Saturday, 21 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O Estado de S. Paulo

ELEIÇÕES 2010
Lígia Formenti,
Marta Salomon, Nicola Pamplona e Lucas de Abreu Maia

Imprecisões marcam confronto na TV

Durante o debate de quinta-feira na TV Bandeirantes, tanto a candidata do PT, Dilma Rousseff, quanto o tucano José Serra cometeram deslizes e apresentaram dados imprecisos para sustentar suas teses. Dilma, por exemplo, inflou os índices do aumento do salário mínimo na era Lula. Serra criticou a redução de deficientes em classes especiais no atual governo – algo que ocorreu por imposição constitucional.

Ao responder a uma pergunta do candidato do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, acerca das conquistas sociais do governo Lula, Dilma afirmou que o salário mínimo teve, nos últimos sete anos, ‘aumento de 74% acima da inflação’. De acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), contudo, o acréscimo ficou 20 pontos porcentuais abaixo disso: 54%.

No governo Lula o mínimo subiu de R$ 200 em janeiro de 2003 para R$ 510 este ano. A inflação acumulada (INPC) no período foi de 66%. O INPC é usado pelo Dieese para calcular o aumento real do salário mínimo, pois reflete os preços das mercadorias para as famílias mais pobres.

Apaes

A queda de 87% para 39,5% das matrículas de pessoas com deficiências em escolas e classes especiais nos últimos dez anos foi apontada por Serra como suposta discriminação do governo Lula em relação às associações de pais e amigos dos excepcionais, as Apaes.

A redução, porém, foi acompanhada pelo crescimento das matrículas de alunos com deficiências em escolas regulares. A mudança teve ritmo mais acelerado nos últimos cinco anos, mas não é uma política do atual governo. Está prevista na Constituição de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996, sancionada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Também é prevista por convenção da ONU sobre a defesa dos direitos das pessoas com deficiência.

‘A declaração do candidato Serra é apelativa e desinformada’, reagiu o ministro da Educação, Fernando Haddad. De acordo com dados do MEC, os repasses do Orçamento para alunos com deficiência aumentaram nos oito anos de governo Lula, de R$ 47 milhões, em 2003, para R$ 219,9 milhões, neste ano.

‘Estão reduzindo nossos alunos por uma questão ideológica’, insistiu o deputado Eduardo Barbosa (PSDB-MG), presidente da Federação Nacional das Apaes. ‘O MEC faz a defesa da inclusão radical e, com isso, corta recursos para nossas estruturas: acredita que a escola comum daria conta, mas é mentira.’

Mutirões

Outro tema de discussão entre Serra e Dilma foram os mutirões de saúde. O tucano defendeu sua retomada, enquanto a petista disse discordar dessa modalidade de atendimento, por não considerá-la uma ‘política estruturante’.

O programa criado pelo governo para substituir mutirões de saúde, porém, não atingiu o objetivo esperado, segundo análise feita por integrantes do próprio Ministério da Saúde. Diagnóstico, datado de março deste ano, mostra que o programa não trouxe o aumento planejado de cirurgias, não melhorou acesso da população aos serviços nem trouxe redução das filas de espera.

Batizada de Política Nacional de Procedimentos Cirúrgicos Eletivos de Média Complexidade, a ação foi lançada em 2006 com a promessa de ser uma versão aprimorada e mais segura dos mutirões adotados por Serra quando ministro da Saúde. Em vez das quatro doenças contempladas no formato inicial – varizes, próstata, catarata e retinoplastia -, a política previa mutirões para 90 cirurgias. Era uma forma, como dizia o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, de ‘sair do populismo sanitário.’ Os números, no entanto, mostraram que mudança trouxe resultados bem aquém do esperado. No caso da catarata, em 2002, foram realizadas 309 mil cirurgias e, em 2005, 314,9 mil. No ano em que a nova política foi implantada, elas caíram para 175 mil.

IIndústria naval

O avanço da indústria naval será um dos trunfos da campanha de Dilma. O tema foi levantado pela petista em pergunta a Serra, no terceiro bloco do debate. O objetivo é criticar as importações de plataformas de petróleo pelo governo FHC.

