PROPAGANDA
O império chinês e a publicidade negativa
É 2030 em Pequim. Um professor fala a uma turma de alunos. ‘Por que grandes nações fracassam?’, ele pergunta. ‘Os antigos gregos, o Império Romano, o Império Britânico, e os Estados Unidos da América.’
‘Eles cometeram os mesmos erros, virando as costas para os princípios que os tornaram grandes’, diz ele, falando num salão de palestras high-tech enfeitado com retratos de Mao Tsé-tung.
‘A América tentou gastar e se safar de uma grande recessão… Claro, nós possuíamos a maior parte da sua dívida’, ele acrescenta com uma risadinha, e depois fica sério.
‘De forma que agora eles trabalham para nós.’ A classe explode em risadinhas de auto-satisfação.
Lançado nesta semana, ‘o professor chinês’ é a mais recente e mais inflamável de uma série de anúncios publicitários relacionados à China, que está surgindo por todo o país.
Nutrindo-se da ansiedade nacional sobre o elevado desemprego e preocupações profundas sobre o lugar dos EUA no mundo, o anúncio faz parte de uma onda de propagandas que mostram a China se beneficiando da crise americana.
Mais que um espasmo da temporada política, os anúncios sublinham uma virada mais ampla da sociedade americana para uma visão mais temerosa da China. Inspirados na ascensão da China e numa percebida queda de status dos Estados Unidos, os anúncios têm paralelos históricos com a reação americana ao Japão nos anos 80 e à ameaça soviética.
‘Eu tenho a sensação de que eles vão assumir o controle do mundo’, disse Christian Kemp, um estudante de contabilidade em Farmington Hill, no Estado de Michigan, que trabalhava para uma companhia de ferramentas que depois se mudou para a China.
‘Eles estão simplesmente mais famintos que nós. Eles querem mais isso.’ Pesquisas de opinião realizadas pelo Pew Global Research Center indicam que mais americanos ainda têm uma visão em geral favorável da China – de 49% a 36% – que os que não têm. Mas 47% dos entrevistados viram a economia crescente da China como uma coisa ruim e 79% viram sua modernização militar como uma ameaça. Em páginas de opinião de jornais de todo o país, colunistas criticam a China por proteger sua moeda, manter na prisão o ganhador do Prêmio Nobel da Paz, recusar-se a adotar sanções mais duras contra o Irã, e obter tecnologias ocidentais por meios escusos.
‘Todo o mundo está irado com a China’, disse Bonnie Glaser, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, um centro de estudos em Washington.
‘Virou uma pancadaria geral e há pouquíssima gente para defendê-los.’ Os retratos da China feitos por Hollywood ficaram mais sombrios. Em Wall Street: o Dinheiro Nunca Dorme, o dinheiro chinês é pérfido. Em Karate Kid, lançado neste ano, uma trabalhadora demitida do setor automotivo em Detroit vai para Pequim com seu filho, que é aterrorizado por um valentão chinês. E uma refilmagem do clássico cult de 1984, Amanhecer Violento, sobre seis colegiais americanos que atacam o Exército Vermelho soviético, faz os rapazes combaterem os chineses. O filme, que devia ser lançado neste mês nos EUA, ainda não foi liberado porque seu estúdio, MGM, está à beira da concordata – provocando piadas sobre a impotência econômica americana em blogs na China.
‘Eu me preocupo com esse filme’, disse Haipei Shue, presidente do Conselho Nacional de Chineses Americanos, uma organização em Washington formada principalmente por imigrantes da China Continental. ‘Como os garotos na escola de meu filho olharão para ele depois de verem isso? E como meu filho olhará para eles? Talvez eles possam rir juntos, mas o filme pode inclinar a balança.’ Funcionários do governo de Barack Obama responderam às preocupações sobre a China pedindo um foco na renovação dos Estados Unidos, mas também pelo endurecimento de seu tom com Pequim.
‘Não é culpa da China se nós passamos de um superávit orçamentário para uma dívida trilionária’, disse a secretária de Estado Hillary Clinton em uma entrevista, na semana passada, ao historiador Michael Beschloss. ‘São decisões que tomamos por meio de nosso sistema político. Então, nós temos de arrumar nossa própria casa.’
