Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Nelson de Sá

‘Enquanto CUT e Força Sindical faziam ‘festas’ no 1º de maio, Lula foi à missa em São Bernardo do Campo -e a cobertura foi atrás.

Ouviu do bispo, como mostraram canais e rádios de notícias, sermão contra o desemprego e a ‘falta de um salário justo’.

Até falou do desemprego, mas não do salário mínimo. Ao vivo na Globo News e demais, elogiou a Igreja Católica -apesar de, segundo ‘O Globo’, seu amigo Frei Betto ter sido proibido pelo bispo de falar.

Segundo a Folha On Line, a missa do Dia do Trabalho é realizada desde 1980:

– Nasceu como protesto contra a prisão de Lula pelas greves.

Lula foge do assunto, mas a revista ‘Época’ afirma que ele ‘quase chorou no final da reunião que decidiu pelo salário mínimo de R$ 260’.

Lula quer falar de outra coisa, qualquer coisa boa. Foi ao Agrishow de Ribeirão Preto e em discurso, segundo o ‘Valor’, ‘não falou do mínimo, o assunto foi política internacional’.

O discurso repercutiu, no exterior. ‘Forbes’ e outras reproduziram despacho da agência Reuters, destacando em título que Lula ‘conclama o mundo contra os subsídios’:

– Fortalecido pela vitória na batalha contra os subsídios dos EUA ao algodão, Lula disse que nações como China, Rússia e Índia agora vêem que podem forçar a União Européia e os Estados Unidos a cortar os subsídios agrícolas.

‘New York Times’ e outros jornais americanos reproduziram despacho da agência Associated Press, na mesma linha. Outras publicações usaram a agência France Presse.

E o francês ‘Le Monde’, com o atraso costumeiro, só noticiou na sexta que ‘o Brasil ganhou sua primeira grande batalha na guerra que os países do Sul travam contra os subsídios dos países do Norte’.

Lula só quer boas notícias. Segundo ‘O Globo’, ele ‘está eufórico’ com o canal internacional que vai juntar Radiobrás e as TVs Senado, Câmara e Justiça. Disse o presidente:

– Vamos entrar no Canadá, no México e nos Estados Unidos. Vamos mostrar ao mundo que o Brasil não é um país só de violência.

Ou de salário ínfimo.

DESONRA 1

O programa ‘Nightline’, da ABC, pôs no ar imagens dos 721 americanos mortos no Iraque (abaixo), ao longo de 40 minutos, e levou a mídia pró-Bush a uma reação violenta. Os ataques, antes mesmo do programa, fizeram o âncora Ted Koppel dizer no início das imagens que seu objetivo era ‘elevar os mortos acima da política’.

Mas as críticas não pararam. Ontem, a Fox News de Rupert Murdoch voltou a questionar o ‘Nightline’. Murdoch já havia se recusado a dar as fotos da tortura de iraquianos por americanos, em seu jornal ‘New York Post’, alegando que a ação de ‘um punhado de soldados’ não refletia o ‘bom trabalho’ dos demais.

Mas foi a atitude do grupo Sinclair, que proibiu oito de suas repetidoras da ABC de veicular o ‘Nightline’, que chocou mais. O grupo alegou que era ação política ‘disfarçada de conteúdo jornalístico’.

Mas até um republicano, John McCain, se revoltou contra o Sinclair, em carta. E o ‘New York Times’ deu editorial criticando nominalmente o grupo e destacando que a ‘censura’ era uma ‘desonra’ para os soldados.

DESONRA 2

Enquanto isso, nos canais árabes Al Jazira e Al Arábia, as fotos dos iraquianos torturados por americanos tinham amplo destaque -em especial quanto às ‘práticas imorais’, no dizer da Al Jazira. Uma das cenas mostradas trazia uma militar americana rindo e apontando a virilha de um iraquiano nu. Outra, iraquianos nus amontoados pelos soldados como se estivessem fazendo sexo.

