Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O equilíbrio que atrapalha

A disputa pela presidência americana está muito acirrada e os candidatos trocam acusações constantes. Segundo o ombudsman do Washington Post [17/10/04], Michael Getler, o jornal é um dos que têm feito maior esforço para checar a veracidade das afirmações dos candidatos e disponibilizar conclusões para os leitores. Após os debates, ou quando algum tema, como os motivos para a invasão do Iraque, é alvo de comentários de George W. Bush e John Kerry, o Post sempre publica uma matéria de ‘checagem dos fatos’. Esse tipo de reportagem é difícil de fazer e comumente suscita reclamações de leitores com relação à imparcialidade do diário.

O que chama a atenção do ombudsman, no entanto, é que muitas pessoas têm escrito comentando que o Post tem publicado matérias que transparecem tamanha preocupação com a imparcialidade que a gravidade de seu conteúdo acaba diluído. Mais freqüentemente, alegam esses leitores, isso tem beneficiado o candidato republicano Bush. Um exemplo é a matéria publicada no dia 6/10 após o debate entre os candidatos à vice-presidência, Dick Cheney e John Edwards, intitulada ‘Afirmações enganosas se referem ao Iraque e a dados de eleição’. A chamada e o primeiro parágrafo do texto não deixam claro que o principal assunto é a declaração mentirosa do republicano Cheney de que nunca havia ‘sugerido que houvesse ligação entre o Iraque e o 11 de setembro’. Algo parecido aconteceu na reportagem ‘Acusações sobre Halliburton misturadas por Edwards e negadas por Cheney’, do dia 7/10, que, em geral, confirmava todas as acusações feitas pelo democrata contra seu rival, mas dava destaque a um pequeno equívoco cometido por ele.

O ombudsman escreve que nem sempre as matérias do Post ‘amenizam’ os fatos, mas que é preciso estar muito atento para não deixar de ler algum texto ‘balanceado’ porque seu título é pouco interessante. ‘Suas reportagens indicam incapacidade ou falta de vontade de aplicar os mesmos padrões a ambos os lados. Nós não precisamos de uma enumeração de igual número de declarações falsas, mas sim de uma avaliação justa da validade dessas afirmações’, afirma um leitor. Para Getler, isso tem acontecido demais ultimamente.