Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mario Vitor Santos

‘O ombudsman recebeu e agradece a resposta da editora-chefe do Último Segundo, Mariana Castro, à nota publicada aqui sobre manchete baseada na opinião do presidente do Ibope sobre o resultado das eleições:

‘A manchete do iG sobre a declaração do presidente do Ibope não significa de modo algum opção eleitoral. Surpreende que, neste caso, o ombudsman não diferencie opinião de furo jornalístico. As declarações de Carlos Augusto Montenegro, autoridade em análise política, são, por si só, notícia. Como Ricardo Kotscho destaca no blog, não se trata de um palpiteiro qualquer. Montenegro está há 34 anos à frente do maior instituto de pesquisa do País. As informações publicadas por Kotscho e destacadas pelo iG são exclusivas e relevantes para o eleitor.

Em relação ao tempo em que a manchete ficou no ar, o ombudsman exagera. O destaque principal entrou às 17h15 e saiu às 20h56.’

A rigor, a essência da opinião é do leitor. Esse ombudsman só pode apoiá-la. O leitor Helio Figueiredo criticou o iG por basear-se em ‘achômetro’ ao publicar com tanto destaque e por tanto tempo o palpite de Montenegro. O iG acha que foi furo, o leitor acha que o iG tomou lado ou partido nessas eleições.

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Otimismo amanhã? (2/10/08)

Os mercados de ações tiveram hoje mais um dia terrível, que se segue a um dia de grande aumento do preço das ações, que se seguiu a outro ruim e assim para trás. Os jornalistas, mais uma vez, parecemos acompanhar os acontecimentos como Alice na ponta do rabo do furacão. Sôfregos, a cada hora temos uma opinião e saímos repetindo aquilo que alguém do mercado sopra nos nossos ouvidos. Se nos dizem para ficarmos otimistas, sorrimos. No dia seguinte, caímos em surpreendente depressão.

Ontem, dizíamos que a bolsa subiu porque o pacote ia ser aprovado. Hoje, dizem que caiu porque o pacote foi aprovado, mas não é bom, ou não vai ser aprovado na Câmara, ou não vai funcionar, ou porque já é tarde, ou porque vão surgir novos indicadores que Deus me livre.

A cada dia mudam as justificativas e não se confirmam as previsões em qualquer sentido. A crise de crédito, de confiança, instalou-se no jornalismo econômico, que funciona como as desmoralizadas agências de classificação de risco, mal-informadas, atrasadas, comprometidas.

Seria preciso refazer as fontes, questionar as previsões e as razões apresentadas para o comportamento dos mercados. Essas justificativas são de duas uma: ou ineptas ou interessadas.

É hora também de mudar o foco, das bolsas de valores para a economia real. Há muito a contar sobre o que está acontecendo e sobre o que vem por aí na economia real.

Antes disso, entretanto, há talvez o otimismo de amanhã, se inventarem que são boas as chances de a Câmara americana afinal aprovar o megapacote. Aí, na segunda, talvez caia tudo de novo, sabe-se lá a razão. Algo vai acontecer, mas só saberemos quando já tiver ocorrido. Está na hora de saber como estão agindo os grandes jogadores que têm condição de manipular as cotações. Quem está ganhando com a ‘crise’? Não tem ninguém aumentando muito seu capital nessas ocasiões? Isso está muito estranho. Se os jornalistas forem sempre nas mesmas fontes, vão obter esses diagnósticos adormecidos, feitos na medida para dar apenas um lado da verdade. O que estão fazendo os grandes aplicadores, os bancos, os milionários, os fundos de pensão? Como estão se defendendo? Já se sabe, por exemplo, que o Goldman Sachs está ficando ainda mais rico. E no Brasil?