‘É constrangedor pensar que a China poderá ser líder em tecnologia de energia limpa porque não conseguimos unir nossos atos’, acrescentou. ‘Se ficarmos de lado e apenas nos queixarmos e tentarmos nos opor a qualquer coisa que a China esteja fazendo e não lidarmos com nossos problemas em casa, não sei o que o futuro nos reserva.’
A China tem parte da culpa pela mudança de visão dos Estados Unidos, segundo analistas. O governo Obama chegou ao poder com altas expectativas para o relacionamento. Hillary visitou a China em sua primeira viagem como secretária de Estado e sugeriu que os EUA não dessem muita importância às questões de direitos humanos porque a ajuda da China na mudança climática e na crise financeira mundial era demasiado importante.
Mas a China não correspondeu às expectativas do governo.
Apesar de uma pressão americana intensa, ela só permitiu uma valorização de cerca de 3% de sua moeda ante o dólar. Embora tenha votado por novas sanções contra o Irã e a Coreia do Norte, sua aplicação desses esforços parece fraca, segundo autoridades americanas e um relatório recente do Serviço de Pesquisas do Congresso.
Na trilha da campanha, tanto democratas quanto republicanos estão jogando lama nos chineses. Atualmente, 250 anúncios tendo a China como alvo estão sendo veiculados em pouco menos da metade dos 100 distritos em disputa, como a batalha pela cadeira no Senado da Pensilvânia entre o republicano Pat Toomey e o democrata Joe Sestak. As propagandas de Sestak exibem um gongo e a frase: ‘Pat Toomey – ele está lutando por empregos – na China. Talvez devesse concorrer ao Senado… na China.’ Numa entrevista coletiva, na semana passada, o democrata de Illinois Alexi Giannouilas acusou o republicano Mark Kirk – ambos numa corrida apertada pela antiga cadeira no Senado do presidente Obama – de ‘traição econômica’ por levantar dinheiro de empresários americanos na China.
‘Não é incomum propagandas políticas saírem à procura de testas de ferro ou do vilão para criar uma resposta emocional’, disse Evan Tracey, presidente do Campaign Media Analysis Group, que estuda tendências na propaganda política. Isso foi feito com o México nos anos 90 em propagandas contrárias ao Acordo de Livre Comércio da América do Norte e o Japão nos anos 80. O problema, observou, é que ‘propagandas políticas são o principal indicador do próximo conjunto de políticas’. A governadora de Michigan, Jennifer Granholm, exibiu uma propaganda bem-sucedida na campanha de 2006 acusando seu rival republicano de terceirizar empregos para a China. Para grande pesar dos líderes empresariais de Michigan, ela se esquivou de todas as delegações comerciais do Estado à China.
Embora a demonização da China tenha paralelos com a reação adversa ao Japão que ocorreu nos anos 80 e início dos 90, a diferença é que o Japão era – e continua sendo – um aliado americano, e tinha amigos poderosos por todo o país que o defendeu. O Japão respondeu também investindo centenas de bilhões nos Estados Unidos, o que empresas chinesas ainda não fizeram.
De mais a mais, a América corporativa, que costumava ser a grande apoiadora da China nos debates antes anuais no Congresso sobre o status de nação comercial mais favorecida da China, ficou em silêncio sobre os benefícios de um relacionamento forte com Pequim.
A razão é que muitos dirigentes corporativos já não acreditam que a China, que está perseguindo agressivamente políticas para adquirir tecnologia ocidental e competir com empresas americanas, seja a terra das oportunidades que já foi.
A propaganda do professor chinês foi feita para o Cidadãos Contra o Desperdício do Governo, um grupo de defesa que cresceu a partir dos esforços do governo Ronald Reagan de reduzir o orçamento federal. Tom Schatz, presidente do grupo, defendeu o anúncio e disse que ele não era xenófobo. O anúncio tem por alvo o programa de estímulo econômico do governo Obama, mas como os Estados Unidos, a China também premiou sua economia com um vultoso pacote de estímulos.
‘O alvo não é a China – somos nós’, disse ele. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK
É JORNALISTA E BLOGUEIRO
MERCADO
Para variar, rivais de Murdoch estão certos
Uau. Guardian, Telegraph, Mail, Observer e Mirror, a BBC e o Channel 4, até a BT – todos de acordo e todos furiosos. Quem poderia ter sido o responsável por conjurar essa aliança angustiada? Você adivinhou: Rupert Murdoch.
