnecessários e não conseguir se orientar rápida e facilmente, não retorna. Ainda mais com concorrência tão eficiente por perto.

Seria bom que a ferramenta de busca do iG desse como resultado à pesquisa, por exemplo, ´João Gilberto` o título das reportagens relacionadas à busca, por ordem de data mais recente, a partir do show do cantor ontem. E que também indexasse o que há sobre o assunto nos blogs do próprio iG. Essa seria uma boa maneira de manter o leitor conectado ao iG, sem que ele se sinta desorientado e desinformado.

O iG tem freqüentemente as informações mais importantes no Último Segundo, nos sites e blogs. Precisa reunir e apresentar o que tem, de forma completa, direta e simples, a quem procura. Sem isso, desperdiçam-se muito tempo e esforço de jornalistas, blogueiros e leitores. Só que estes últimos, ao longo do tempo, podem não retornar.

Força na reportagem (15/8/08)

A reportagem de Mauricio Stycer sobre um dia na vida de um marronzinho é um gol do iG. O novo repórter especial fez também as fotos, o que dá ao conjunto uma qualidade a mais. Nas fotos, faltam legendas dizendo onde ele estava em cada situação. O iG fez bem em chamar na capa, mas deveria tê-lo feito de forma que deixasse claro que é um material diferenciado, feito por um repórter que ainda está estreando.

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As fotos e as legendas (14/8/08)

O iG tem deixado de publicar legendas de várias fotos que destaca em sua capa e nas editorias do Último Segundo. Abaixo das imagens, há em geral somente os créditos para agências – raramente para os fotógrafos – e os links para a notícia. Estes, às vezes servem como legenda, muitas vezes não. As principais agências do mundo enviam, além das imagens, legendas detalhadas, com nomes de personagens e circunstâncias do fato, informações imprescindíveis para o entendimento da foto.

Como todos sabem, informações visuais são muito atraentes. Pesquisas mostram que as fotos são o elemento de maior apelo em qualquer conjunto. O olhar do leitor é atraído pela foto antes ainda do que pelos outros elementos textuais, como títulos e textos. As fotos geram curiosidade, que é preciso satisfazer. Com as legendas, fazem um todo jornalístico único, que deve ser cuidado com muito carinho. Um veículo pode ser avaliado pela qualidade e a inteligência de suas legendas.

A importância das legendas

Redigir legendas de fotos exige concisão e clareza. Elas devem ser completas, funcionando como um conjunto acabado com a foto. O ideal é que o leitor veja a foto, leia a legenda e, se quiser, vá se aprofundar no assunto ou mudar de tema, mas satisfeito com o que recebeu.

Não é o caso de uma das fotos da galeria de hoje em que a legenda apresenta o seguinte texto: ´Paquistanês participa das comemorações do 61º aniversário do fim da dependência inglesa do país´. A descrição, como se vê, confunde o leitor.

A tradução da legenda original da foto, feita por Shakil Adil, da AP (Associated Press), é diferente e bem mais completa: ´Um jovem paquistanês, com o rosto pintado com as cores da bandeira do país, participa da cerimônia no mausoléu do fundador do Paquistão, Mohammad Ali Jinnah, em Karachi. O país comemora o 61º aniversário de sua independência da Grã-Bretanha´.

Além de informar sem confundir, a legenda original traz detalhes essenciais ao entendimento.

Outra foto é impressionante e foi corretamente destacada na capa do iG e na galeria sobre o conflito entre Rússia e Geórgia. Ela foi publicada com a seguinte legenda: ´Mulher pede socorro após ser ferida em ataque aéreo em Gori, na Geórgia` – e crédito somente para a agência Reuters, sem o nome do fotógrafo David Mdzinarishvili – , enquanto o texto original traduzido diz o seguinte:

´Uma mulher ferida grita na cidade de Gori, 80 km de Tbilisi. Um avião russo jogou uma bomba em um bloco de apartamentos no sábado, matando pelo menos 5 pessoas, segundo um repórter da Reuters. A bomba atingiu um prédio de cinco andares em Gori próximo à conflituosa província da Ossétia do Sul onde aviões russos deram prosseguimento ao ataque contra alvos militares ao redor da cidade´.