Os árabes vêm aí

Eufórico com as vitórias no exterior, Lula vem se gabando, segundo ‘O Globo’, que em dezembro o Brasil vai sediar um encontro de presidentes, reis etc. dos países árabes. Segundo Lula, ‘será a maior reunião fora do mundo árabe na história’.

À luta

Os empresários brasileiros, ao que parece, aprenderam com o êxito da agricultura e vão à luta -sem chorar ao Estado.

A revista ‘Veja’ noticia que a Fiesp monta ‘uma cooperativa de crédito para emprestar dinheiro barato aos associados’.

E a ‘Forbes’ diz que a CNI se uniu às congêneres da Ásia e até dos EUA para enviar carta aos ‘líderes políticos’ do mundo, em favor da volta das negociações comerciais globais.

Como nunca

E o empresário Antônio Ermírio de Moraes anunciou que vai investir US$ 370 milhões em alumínio para exportação:

– Nós estamos investindo como nunca investimos antes.

Missão

O envolvimento crescente do Brasil na política mundial traz responsabilidades assim. A ONU decidiu e o ‘Washington Post’ e outros noticiaram o envio de uma missão militar ao Haiti, ‘liderada pelo Brasil’, para substituir a dos EUA.

TSE e o milhão

‘Veja’ e ‘Época’ trazem reportagens críticas à decisão do Tribunal Superior Eleitoral de absolver o governador Joaquim Roriz da acusação de desviar R$ 40 milhões de verbas públicas para sua última campanha.

O título de ‘Veja’ ironizou o contraste com a condenação e cassação do senador João Capiberibe pelo mesmo TSE:

– O tostão e o milhão.

Palocci fala

Lula aceitou os R$ 260 de Antonio Palocci para o salário mínimo -e acertou com Ratinho, segundo a ‘Veja’, uma entrevista com o ministro. Palocci já estava anteontem na CBN, argumentando com o salário-família em favor do novo mínimo.’

***

‘Mr. da Silva’, copyright Folha de S. Paulo, 30/04/04

‘Pouco depois das 14h acabou a novela. O site do ‘Valor, a Folha On Line, a Globo Online entraram todos com títulos curtos e a mesma informação de que o novo salário mínimo seria de R$ 260.

Não demorou e as duas centrais, CUT e Força Sindical, surgiram na CBN e por todo lado chamando o valor de ‘lastimável’ e ‘vergonhoso’.

Mas não diriam outra coisa, às vésperas de suas grandes ‘festas’ do 1º de maio em São Paulo -que estão sendo financiadas por multinacionais, como noticiou a Folha e reproduziram jornais do exterior.

Melhor ficar com a pronta reação de José Simão, no UOL. Ele abriu uma enquete para saber ‘o que você vai fazer com o aumento brutal do salário ínfimo’. Entre as alternativas:

– Vou cortar o cabelo na rodoviária.

– Aplicar tudo em gado: comprar meio quilo de bife.

– Aplicar no Rabobank!

O dia começou com reportagem do ‘New York Times’, sob o título ‘Presidente brasileiro pressionado a gastar mais’. E abrindo o texto:

– Mr. da Silva, ex-líder sindical cuja transformação de esquerdista para fiel do livre mercado fez dele um favorito em Wall Street, passou o último mês às voltas com demandas para elevar o salário mínimo.

O problema é que ‘Mr. da Silva’ agora estaria ‘dando sinais de ceder sob a pressão’. Horas depois e também a ‘Forbes’, em seu site, dizia:

– A tumultuosa relação do Brasil com Wall Street está sendo testada novamente, com investidores temerosos de que o descontentamento popular esteja enfraquecendo a decisão do governo de conter gastos.

Mas já era pós-divulgação dos R$ 260 e a revista concedeu:

– O governo satisfez pelo menos uma das preocupações imediatas de Wall Street, mantendo uma marcha controversa no salário mínimo.

DO BEM

Estrela do Agrishow em Ribeirão Preto, assunto do Roda Viva na Cultura, estatal que tem atenção prioritária de Lula, segundo o ‘Valor’ de ontem. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) está na linha de frente do Brasil que está dando certo.