Murdoch é a melhor coisa que já ocorreu na mídia britânica, e ela o odeia por isso. Sem ele e sua revolução na Fleet Street (endereço tradicional dos jornais britânicos), é muito improvável que ainda tivéssemos hoje jornais como o Guardian e o Independent, um terceiro canal de notícias e até uma Sky Arts 2. Quando Murdoch chegou os especialistas previram um número máximo de 3 jornais britânicos até 1980, como na maioria dos países sindicalizados.
Durante 25 anos Murdoch desafiou a oposição à transformação do aspecto econômico dos jornais e emissoras de TV, resgatando os primeiros do monopólio sindical e as segundas do duopólio BBC/ITV. Em cada frente bateu rivais e os deixou choramingando pela ajuda do governo. Agora quer comprar toda a BSkyB e eles voltam a choramingar. Escreveram uma carta a Vincent Cable, exigindo que a oferta seja investigada.
Dessa vez eles têm razão. A lei de ferro do capitalismo determina que todos os mercados apresentam tendência à formação de um monopólio. Em relação a isso, Adam Smith e Karl Marx concordavam. Leis que promovem a concorrência podem castigar o sucesso, limitar os empreendimentos e sustentar a incompetência. Mas a concorrência é mais importante do que tudo o mais. Ela deve ser sustentada no curto prazo se, no longo prazo, desejarmos a sobrevivência dos empreendimentos legítimos.
Murdoch chegou à imprensa britânica em 1968 e emergiu de um turbilhão na indústria numa posição dominante, mostrando-se mais astuto que rivais como os Carr, os Thomson e Robert Maxwell. Em 1978 Roy Thomson enfrentou os sindicatos na Times Newspapers e foi derrotado, passando a tocha a Murdoch. Sete anos mais tarde ele abriu suas instalações em Wapping, recebendo a hipócrita hostilidade dos concorrentes que rezaram pelo sucesso dele para que pudessem imitá-lo. Quando ele conseguiu, os demais o seguiram, entre eles o Guardian. O número de páginas aumentou muito, os suplementos proliferaram, e o jornalismo desfrutou de duas décadas de boa vida. Ainda há mais leitura num jornal britânico do que antes da chegada de Murdoch.
Ao mesmo tempo ele estava lançando a TV via satélite, diante de previsões segundo as quais os britânicos jamais contratariam seu serviço de parabólicas. Eles o fizeram aos montes. A verdade é que a mídia tem cambaleado e se queixado enquanto segue o caminho aberto por Murdoch, permitindo que ele arque com os riscos para então se aproveitar de seus sucessos. Sua mais recente inovação, tão ridicularizada, é pedir aos leitores de seus jornais na internet que paguem por uma assinatura. A indústria declarou que a gratuidade das notícias na internet é uma questão de princípios – a menos que e até que Murdoch obtenha sucesso, momento a partir do qual todos se apressarão em segui-lo.
Como já fiz parte das forças de Murdoch no passado, conheço bem suas virtudes e seus defeitos. É verdade que ele manteve vivo o jornalismo britânico, mas pouco fez para melhorar a posição dessa indústria na vida britânica. Sua competitividade ao tentar comprar o FT, ameaçar os concorrentes e atormentar a BBC foi muitas vezes motivada mais por travessura do que por questões estratégicas. Jornalista por instinto, tinha dificuldade em abrir mão de interferir nos seus jornais. Murdoch adora o exercício do poder e não hesita em usar sua liberdade de circulação para defender suas empresas – apesar de às vezes fazer o contrário, como Beaverbrook, Maxwell e Conrad Black. Murdoch não é um político frustrado.
Mas uma coisa é reconhecer um inovador, e outra é eximi-lo dos limites habituais da regulação. O papel do governo é preservar a diversidade na mídia, o pluralismo na indústria e o direito de escolha do consumidor. A regra tem determinado que nenhum grupo deve controlar mais que um terço de um setor do mercado. Mas enquanto o mercado dos jornais pode ser medido pela tiragem, a TV é mais difícil de quantificar.