As agências enviam legendas extensas para que os redatores nos diversos veículos escolham o aspecto que desejam destacar. Porque nem sempre basta descrever sumariamente a cena fotografada. A emoção atrai a curiosidade.

No caso, houve um ataque aéreo a uma base militar. As bombas atingiram um bloco de apartamentos. Com o texto incompleto, o internauta perde esse dado.

Jornalismo é fotografia

O Último Segundo usa poucas fotos em suas reportagens. Quando as fotos são editadas junto ao corpo do texto, vêm sem legenda, na maioria das vezes. Quando são publicadas na lateral da notícia, a legenda é pobre e a foto é pequena.

Outro recurso pouco usado são as fotos-legenda, ou textos-legenda. São espécies de legendas grandes que explicam a foto e contam toda a história em três ou quatro linhas.

Muitas vezes, a imagem é a única notícia. O que interessa é o enfoque. Assim, pela qualidade da foto ou da informação, a foto deve merecer tanto destaque – ou mais – do que um longo texto.

O fotojornalismo é das áreas mais nobres, e tem tudo ver com a internet. O iG deveria priorizá-lo, deveria destinar recursos, e cuidar editorialmente, inclusive alterando os projetos gráficos e os formatos de suas páginas para que as fotos sejam bem aproveitadas e incluam legendas. Deveria especializar, criar uma editoria ou uma área de edição fotográfica, pois o recurso é importante demais para ser ignoradas.

Para pior ou melhor, o que se faz com as fotos tem impacto grande sobre a qualidade do informação e da experiência do internauta em seu contato com o iG.

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Internauta defende o iG e contesta ombusman (13/8/08)

Recebi manifestação do leitor ´Daniel` afirmando que o iG tem toda a razão de qualificar como histórico o feito da judoca Ketleyn Quadros e de destacar o tema repetidamente dessa maneira na home page. Diz Daniel:

´Se pela primeira vez em mais de 100 anos de jogos olímpicos uma brasileira que ganha uma medalha em um esporte individual não é um fato histórico, o que seria, meu caro?`

Agradeço a manifestação do internauta e aceito a crítica.

Admito que exagere ou não me faça claro, e me penitencio se minhas opiniões dão margem a incompreensões ou causem prejuízo a quem quer que seja. Minha função tem o papel de estabelecer um ponto de vista diverso, muitas vezes discordante. Não sou o dono da verdade. Assim como me dedico a procurar apontar falhas, agradeço se as minhas também forem objeto de questionamentos e respostas.

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Uma cabeça diferente (12/8/08)

O blog do Flavio Gomes é um grande acerto da cobertura das Olimpíadas. O iG fez bem ao escalá-lo e também ao dar destaque a ele na capa do noticiário. Gomes segue a recomendação do escritor G.K. Chesterton. Cobre esportes como se fosse digamos um observador estranho num desfile de moda, uma peça de teatro ou um visitante a uma terra estrangeira.

Jamais deixa a surpresa de lado, está sempre reagindo aos pequenos detalhes que os jornalistas em geral negligenciamos. Isso é temperado por espontâneo humor, que, como dizia Oswald de Andrade, é a prova dos nove.

Fazendo história – exagero

A cobertura dos Jogos Olímpicos é sempre superestimada, e isso tem a ver com o domínio da televisão, que vende grandes pacotes publicitários, e com o amor passivo dos brasileiros pelos esportes. Alguém já fez um cálculo de número de jornalistas por medalha obtida por país e o Brasil ganhava longe.

É a época do domínio da cultura esportiva e da televisão, que inunda todos os outros canais. Talvez a área culturalmente mais atrasada e cheia de vícios, o ´jornalismo esportivo` abandona a atitude distanciada e informativa enquanto se traveste de chefe de torcida e em cada situação de sucesso dos atletas brasileiros dispara clichês. Destes, o mais comum é o de que fulano ou sicrana ´fez história´. É um desprestígio para a história que é feita nesses momentos, na boca dos cronistas de TV, herdeiros do provincianismo muitas vezes pitoresco da galera do rádio.