Mais importante, está na linha de frente da corrida pela biotecnologia. Mais precisamente: está desenvolvendo uma soja transgênica nacional, em contraposição à da Monsanto. Na brincadeira ouvida no Roda Viva, a Embrapa desenvolve ‘a soja transgênica do bem’, contra a ‘do mal’ das multinacionais.

Segundo Alexandre Garcia, da Globo, que prioriza regularmente a Embrapa, ela deve lançar quatro variedades ‘do bem’ em outubro. Há pouco, bastou a empresa detalhar uma delas -e a notícia foi parar até no jornal paraguaio ‘Ultima Hora’.

Feridas abertas

Chile e Argentina voltaram ao confronto ruidoso, por conta da crise de energia -e do corte do repasse argentino ao vizinho.

O chileno ‘El Mercurio’ publicou editorial questionando o ‘desprezo dos governantes vizinhos’ pelos acordos, só ‘para manter frágeis popularidades’.

O argentino ‘La Nacion’ publicou artigo constatando que ‘se aprofundaram as feridas com o Chile’ e que ‘nunca desde a redemocratização a relação foi tão dramaticamente tensa’.

Isso, nos jornais sérios. Nos populares, é uma gritaria só.

Chile e os EUA

O espanhol ‘El País’ diz que crise energética ‘ressuscita ódios’. O ‘New York Times’, em texto reproduzido pelo ‘El Mercurio’, vai além da energia:

– O recente acordo de livre comércio do Chile com os EUA reacendeu um debate angustiante sobre o que é ser latino-americano e se o Chile perdeu essas qualidades essenciais.

Solitário

Segundo o ‘NYT’, um artigo do jornalista peruano Álvaro Vargas Llosa, filho do escritor, gerou grande repercussão no Chile. Escreveu Álvaro, no Peru:

– A imagem do Chile é de um país ‘diferente’ e ‘solitário’. É percebido como ‘isolado’ num âmbito que é mais psicológico do que político e econômico.

Corredor

O Brasil se mantém no curso, apesar dos vizinhos barulhentos. O chileno ‘Diário Financeiro’ destacou anteontem o ‘corredor bioceânico’ que o governo brasileiro planeja construir, unindo por trem os portos de Santos e Antofagasta, no Chile.

Pedido conjunto

Mas os chilenos não estão errados quando dizem que o governo argentino anda estranho.

Os argentinos ‘Clarín’ e ‘La Nacion’ não esconderam, por exemplo, o mal-estar de Buenos Aires com o acordo de Brasil e FMI, que ‘permitirá ao país vizinho ampliar fundos destinados a obras públicas’. Do ‘Clarín’:

– A medida não vale para a Argentina, apesar de os dois países terem apresentado um pedido conjunto para o Fundo.

EUA na OMC

A revista ‘Economist’ mostra preocupação, em sua nova edição, com uma eventual rejeição da Organização Mundial do Comércio pelos EUA, por conta da decisão contrária aos subsídios americanos ao algodão.

Mas ontem se lia nas agências e em jornais como ‘New Zealand Herald’ que os EUA acabam de entrar -eles também- com uma ação na OMC.

Uniram-se à Nova Zelândia para pedir a derrubada dos subsídios concedidos por Japão, Coréia do Sul e outros à pesca.

‘MINI ME’

George W. Bush deu depoimento ao lado do vice, Dick Cheney, mas respondeu sozinho à entrevista coletiva que convocou logo depois, ao vivo nos canais de notícia americanos.

Ele depôs sem prestar juramento de falar a verdade, sem gravação de vídeo ou áudio e, no que causou mais alvoroço, com o vice a tiracolo. A agência Reuters relatou que isso fez a festa dos chargistas. Num deles, Cheney surgiu como ‘Dr. Evil’ e Bush como ‘Mini Me’, dos personagens dos filmes de Austin Powers. Na charge acima, de Mike Luckovich, do ‘Atlanta Journal-Constitution’, Bush pára na entrada do banheiro e diz:

– Onde está Cheney? Eu não vou fazer isso sozinho.’