As novas plataformas de transmissão via satélite, via cabo e via transcodificador se combinam e confundem acesso com conteúdo, meio com mensagem, poder com proliferação. Conceitos como participação de mercado, integração vertical e precificação predatória são opacos. Como descobriram os reguladores americanos da internet no caso da Microsoft, um mercado em plena atividade pode se transformar num miasma de práticas monopolistas como pacotes, incorporações e precificação microscópica. O alvo dos reguladores está sempre em movimento.
O secretário da cultura, Jeremy Hunt, quer promover um número maior de veículos de mídia locais, hoje circunscritos por estatutos e leis de livre comércio. Com o número de jornais locais fechados aumentando todos os dias e a BBC sufocando os canais locais de notícias, ele quer relaxar as restrições contra a propriedade sobre veículos de diferentes mídias. Levando-se em conta o estado lastimável do setor, a medida parece razoável. As regras sempre podem ser alteradas posteriormente.
Por outro lado, as relações entre veículos de diferentes mídias mudam suas características diariamente. Práticas que pareceram aceitáveis, como a concorrência entre BBC e imprensa pelas notícias na rede, são agora consideradas injustas. Plataformas distintas agora se misturam numa só por meio da internet. Pode ser que logo haja apenas duas gigantes: a News Corp, de Murdoch, e a BBC. E apesar de aqueles que estão furiosos com a insolente oposição da BBC aos cortes orçamentários desejarem um pouco mais de equilíbrio na cobertura, eles ficariam desagradados com o ousado partidarismo do canal de Murdoch, Fox News, nos EUA.
A melhor abordagem é se manter longe das emoções políticas e ater-se às questões econômicas. Numa indústria de mídia cada vez mais integrada, tornou-se claro que a tecnologia apresenta uma tendência ao domínio do mercado. O trabalho do governo, portanto, é regular o pluralismo. Os executivos de Murdoch dizem querer os 60% restantes da BSkyB, que na prática estão sob seu controle, não por questões de poder, e sim pelo fluxo de renda. Mas renda é poder. Uma tentativa da Sky de entrar no ramo das transmissões locais, associada a um pacote de canais por assinatura e jornais impressos e digitais, conferiria às empresas de Murdoch uma preponderante penetração na mídia. Jogadas como essa devem ser alvo de atenta vigilância.
A carta a Cable é o maior elogio já feito a Murdoch pelos grandes e melhores. Ele reduziu seus adversários à condição de implorar pela ajuda do governo. Ele deveria estar saboreando seu triunfo. Mas Murdoch não pode negar que foi beneficiado pelo ambiente de pouca regulamentação promovido por Thatcher na década de 80, quando recebeu liberdade para enfrentar sozinho os sindicatos e os gordos oligopólios da BBC, da ITV e da mídia impressa. Agora que emergiu no topo, Murdoch deve aceitar que o mercado se prepare para ajudar os outros a concorrer com ele.
A indústria está mudando tão rápido que ninguém é capaz de dizer que a compra da BSkyB seja um golpe contra a concorrência. Mas ela certamente merece investigação constante, bem como o resto da indústria. A preservação da diversidade na mídia é um elemento crucial para a democracia. Quanto a Murdoch, o sol brilhou para ele e lhe proporcionou consideráveis ganhos. Agora é hora de ele dar ouvidos ao regulador que bate à sua porta. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
TELES
Telebrás, para comparsas
‘A Telebrás não está sendo recriada para servir à sociedade brasileira. Sua reativação tem o claro objetivo de atender a comparsas políticos. Exatamente como tem ocorrido na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Isso nos conduzirá, inevitavelmente, à degradação dos serviços, como, aliás, já ocorre no setor postal.’
Essas palavras são do comandante Euclides Quandt de Oliveira, ex-ministro das Comunicações, de 1974-79, ao avaliar a recriação da Telebrás.
Quandt foi o primeiro presidente daquela estatal que retirou o País da situação de profundo atraso em suas telecomunicações em que vivia até o começo dos anos 1970.
Lúcido e franco aos 91 anos de idade, Quandt se preocupa com o futuro do País e relembra que cabe ao Estado fixar políticas públicas e mesmo prestar serviços, diretamente ou por intermédio de concessionárias.
‘A prestação de serviços públicos é uma responsabilidade do Estado. Cabe-lhe, no entanto, fiscalizar a prestação de serviços com o máximo rigor’, afirma Quandt.