A audiência deve ser muito boa, pois venderam-se pacotes publicitários com cotas de inserções e, por isso, a cobertura recebe milhares de horas cativas na televisão. Mas, em geral, os jornalistas entendem pouco ou nada do esporte que narram e comentam. Aproveitam pouco dos conhecimentos dos especialistas e ex-atletas das modalidades, que parecem proibidos de ir mais fundo nas análises.

No handebol, badminton e hóquei de grama usam a terminologia do futebol. São incapazes de observar as situações táticas, mesmo no futebol, terra de quase todos os jornalistas de esportes, e tema que julgam dominar. Há, sem dúvida, muita informação oficial, leitura de nomes e currículos, datas de nascimento, mas pouca interpretação.

Raros conseguem ´ler` o que acontece durante as competições. São registros que se esgotam em si, não fazem jus a modalidades que envolvem mais do que aquilo que é descrito apenas como ´raça´, ´melhorou´, ou ´piorou.` Os atletas a toda hora ´fazem história´, mas o leitor fica sem saber como a história se fez.

Fazendo história – só esportes

O leitor quer atingir a capa do iG, mas sem prévio anúncio, a home não abre direto. O leitor cai direto no… noticiário da Olimpíada. Observando com atenção esse desvio acontece durante as competições que envolvem atletas do Brasil, coisa que o iG não comunicou aos leitores.

Há também outras seções, mas as reportagens do noticiário geral foram eliminadas. Sumiram notícias relevantes, como as eleições na Bolívia, os indicadores da situação econômica brasileira, o que envolve desemprego, balança comercial e desempenho das bolsas.

O iG foi o único grande site a tomar decisão tão radical. Sumiu também a guerra no Cáucaso, entre Rússia e Geórgia, pela pequena Ossétia do Sul, o que já se tornou um grande desastre humanitário.

O leitor descobre seu caminho para o que de fato deseja, a velha página de início do iG, e aí o que encontra na manchete? Olimpíada.

Fazendo história – erros e acertos

Por falar em Ossétia do Sul, o iG publicou ontem excelente reportagem de Helene Cooper, do New York Times, sobre os aspectos diplomáticos do conflito no contexto das disputas de influência entre EUA e Rússia.

O jornal tem dois correspondentes na Geórgia, dois na Rússia e Cooper, em Washington, escrevendo sobre a guerra. As informações são detalhadas e colocam o conflito em perspectiva histórica, passada e atual. No pano de fundo está o jogo de forças entre EUA e Rússia, o apoio americano à recente separação da Sérvia da região do Kosovo, e a posição russa num possível confronto dos EUA contra o Irã. Coisas complexas e importantes. O iG fez muito bem ao publicar esse texto, deveria destacá-lo mais.

Infelizmente, porém, ele padece dos mesmos erros primários que já têm sido aqui apontados há meses: incorreções de tradução e de português prejudicam a qualidade de um material originalmente nobre. Na reportagem de hoje, ´iminentes` vira ´eminentes´, ´chief executive` vira ´chefe executivo´, funcionários (oficials, em inglês) viram ´oficiais` (várias vezes) e ´deveríamos´aparece como ´deviríamos´.

Fazendo história – guerra fria ou quente?

Falta fazer e responder muitas questões sobre este conflito: ficará restrito à Ossétia do Sul? Vai se generalizar para Geórgia e Abkázia? Os EUA vão deixar aos russos o domínio daquela região? Há chance de um longo confronto indireto entre as duas potências? Esse confronto pode ser direto? Quais as posições de cada personagem mais relevante dentro de cada país?

[Este post não foi publicado ontem em função dos problemas na ferramenta de blogs do iG. É publicado hoje, mas com limitações técnicas.]’