***

‘Três editoriais’, copyright Folha de S. Paulo, 29/04/04

‘Três dos principais jornais do mundo deram -como destacou o Jornal Nacional- editoriais de apoio ao Brasil, no questionamento dos subsídios agrícolas americanos.

O conservador ‘Wall Street Journal’, cujos editoriais apóiam o governo George W. Bush em matérias controversas, foi inusitado.

Disse que a decisão tomada pela Organização Mundial do Comércio, contra os subsídios ao algodão, ‘tem o potencial de uma grande abertura política no comércio’.

Criticou a decisão americana de recorrer, o que ‘soa bem em ano eleitoral’ mas contraria as posições defendidas antes pelos EUA. E recomendou:

– A decisão da OMC oferece a desculpa política conveniente para quem quer que vença a eleição fazer a coisa certa no ano que vem.

O liberal ‘New York Times’ foi o mais agressivo.

Afirmou que a distribuição de dinheiro estatal aos fazendeiros americanos ‘cultiva pobreza no mundo em desenvolvimento’ -e que agora tal subsídio ‘é também ilegal’.

Argumenta que o algodão não é o único produto subsidiado nos EUA, ‘mas é um dos mais revoltantes’ por estrangular a economia de países miseráveis como Benin ou Mali.

A exemplo do ‘WSJ’, o ‘NYT’ recomenda ao governo americano que evite recorrer e protelar a decisão:

– Pelo contrário, o governo Bush precisa agarrá-la como uma justificativa para negociar a rendição dos subsídios dados pelas nações ricas.

E encerrou:

– A decisão da OMC reforça amplamente a posição do Brasil e de outros de desmantelar os subsídios que hoje distorcem o comércio. Quanto antes eles vencerem, melhor.

Por fim, o ‘Financial Times’ disse que a decisão era muito bem-vinda e que:

– Congresso e Casa Branca precisam agora aceitar a lógica da decisão, em lugar de tentar preservar um dos programas de subsídio agrícola mais ofensivos no mundo.

O ‘FT’ recebeu como uma boa notícia o fortalecimento dos países em desenvolvimento nas negociações. E encerrou.

– Congresso e administração Bush dificilmente vão olhar com afeição para a OMC depois desta decisão. Mas eles vão ver como é difícil ignorá-la.

Vários outros jornais pelo mundo, como ‘Boston Globe’, apoiaram a decisão.

SEM JANELAS

A tecnologia dos EUA enfrenta problemas por aqui.

De um lado, o jornal financeiro espanhol ‘Expansión’ noticiou que o governo brasileiro, a exemplo do que já haviam feito o chinês e o indiano, optou pelo programa de navegação europeu ‘Galileu’ em lugar do americano ‘GPS’. Foi imediatamente seguido por México e Chile.

São sistemas de navegação e localização por satélite, com efeitos importantes em agricultura, grandes obras públicas, aviação e navegação marítima. Um funcionário da Comunidade Européia disse que ‘a entrada do Brasil nos dá nova peça importante do quebra-cabeças global e nos permite dar uma nova dor-de-cabeça aos EUA’.

Por outro lado, o britânico ‘Financial Times’ destacou que o governo brasileiro decidiu adotar software livre ‘em grande escala, ampliando a sua independência de fornecedores como a Microsoft, do sistema Windows’ (acima). Além do governo federal, que economizará mais de US$ 1 bilhão com a mudança, serão fornecidos incentivos para Estados e municípios fazerem o mesmo.

A novela

Manchete do Jornal da Band, ontem às 19h30:

– Por que o salário mínimo não sai? O governo promete anunciar ainda hoje.

Jornal Nacional, às 20h15:

– O governo passou o dia reunido para decidir o valor do salário mínimo.

Jornal da Record, às 21h:

– Adiado mais uma vez o anúncio do novo mínimo.

Lula está em angústia.

Sofia

O mercado financeiro passou mal, ontem.

