Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O fracasso da imprensa diante da guerra

A cerca de uma semana da eleição presidencial, o eleitor americano já foi exposto a centenas de matérias sobre os presidenciáveis, quatro debates e dezenas de pesquisas. No entanto, para o ombudsman do Washington Post [24/10/04], Michael Getler, ainda há uma pergunta que não foi respondida: como os EUA puderam entrar na guerra contra o Iraque por causa de motivos que demonstraram ser falsos? A comissão do senado que investigou o problema concluiu claramente que a maioria dos argumentos usados para levar os americanos a derrubarem Saddam Hussein era exagerado ou não era corroborado por informações da inteligência.

George W. Bush tem citado a inteligência militar como fonte das informações que o levaram a liderar os EUA para o conflito e argumenta que todos pensavam que o Iraque possuía armas de destruição em massa. O democrata John Kerry, por sua vez, votou a favor da invasão como senador e, por isso, também tem evitado discutir as motivações da guerra. Isso fez com que o tema, fundamental na opinião de Getler, ficasse fora do debate eleitoral.

É sabido que cientistas e funcionários de governo questionaram a existência de armas de destruição em massa no Iraque. Mas eles foram ouvidos pelo senado antes da guerra? Ao que tudo indica, não. Tampouco há evidência de que muitos congressistas tenham se interessado em ouvir aqueles que criticavam a operação bélica antes que ela se concretizasse.

‘E o jornalismo?’, pergunta o ombudsman. A imprensa supostamente faz parte do sistema, constitui o chamado ‘quarto poder’. No entanto, exceto em alguns poucos casos de reportagens desafiadoras, a mídia demonstrou sérias limitações. Cobrir os motivos da guerra significava ir contra o que alguns chamavam de espírito patriótico, contra o presidente e os congressistas, contra agências de ‘inteligência’ e contra os custos humanos do conflito, afirma o ombudsman, que conclui: ‘Nós fizemos de menos’.