A contagem de multidões é um problema para veículos de imprensa. Organizadores de eventos acabam superestimando os números, a fim de promover sua causa. Se um veículo estima um número menor, é acusado de ser tendencioso. Se estipula um número mais alto, de favoritismo. O número tornou-se uma métrica tão crítica do sucesso de um evento que algumas vezes é mais importante que as razões de sua realização, comenta, em sua coluna [5/11/10], o ombudsman do Washington Post, Andrew Alexander.
Na semana passada, o apresentador e comediante Jon Stewart brincou que a manifestação realizada no National Mall, em Washington, no dia 30/10, com o objetivo de ‘restabelecer a sanidade’ nos EUA, atraiu mais de 10 milhões de pessoas. Ele comandou o evento e muitos leitores levaram-no a sério, questionando o Post por não ter dado destaque a ‘uma das maiores passeatas da história de Washington’. O editor de estilo, Ned Martel, que supervisionou a cobertura da Marcha para Restaurar a Sanidade, que satirizava o extremismo político da direita, argumentou que repórteres e fotógrafos do Post ‘foram abordados por pessoas no local querendo saber o tamanho da multidão’. As estimativas tornaram-se tão controversas que o Serviço do Parque Nacional, onde foi realizada a manifestação, não as fornece mais.
Tim Curran, editor encarregado da seção A da edição de domingo, insistiu que o Post evita estimativas de multidões em sua cobertura. Sem ter um número de confiança, o melhor seria não publicar nada. No caso em questão, em vez de divulgar um número, o Post descreveu os vagões de metrô lotados e as filas. Mas, enquanto a versão impressa evitava estimativas, a online as encorajava: uma pesquisa perguntava aos internautas quantas pessoas eles acreditavam ter ido ao evento.
Ajudinha da tecnologia
Técnicas convencionais para contagem de pessoas podem ser imprecisas, especialmente nos locais onde são realizados eventos de grande porte, normalmente com restrições para voos, o que limita as fotografias aéreas. Hoje em dia, no entanto, novos programas de computador estão produzindo contas precisas, segundo especialistas. Para Alexander, o Post deve aderir a estas tecnologias.
A CBS News usa, por exemplo, o Digital Design & Imaging Service. O comentarista conservador Glenn Beck, da Fox News, alegou, em agosto, que a passeata de direita ‘para restabelecer a honra’ em Washington atraiu entre 300 mil e 500 mil participantes. No entanto, o Digital Design os estimou em 87 mil. Na passeata de esquerda da semana passada, a estimativa foi de 215 mil – este valor, entretanto, não foi destacado pelo site do Post.