Na Globo News, culparam a ‘escolha de Sofia’ de Lula: um mínimo maior ou recursos para investir. Joelmir Beting foi na mesma linha. O JN viu ‘medo dos juros americanos’. Boris Casoy, ‘fatores internacionais’.

Vereadores

Jorge Bornhausen mostrou no JN e demais, aos berros, que o PFL tem grande carinho pelo emprego de seus vereadores.

Estratégia

O ‘Miami Herald’ publicou um artigo de Eric Farnsworth, vice-presidente do prestigioso Conselho das Américas, com um aviso ao governo americano. Segundo ele, por várias razões ‘estratégicas’, o país tem que ‘reconhecer quão importante a América Latina é para os EUA’. Antes que seja tarde.

Agrishow 1

O Globo Rural acompanha dia após dia o grande momento do Brasil profundo.

Ontem relatou que ‘a pesquisa agropecuária é o destaque em Ribeirão Preto’. A Embrapa mostrou coisas como a ‘língua eletrônica’ que identifica tipos de café, água etc. E um avião que tira ‘imagens de alta resolução’ dos campos.

Agrishow 2

Também a Argentina está lá. O ‘Clarín’ destacou os produtos argentinos na ‘importantíssima feira internacional de tecnologia agrícola’.

GUERRA DE IMAGEM

As imagens dos horrores da guerra se disseminam por grandes redes americanas como CBS e ABC (veja em Mundo) e Washington já discute abertamente, segundo o ‘Washington Post’, por que o depoimento de George W. Bush e do vice Cheney sobre o 11/9, programado para hoje, não será tornado público e nem sequer gravado.

Os depoimentos de Bill Clinton e seu vice Al Gore no Congresso, segundo a mesma CBS, foram gravados.

As cenas de televisão surgem na esteira de uma decisão tomada semana passada pelo ‘Seattle Times’. O jornal regional americano publicou fotos, vetadas pelo governo Bush, de caixões de soldados chegando aos EUA.

Pois o ‘Seattle Times’ obteve um prêmio pela decisão. O pai de um dos soldados mortos, retratados no jornal, enviou uma carta de agradecimento. Palavras dele:

– Esconder a morte e a destruição desta guerra não a torna mais fácil para ninguém, a não ser aqueles que querem manter a verdade longe do povo americano.’

***

‘Decisão histórica’, copyright Folha de S. Paulo, 28/04/04

‘O ‘Valor’ deu manchete rara, com letras grandes para proclamar:

– Brasil vence os Estados Unidos em disputa inédita.

Não era futebol e sim uma ‘decisão de grande importância, não só para o Brasil’:

– A Organização Mundial de Comércio deu seis meses para os EUA retirarem os subsídios às exportações de algodão.

É ‘decisão histórica’, insistiu o ‘Valor’, no que foi secundado pela revista ‘The Economist’, que adiantou uma reportagem de apoio aberto:

– O Brasil obteve uma vitória contra o subsídio de gargântua da América ao algodão.

‘New York Times’ e ‘Wall Street Journal’ sublinharam que é decisão ‘preliminar’, mas não omitiram, pelo contrário, seu impacto.

O primeiro disse que ela ‘põe Bush num nó apertado num ano eleitoral, em que republicanos contavam com os fazendeiros’, e explicou:

– Eles são dependentes dos US$ 19 bi que recebem ao ano… Os subsídios ao algodão, por exemplo, fizeram dos EUA o maior exportador do mundo.

O ‘NYT’ insinua que George W. Bush vai recorrer, apesar das poucas chances, ‘para adiar a decisão para depois da eleição’. Seu porta-voz, ontem no site do próprio jornal, confirmou:

– Defenderemos o interesse agrícola dos Estados Unidos de todas as maneiras.

A exemplo do ‘Valor’, o ‘NYT’ afirma que é ‘o primeiro desafio à política agrícola de um país rico’ jamais feito e, outra vez, explica:

– Os US$ 300 bi em subsídios agrícolas pagos pelas nações mais ricas, anualmente, vêm sendo a praga dos fazendeiros do Terceiro Mundo. ONU e Banco Mundial dizem que a sua redução seria isoladamente o maior auxílio possível aos países pobres.