‘Não é possível voltar àquela política realizada no governo anterior em que se importavam plataformas e navios de Cingapura e da Coreia. As famílias coreanas e de Cingapura agradeciam. Agora, as famílias brasileiras é que não tinham emprego’, disse Dilma, em suas considerações finais.

De fato, houve crescimento expressivo nas contratações da indústria naval brasileira na década: em 2000, com a maior parte dos estaleiros fechados, o setor empregava pouco mais de mil pessoas. Em 2009, fechou o ano com 46,5 mil trabalhadores. Serra disse apoiar a política de crescimento do setor, mas observou que o Brasil é ainda importador de peças para navios. ‘Se eu chegar lá, vou fazer uma política de aumento de produção dessas peças’, afirmou. Reportagem do Estado mostrou que o índice final de nacionalização das plataformas é equivalente ao do governo Fernando Henrique, uma vez que não houve grande desenvolvimento tecnológico no setor.

‘Um trabalhador não pode errar, uma mulher também não pode’

‘Serei a presidenta que vai completar o Sistema Único de Saúde’

‘O que me move não é um projeto pessoal, é a realização de sonhos de milhões de brasileiros’

Dilma Rousseff

‘O Brasil vem avançando passo a passo. Sempre jogo pelo Brasil. Sempre procurei dar ideias’

‘Saúde, educação e segurança são como três órgãos do corpo humano’

‘Nós fizemos muitas conquistas, que não foram parte de apenas um Governo’

José Serra

‘A proteção das árvores, a defesa do meio ambiente e o saneamento básico fazem parte de uma mesma equação’

‘Eu sei como é ficar na fila como indigente, eu sei o que é um péssimo atendimento de saúde’

‘Essas eleições servirão para que sejamos capazes de assumir que ainda temos muito a fazer’

Marina Silva

‘Se a gente quer viver numa democracia, temos de enfrentar com coragem a desigualdade’

‘Saúde pra cá, saúde pra lá. Se não socializar a saúde, não tem solução para a saúde’

‘Aqui (no debate) o bem deve ser feito e o mal deve ser evitado. Isso não quer dizer nada’

Plínio de Arruda Sampaio

 

Flávia Tavares

Plínio bomba no Twitter

Enquanto os presidenciáveis que aparecem como favoritos nas pesquisas disputam o título de vencedor do debate de quinta-feira na TV Bandeirantes, Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) não tem dúvidas: ele foi o vitorioso.

Sua popularidade, ao menos cibernética, deu um baita salto e ele conseguiu se colocar como grande novidade no cenário – uma novidade com 80 anos de vida e 52 de vida política. ‘Plínio foi a palavra mais citada no mundo no Twitter. Nem entendo muito bem o que é isso’, empolga-se o candidato. ‘Só sei que é muito compensador.’

Numa caminhada pelo centro de São Paulo, ontem, Plínio recebeu manifestações de admiração pelo seu desempenho no encontro com os oponentes. Mas o número de pessoas que o seguiram de fato, em carne e osso, ficou na média de 60 pessoas. O que disparou mesmo foram os seguidores virtuais de Plínio. Na quarta-feira, ele tinha cerca de 9 mil. Ontem, até o fechamento da edição, já passava de 15 mil.

‘O bom é que é tudo rapaziada, né?’, ele se envaidece. E é, mas é uma rapaziada que brinca com a idade do candidato, de forma irônica, embora geralmente carinhosa. ‘Estou ciente disso, é parte do jogo. Todos têm direito à expressão, mas sinto que a maioria dos comentários foi mesmo de apoio.’

A alegria de Plínio por ter alcançado o topo dos tópicos mais populares do Twitter durante o debate poderia ser esfriada se ele visse os números absolutos. De acordo com a consultoria E.Life, entre as 10h de quinta e o meio-dia de ontem, 35.627 mensagens mencionavam o candidato. Dilma Rousseff teve 107.554 menções; José Serra, 67.184; e Marina Silva, 51.263.

Por que ele chegou ao topo, então? ‘O Twitter mudou recentemente os critérios do ranking, passando a incluir tópicos que tenham um ‘boom’ repentino, que sejam novidade e tenham volume de referências’, explica Alessandro Lima, presidente da E.Life.

