Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Muita política, informação de menos

Há mais de um mês, o Washington Post vem publicando matérias sobre a reforma no sistema de saúde nos EUA quase que diariamente, em meio ao acalorado debate que se formou no país sobre o tema. Por isso, diz o ombudsman Andrew Alexander, em sua coluna de domingo [30/8/09], é surpreendente que muitos leitores tenham escrito ao jornal para perguntar por que, até agora, ele não deu explicações claras sobre o assunto. ‘A cobertura parece uma guerra de ataques políticos. Como eu gostaria de ter mais jornalismo sobre isso’, reclamou o leitor Bill Byrd.

Na opinião de Alexander, o diário forneceu, sim, dados relevantes que envolvem a polêmica que ameaça a popularidade do presidente Barack Obama: revelou que houve grandes contribuições da indústria da saúde para membros-chave do Congresso e apontou quem são as figuras públicas com investimentos pessoais em empresas que poderiam ser afetadas pelo projeto de lei ligados à reforma, entre outros. Ainda assim, muitos leitores se queixaram que as matérias se concentram demais em questões políticas e legislativas. Eles alegam que, apesar de isso ser importante, gostariam que o jornal publicasse mais ‘jornalismo explicativo’.

Pesquisas

Na análise que fez das 80 matérias sobre a reforma do sistema de saúde, publicadas desde dia 1º de julho, o ombudsman concluiu que dezenas tiveram enfoque político. O mesmo resultado foi encontrado pelo Project for Excellence in Journalism, da entidade Pew Research Center: 72% das matérias foram sobre política ou legislação. A pesquisa da instituição revelou também que 45% dos americanos entrevistados consideram este o assunto mais relevante do momento. Mas, quase metade dos entrevistados por uma outra pesquisa feita pela Fundação Kaiser Family, organização privada sem fins lucrativos voltada ao setor de saúde, disse estar confusa sobre as mudanças defendidas pelo governo Obama.

Editores do Post enfrentam um desafio ao servir a uma ampla audiência. ‘Tentamos estabelecer um equilíbrio’, diz Frances Stead Sellers, que monitora a cobertura de saúde no diário. O site fez um bom trabalho, com um blog especial sobre a reforma, disponibilizando infográficos explicativos. ‘Vamos continuar a procurar mais maneiras de tornar este assunto acessível aos leitores’.

No entanto, a maior parte dos que entraram em contato com o ombudsman são cidadãos idosos, muitos dos quais só têm acesso à edição impressa do jornal. Segundo a pesquisa da Kaiser Family, os maiores de 65 anos são os mais confusos sobre o tema. Por isso, Alexander sugere soluções básicas na versão em papel, como explicações de alguns termos, seção de perguntas e respostas e gráficos para decifrar informações complicadas.