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Internauta ataca palpite infeliz no iG (1/10/08)

Foi de fato muito estranha a permanência da manchete do iG ao longo de toda a tarde e boa parte da noite de ontem para a manchete ‘Para Montenegro, dá Kassab agora e Serra em 2010?. Trata-se de um palpite do diretor do Ibope Carlos Augusto Montenegro e veiculado pelo blog do jornalista Ricardo Kotscho. Confira a mensagem precisa do leitor Helio M. Figueiredo Jr.:

‘Esta previsão do Montenegro, feita no mais puro ‘achomêtro’, sem nenhum rigor científico, sobretudo no que se refere a 2010, merecer tamanho destaque, a ponto de ficar horas a fio como manchete principal da capa do iG, às vésperas das eleições, cheira muito mal. É um descarado ato de campanha eleitoral com o intuito óbvio de induzir o voto, que desequilibra o noticiário político-eleitoral. Coisa muito diferente seria apresentar a opinião de 3 dirigentes de institutos de pesquisa que tivessem opiniões distintas. Ajudaria a reflexão sobre o cenário político. Mas dar tamanho destaque a uma única opinião, em nítido favorecimento a um dos candidatos à prefeitura, francamente….Se o iG tem lado nas próximas eleições, que explicite isto publicamente. Seria uma atitude respeitável e muito mais honesta para com os internautas.’

Este ombudsman achou o evento tão deslocado que fotografou a capa do iG:

Duas coisas:

1) o iG deveria explicar manchete tão inusitada por tanto tempo, sendo que o palpite não está objetivamente apoiado em nenhuma pesquisa específica, O pior é que a manchete vem às vésperas de uma eleição. Significa algum tipo de opção eleitoral?

2) Será que alguém vai se lembrar de cobrar da bola de cristal de Montenegro daqui a dois anos, na eleição presidencial, caso Serra não seja o eleito?

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Dez coisas que o jornalismo deveria fazer nesta crise (30/9/08)

1. Traduzir a economês para o português. A audiência para o assunto está subindo e os espectadores simplesmente não entendem do assunto. Implica explicar decentemente termos como ‘Nasdaq’, ‘Dow Jones’, ‘subprime’ e ‘credit-default swaps’, por exemplo.

2. Responder às perguntas básicas: como isso foi acontecer?

3. O que está acontecendo agora?

4. Como sair da crise?

5. Preparar-se para coberturas em horários incomuns, como domingo à noite.

6. Perceber que o mundo realmente ficou global e não fazem tanto sentido as noções de horário nobre, dia e noite etc.

7. Notar que nesses momentos a primeira pergunta do leitor é ‘meu dinheiro está seguro?’ e isso pode levar à pergunta que nenhum jornalista faz antes a nenhum banqueiro ‘seu banco tem fundos para todos os seus compromissos’?

8. Mudar a mentalidade sobre a cobertura econômica em grandes portais da internet. A economia agora pode ter um tom de talk-show, como no caso Isabella, mas sem seus erros.

9. Entender que essa crise não é apenas nem principalmente sobre uma porção de números chatos e homens carecas histéricos em telefones na bolsa de valores, mas sobre ganância e medo.

10. Dar cara exposição e projeção aos especialistas econômicos do iG. Construir uma ligação. A cobertura tem que ser mais personalizada.

O iG tem feito avanços neste sentido, como, por exemplo, na matéria ‘Entenda o que acontece com o fracasso do pacote’. Mas é preciso, também, esforço estrutural.

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O jornalismo seguiu a Casa Branca e perdeu mais uma vez (29/9/08)

1) Mais uma vez, a mídia internacional seguiu a americana (dependente de Geoge W. Bush, ainda a esta altura) e errou ao apostar a maioria de suas fichas na aprovação do pacote. As versões eram de que havia ‘um setor’, ‘uma minoria’ da bancada republicana ‘resistindo’ ao pacote. Era muito mais gente. O lobby oficial levou na conversa. Faltou acreditar na apuração independente.

2) o iG marcou pontos hoje ao montar logo um chat com o colunista econômico José Paulo Kupfer.

3) Pelo jeito, a crise vai demorar e será preciso que o iG fortaleça sua cobertura econômica para dar conta do que vem por aí.

4) Aliás, o que vem mesmo por aí?

Os limites do iG

Em qualquer horário, do dia ou da noite, no fim ou durante a semana, o iG deveria procurar evitar o mau gosto. A publicidade às vezes interfere, às vezes é divertida e presta um serviço. Certas coisas, porém, deveriam ser evitadas. O equilíbrio, a contenção e a qualidade são bons companheiros. É preciso definir até os limites das concessões aos anunciantes.

O iG precisa estabelecer o que acha correto ou não nesse terreno. Poderia debater o tema com seu público. Este ombudsman faz uma proposta: o iG deveria ser um veículo voltado para toda a família, que está atento e respeita diversas sensibilidades.’