‘Boom repentino’ é tudo que Plínio quer ouvir. ‘Vamos saber só nas próximas pesquisas se esse apoio na internet vai se converter em votos. Mas estou muito satisfeito com a repercussão, porque eu não queria jogar números, queria discutir ideias’, diz. Por via das dúvidas, para manter a ascendente nas adesões na web, Plínio voltou a twittar um vídeo, produzido em abril. A primeira frase: ‘Twitter, my friends’.

 

Eugênia Lopes

Dilma gasta R$ 4,5 mi com programa de TV

A dez dias do início da propaganda eleitoral na TV e no rádio, a presidenciável do PT, Dilma Rousseff, gastou R$ 4,5 milhões na confecção de seus programas e R$ 2 milhões com a criação de sua página na internet. Isso representa mais da metade do que o comitê da candidata arrecadou até agora: um total de R$ 11,6 milhões.

Esses gastos estão na prestação parcial de contas divulgada ontem pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Principal adversário de Dilma, o tucano José Serra arrecadou R$ 3,6 milhões. Foi menos que os R$ 4,6 milhões coletados pela candidata do PV, Marina Silva. Desse valor, pelo menos R$ 1 milhão foi doado pelo vice de sua chapa, o empresário Guilherme Leal, o candidato mais rico do País, com fortuna declarada de R$ 1,2 bilhão.

Assim como a petista, a maior despesa de Marina até agora foi com a produção de programa de rádio e TV – R$ 1.325.835,90. Ao contrário de Dilma e de Marina, Serra não gastou até agora um centavo com os programas de TV e rádio.

Obrigatoriedade. Neste ano, a grande novidade na prestação parcial de contas é obrigatoriedade do envio pelos bancos para o TSE dos extratos eletrônicos da movimentação da conta bancária eleitoral dos candidatos e dos comitês financeiros. Os extratos serão enviados mensalmente à Justiça Eleitoral a partir da próxima quarta-feira. Dessa forma, o TSE poderá confrontar os dados enviados pelas campanhas com o extrato bancário.

A maior despesa declarada por José Serra foi com serviços prestados por terceiros – R$ 1.281.289,22. Neste mesmo quesito, o comitê financeiro de Dilma declarou ter pago R$ 1 milhão a prestadores de serviço. Já Marina usou R$ 1 milhão para pagar serviços prestados por terceiros e mais R$ 1.107.730,00 com publicidade impressa.

O segundo maior gasto do presidenciável tucano na campanha foi com transporte e deslocamento: R$ 654.932,75. Dilma teve despesa de R$ 558.188,43 com transporte. Marina não declarou nada.

Totais. Os três principais candidatos à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva arrecadaram até agora R$ 19,8 milhões. Dilma já gastou R$ 9,5 milhões. As despesas de Serra somaram R$ 2,5 milhões e as de Marina R$ 3,4 milhões.

A previsão de gastos da petista é de R$ 157 milhões, enquanto a de Serra chega a R$ 180 milhões. O orçamento de Marina é mais modesto: a ex-ministra pretende gastar R$ 90 milhões em sua campanha.

Dos nove candidatos à Presidência, quatro declaram à Justiça Eleitoral não ter arrecadado nada para suas campanhas. São eles: Ivan Pinheiro (PCB), José Maria Eymael (PSDC), José Maria de Almeida (PSTU) e Rui Costa Pimenta (PCO).

Levy Fidelix (PRTB) informou ao TSE ter receita de R$ 1 mil. Já Plínio de Arruda Sampaio declarou ter recebido R$ 35.040.

Nesta primeira prestação parcial, os candidatos não são obrigados a revelar os nomes de doadores. Quando entregou as contas ao TSE, no início da semana, a assessoria da campanha de Marina revelou que a candidata do PV foi financiada basicamente pelo sistema financeiro: 80% dos recursos vieram de pessoas jurídicas – destes, a maior parte veio de bancos. A segunda prestação de contas dos presidenciáveis será divulgada pela Justiça Eleitoral no dia 6 de setembro.