Defensor histórico e convicto do modelo estatal, Quandt mudou de opinião no começo dos anos 1990.
Ele explica: ‘Depois de passar pela Telebrás e pelo Ministério das Comunicações, continuei a defender o modelo estatal, pois acreditava que ele seria capaz de cumprir sua missão de atender aos brasileiros em qualquer ponto do País. Fui, porém, forçado a reconhecer que, a partir de 1985, a escolha de dirigentes no Sistema Telebrás passou a ser feita com o claro propósito de atender a amigos e comparsas políticos, gente que, em sua maioria, não tem a qualificação profissional para o exercício do cargo. A partir daí, passei a ser defensor da privatização’.
Loteamento. Por volta de 1990, Quandt já havia perdido sua esperança na possibilidade de a Telebrás atender a todos os brasileiros.
Hoje, o modelo estatal volta a ser desfigurado em vários setores governamentais pelo loteamento político, inclusive com a reativação da Telebrás, como acaba de ser feita.
Conheço Quandt há mais de 30 anos e fui testemunha de seu trabalho excepcional em favor das comunicações brasileiras, ao lado do segundo presidente da Telebrás, o general José Antonio de Alencastro e Silva.
Aquela Telebrás, nascida em 1972, funcionou de forma exemplar até 1985 e nada tinha de parecido com a ‘nova Telebrás’, ressuscitada por Dilma Rousseff e por Erenice Guerra – e entregue, como um feudo, ao petista gaúcho Rogerio Santanna.
Heterodoxia petista. A volta da Telebrás tem sido justificada como estratégia para levar a banda larga a todo o povo brasileiro, ‘com a melhor qualidade e o menor preço’.
Algo comovente, não? Os caminhos para alcançar esse nobre propósito, entretanto, não são nada republicanos. Confira, leitor:
Holding das antigas teles, a Telebrás foi privatizada em 1998, mas não foi extinta, por diversos problemas legais. Por ter sido criada por lei, não poderia ter sido reativada por decreto, com a mudança de suas finalidades. No entanto, esse decreto mudou sua condição de empresa holding transformando-a em uma operadora de serviços. Só uma lei específica, debatida e votada pelo Congresso poderia mudar sua atividade-fim.
Nenhuma concessionária ou outra parte legítima teve coragem de contestar, perante o Supremo Tribunal Federal (STF), essa inconstitucionalidade. Por isso, o País teve que engolir tudo em seco. Será que o Ministério Público não seria essa parte legítima para provocar o STF a se pronunciar sobre a constitucionalidade ou não desse decreto?
Além de recriar a Telebrás, o governo Lula aprovou, num só decreto, o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), que, ‘a rigor, como plano, não existe’, segundo Otávio Marques de Azevedo, diretor da Andrade Gutierrez, acionista da Oi.
O PNBL divulgado com o decreto não passa de uma breve carta de intenções, acompanhado agora por uma lista das primeiras 100 cidades a serem atendidas, 50% delas com população superior a 350 mil habitantes, nas quais já atuam pelo menos três operadoras com oferta de banda larga.
Um plano de banda larga de verdade deveria incluir metas específicas, fontes de financiamento, orçamento confiável, cronograma de investimentos, áreas prioritárias, população a ser atendida, evolução dos serviços e suas características técnicas.
Por sua importância, a questão da banda larga deveria ter sido debatida pelo Congresso Nacional há mais de 5 anos e com a participação de toda a sociedade. Só foi anunciada, entretanto, por um grupo palaciano ávido de poder, no sétimo ano do governo Lula, como um filão eleitoral.
O pior da heterodoxia e da ousadia petista na recriação da Telebrás foi alijar e marginalizar as duas áreas mais qualificadas e legalmente capacitadas a estudar e a propor modificações setoriais: o Ministério das Comunicações, ao qual a Telebrás sempre esteve legalmente vinculada, e a Anatel, que detém o maior número de especialistas em telecomunicações do governo.
Depois de tantas manobras, tudo acabou sendo decidido por Dilma Rousseff e sua sucessora, Erenice Guerra, sem o apoio do Ministério das Comunicações, que elaborou estudo de mais de 200 páginas sobre as linhas do PNBL – totalmente ignorado pela ministra Dilma.
Eis aí um pequeno retrato das comunicações brasileiras na era Lula.
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