O conservador ‘Wall Street Journal’ repisa que ‘a decisão será amplamente aplaudida no mundo em desenvolvimento’, mas se concentra nos EUA. Diz que um ‘impacto direto’ deve demorar, devido aos recursos, mas acrescenta:

– Mesmo assim, a decisão deverá complicar a estratégia comercial dos EUA. A derrota vai enfraquecer a posição de barganha de Washington nas negociações da OMC.

O PAÍS DA PORNOGRAFIA

Anteontem, a Rede TV! apresentava imagens de longas pornográficos brasileiros e desfilava mulheres, ainda em horário nobre, num suposto concurso para encontrar a ‘atriz’ que estrelaria um novo filme (acima).

Jornais como ‘New York Times’ e vários da Califórnia, como o ‘Union-Tribune’ de San Diego, vêm publicando reportagens sobre a pornografia no Brasil -de início por conta da suspeita de que um ator pornô americano teria contraído Aids numa filmagem brasileira e, ao voltar, teria provocado o colapso da indústria nos EUA.

Mas não é mais só pela suspeita. Os cineastas pornôs americanos, ‘cheios de dólares’, estariam vindo ao Brasil atrás das ‘mulheres exóticas e desinibidas’ e dos ‘custos baixos de produção’. Em meio ao debate eleitoral sobre ‘exportação de empregos’ americanos para outros países, o Brasil se transformou num concorrente, como sublinha um título de despacho da Associated Press:

– Acrescente as estrelas pornôs à lista dos empregos americanos exportados.

O editor de uma revista da ‘indústria do cinema adulto’ chegou a dizer que ‘o Brasil é o lugar para se mudar, hoje’. A razão é a mais racional possível:

– O custo de uma atriz pornô brasileira é de cerca de US$ 175 por cena, apenas uma fração do que esse talento custa na área de Los Angeles.

A vez da Índia

Jornais indianos repercutiram amplamente a decisão da OMC contra os subsídios americanos ao algodão. O país é o terceiro maior exportador do mundo, atrás de EUA e China. Mas não se restringem a isso as notícias sobre o Brasil por lá.

No domingo, lia-se em vários jornais uma reportagem sobre o enfrentamento conjunto que Brasil e Índia fazem ao subsídio americano ao camarão.

Agenda global

Ontem, no indiano ‘Financial Express’, em longa entrevista de um economista local doutorado em Cambridge, lia-se a seguinte opinião, entre outras:

– A união de Índia, Brasil e África do Sul trouxe de volta à agenda global a preocupação com o desenvolvimento.

Bate-estaca

Dia após dia, no estatal ‘Diário do Povo’ ou na estatal agência Xinhua, um despacho conclama à aproximação de Brasil e China. Ontem foi a vez do ministro Luiz Fernando Furlan, que sublinhou aos chineses a importância do comércio bilateral.

G20 contra G7

Em meio às repercussões da vitória comercial do Brasil sobre os EUA, a Reuters deu que um ex-diretor do Banco Mundial, num estudo para o instituto Brookings de Washington, pede a troca do G7 (dos países ricos) pelo G20 (dos países ricos, mais aqueles em desenvolvimento) como a ‘autoridade maior na economia global’.

Entre os novos sócios, China, Brasil, Índia e Rússia.

Ele diz, ela diz

Carlos Alberto Sardenberg e Míriam Leitão bateram cabeça, na CBN, ao opinar sobre a alta no desemprego. Ele dizia que era próprio do mês, ela entrou depois opinando que já era hora de ter caído.

Metodologia

Opinião de Cláudia Safatle, do ‘Valor’, na Globo News:

– Tem uma questão que a gente precisa começar a pensar. O IBGE só calcula desemprego nas regiões metropolitanas. Se olhar o resto do país, há cidades com pleno emprego.