Caixa de campanha

R$ 11,6 milhões é o total arrecadado pela campanha presidencial da candidata do PT, Dilma Rousseff

R$ 4,6 milhões foi quanto a candidata do PV, Marina Silva, amealhou de contribuições

R$ 3,6 milhões é montante que o comitê do tucano José Serra levantou até agora para financiar sua campanha

 

TELEVISÃO
Gustavo Chacra

Facebook mostra as limitações do Google

Líder absoluto em buscas na internet, o Google ficou para trás no mercado de sites de relacionamentos e já tem planos de mais uma vez tentar bater de frente com o Facebook e o Twitter. O temor da empresa é que esta nova iniciativa possa terminar em derrota como no caso do Buzz, lançado neste ano e conhecido apenas por invadir os contatos dos usuários do Gmail.

Basicamente, o Google terá que fazer o inverso do que ocorre no setor de buscas na internet. Nesta disputa, o Google busca se defender do crescimento dos rivais Bing, da Microsoft, e do Yahoo. Nos sites de relacionamento, é o Google que precisa correr atrás, apesar de ter largado na frente com o Orkut há seis anos e meio. E, até hoje, muitos se questionam como o Google perdeu esta batalha.

O Orkut foi criado um mês antes do Facebook, em janeiro de 2004. Na época, existiam outros no mercado, como Friendster e o MySpace. A diferença é que o Orkut foi desenvolvido na Google, uma gigante da internet – aliás, o nome do responsável pelo desenvolvimento do produto se chamava Orkut Buyukkokten. Qualquer usuário da rede podia abrir uma conta.

O Facebook teve um início mais elitista. Seu fundador, Mark Zuckerberg, era estudante de Harvard. Nos seus primeiros meses, o site visava apenas os alunos da universidade, como se fosse uma fraternidade virtual, conforme descreve Ben Mezrich, autor de um livro sobre a história do Facebook.

O segundo passo de Zuckerberg foi ampliar o acesso ao seu site para outras estudantes de outras universidades da elite, como Princeton, MIT e Stanford. Depois, o Facebook foi aberto para alunos de qualquer instituição educacional. Bastava ter um email terminado em ‘edu’, de educação, para acessar. O golpe final foi permitir que qualquer usuário da internet ingressasse no Facebook.

Neste momento, o Orkut já dominava o mercado brasileiro. O problema é que, nos EUA, quase ninguém sabia da existência deste site de relacionamentos, até hoje descrito pelo New York Times como ‘um Facebook para brasileiros’, que são mais de 50% dos usuários.

Nas universidades americanas, estudantes brasileiros precisavam explicar para os americanos o que era o Orkut. E, aos poucos, também começaram a convencer amigos brasileiros a trocarem o site de relacionamentos do Google pelo do Facebook. ‘O Facebook foi um sucesso porque ele começou do topo da hierarquia social’, escreveu Charles Petersen na New York Review of Books.

Da mesma forma que o nos EUA, o Facebook ingressou no Brasil pela elite e aos poucos começou a dominar os computadores dos jovens – e também dos pais deles – da classe média alta de São Paulo e do Rio. O Orkut ficou ultrapassado, já que não dava para incluir amigos estrangeiros. Os brasileiros voltando de temporadas na Europa e nos EUA preferiam manter nos seus contatos os amigos feitos no exterior. Com o Orkut, restrito quase apenas a brasileiros e indianos, isso seria impossível.

A invasão brasileira inicial do Orkut também deixou irritados americanos que não conseguiam entender o que as pessoas falavam. Na comunidade da Universidade Columbia no Orkut, por exemplo, estudantes americanos reclamavam que não entendiam o que os outros membros – brasileiros – diziam.

No Twitter, um fenômeno similar tem ocorrido, como no ‘Cala Boca Galvão’. Os brasileiros, nos últimos meses, dominaram diversas vezes os ‘trending topics’. Estrangeiros que não entendem português reclamavam na própria rede que estavam frustrados por terem ficado de fora.

Líder na rede

O Facebook tem mais de 500 milhões de usuários ativos, e 50% deles visitam o site todos os dias. Em média, cada usuário do serviço de rede social possui 130 amigos

 

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