Não muito depois da morte de Osama bin Laden, surgiram os questionamentos: a política de tortura da administração Bush produziu material de inteligência suficiente que levou os EUA à descoberta do esconderijo do terrorista no Paquistão? Alguns acreditam que sim, enquanto outros criticam o valor da informação extraída por meio de técnicas brutais de interrogatório, incluindo simulação de afogamento, comenta, em sua coluna [14/5/11], o ombudsman do New York Times, Arthur S. Brisbane.
O jornalão publicou um editorial no qual argumentava que enquanto não há uma ‘resposta final’ a se as informações obtidas por meio de tortura foram fundamentais, não há justificativa para o uso de tais táticas ‘imorais e ilegais’. Na página das notícias, um artigo escrito por Scott Shane e Charlie Savage questionou a eficiência das práticas brutais de interrogatório na localização de bin Laden. Na versão impressa, a matéria teve como título: ‘Métodos duros de interrogatório questionados de novo’; já no online, ‘A invasão à casa de bin Laden revive o debate sobre o valor da tortura’.
Junto com o debate sobre a tortura, surge um outro – infinitamente menor, mas a ser considerado: como o NYTimes refere-se aos métodos de interrogatório da administração Bush após o 11/9. Leitores e blogueiros já perceberam as nuances – ou, para alguns, inconsistência – das palavras. Editoriais usam o termo tortura. Já as matérias noticiosas, a escolha das palavras é outra.
O debate sobre o uso da palavra já vem sendo discutida há anos e o não uso do termo é influenciado pela aspiração de ser imparcial em uma disputa política e legal. A administração Bush ofereceu opiniões legais que alegam que ‘técnicas de interrogatório intensas’ autorizadas por ela não constituem tortura, sob a lei americana. O NYTimes adotou a visão de que classificar tais técnicas como tortura, portanto, poderia aparentar estar tomando lados. Há dois anos, quando o ex-ombudsman Clark Hoyt comentou a questão, o jornal estava em processo de migrar o uso do adjetivo ‘técnicas duras’ para ‘técnicas brutais’. O editor das páginas editoriais, Andrew Roshenthal, explica que ao se referir sobre a simulação de afogamento, o termo a ser usado é tortura. ‘Achamos que o nosso uso da palavra ‘tortura’ era realmente importante’, comentou.
Outras organizações de mídia tomaram atitudes semelhantes. Um estudo de alunos do Centro de Imprensa, Política e Políticas Públicas Joan Shorenstein, de Harvard, revelou que o NYTimes e o The Los Angeles Times mudaram drasticamente o tratamento de descrição da técnica de simulação de afogamento depois do 11/9, evitando chamar a prática de tortura nas páginas que não as editoriais. O dilema talvez não existisse que as cortes tivessem determinado que os métodos constituíssem tortura. ‘Estas técnicas são tortura. O fato de a administração Bush ter alegado que não eram não muda a lei’, opinou Hina Shamsi, diretora do Projeto de Segurança Nacional da União de Liberdades Civis dos EUA.
O editor-executivo Bill Keller alega que o jornal não proibiu o uso da palavra ‘tortura’, mas que eles são cuidadosos com ela e evitam usar o termo em momentos que possam parecer que o jornal está tomando lados.