Para ela, os critérios podem distorcer a ação estatal.’



ELEIÇÕES 2004
Folha de S. Paulo

‘Duda fará campanha do PT em 4 capitais’, copyright Folha de S. Paulo, 2/05/04

‘O PT acerta a contratação do publicitário Duda Mendonça para comandar o marketing eleitoral de quatro prefeitos do partido candidatos à reeleição em São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Goiânia.

Marqueteiro da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e um dos responsáveis pela imagem do governo federal, Duda Mendonça será responsável pelas maiores contas petistas, por meio do que chama Agência Estrela, empresa criada para atender exclusivamente aos petistas.

A prioridade número um do PT é tentar dar um novo mandato à prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, a quem Duda Mendonça deve dedicar mais atenção.

A razão é a análise de que uma derrota do PT em São Paulo será tida como um fracasso de Lula.

O PT acreditava que a campanha seria mais fácil do que se apresenta. O partido imaginava que conseguiria fechar o apoio do PMDB à Marta, o que a deixaria com tempo no horário eleitoral gratuito bastante superior ao dos adversários (veja quadro).

Mas o presidente estadual do PMDB, Orestes Quércia, decidiu lançar a candidatura de Michel Temer por não ter obtido o posto de candidato a vice de Marta para um peemedebista ou a indicação de um aliado para o ministério.

Com isso, se o PSDB conseguir o apoio do PFL a seu candidato, pode ter mais espaço na TV.

O tempo exato que cada partido terá depende do total de candidatos a prefeito, o que só será conhecido em junho, mas o PT calcula que, se fosse confirmada a aliança com o PMDB, Marta poderia ter algo próximo a 14 minutos diários na TV. Sem aliança, o PT teria oito minutos. Em 2000, o partido tinha seis minutos na televisão.

Sozinho, o PSDB terá algo perto de cinco minutos do horário eleitoral. Aliando-se ao PFL, os tucanos teriam 11 minutos. O PP, de Paulo Maluf, teria pouco mais de três minutos na TV.

Além da campanha de Marta, Duda Mendonça cuidará das de Fernando Pimentel (BH), João Paulo (Recife) e Pedro Wilson (Goiânia).

A novidade no marketing petista será o publicitário Nizan Guanaes, marqueteiro das campanhas presidenciais tucanas de Fernando Henrique Cardo (1994 e 1998) e de José Serra (2002).

Nizan fará a campanha de Jorge Bittar no Rio e de Lindberg Farias em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Mas esta última está ameaçada, pois a transferência de domicílio eleitoral de Lindberg do Rio para Nova Iguaçu foi rejeitada pelo TRE, mas ele recorre ao TSE para tentar ser candidato.’



TVs DO CRIVELLA
Tribuna da Imprensa

‘Laranja I’, copyright Tribuna da Imprensa, 28/04/04

‘O senador Marcelo Crivella (PL-RJ) enviou correspondência à revista ‘Carta Capital’, negando ser proprietário da TV Cabrália e da TV Record de Franca. Para comprovar, anexou cópia da declaração do Imposto de Renda. As emissoras estão mesmo no nome dele, mas na verdade pertencem ao bispo Edir Macedo, que possui um documento de transferência de propriedade, assinado por Crivella, com a data em branco. A mulher de Crivella também aparece como dona de uma TV da Rede Record. O casal, aliás, é laranja também de várias emissoras de rádio.

Laranja II

Como tantos outros da Igreja Universal, o deputado ex-Bispo Rodrigues (PL-RJ) também era laranja/dono de emissoras de rádio e televisão, entre as quais a valorizadíssima TV Record do Rio de Janeiro. Ao ser rebaixado pelo bispo Macedo, Rodrigues de uma hora para outra perdeu a concessão.

Laranja III

Na verdade, a Rede Record é um tremendo laranjal, segundo declaração de um de seus diretores, Dermeval Gonçalves, que em entrevista gravada à Folha, há alguns anos, admitiu a existência dos contratos com data em branco.’