Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

O Globo

CAMPANHA
Maiá Menezes, Paulo Marqueiro, Fábio Brisolla e Fábio Vasconcellos

Debate com o Brasil real

Finalmente, um debate de propostas sobre problemas concretos.

Numa clara tentativa de evitar o clima de guerra que adotaram nos outros debates no segundo turno, os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) se concentraram em responder aos temas propostos pelos eleitores indecisos, que relataram seus problemas reais e pediam soluções, no último debate da eleição, realizado ontem à noite pela Rede Globo. Serra provocou sutilmente Dilma ao falar de corrupção e de inflação.

Mas, na maior parte do tempo, listaram propostas para temas como funcionalismo, agricultura, segurança, saúde e saneamento.

Ao responder à pergunta do advogado Lucas Andrade, do Distrito Federal, sobre a sucessão de escândalos envolvendo políticos no país, Serra afirmou que a corrupção no país ‘chegou a níveis insuportáveis’. Na réplica sobre o tema, ele citou o caso dos aloprados, petistas envolvidos na compra de dossiê contra a campanha dele ao governo de São Paulo, em 2006. O tucano falou sobre escândalos que atingiram a política ‘nos últimos 20 anos’. Serra fez uma referência indireta a denúncias na Casa Civil, mas, diferentemente de outros embates, sem citar o nome do PT, da adversária Dilma ou da ex-ministra Erenice Guerra: — O exemplo tem de vir de cima.

Tem de ser implacável, não passar a mão na cabeça. Quando o chefe passa a mão na cabeça, é terrível, pois isso vai acabar se repetindo porque pessoas vão achar que estão protegidas.

Há casos até hoje insepultos.

Lembra do dossiê dos aloprados? Tinha R$ 1,7 milhão que a polícia apreendeu, ninguém foi condenado, não tem processo. Esse é um péssimo exemplo — disse Serra.

Consenso sobre concursos públicos

O tucano defendeu a liberdade de imprensa ao dizer que é a mídia que ‘descobre grande parte das irregularidades e não pode ser inibida, pressionada’.

Dilma, na réplica da pergunta sobre corrupção, elogiou a atuação da Polícia Federal: — Nos últimos anos, reforçamos e profissionalizamos a Polícia Federal.

Começamos a ver uma série de casos de corrupção sendo apurados. E vimos pessoas de gradação mais elevada sendo presas. Mal feito, pode ter certeza, que em qualquer lugar que não houver investigação, vai acontecer. Tem que investigar e punir.

E a PF é um dos maiores instrumentos de apuração.

A pergunta sobre agricultura familiar, feita a Dilma pelo funcionário público Robinson Luis, de Porto Alegre, foi usada como recurso para uma outra discussão: o risco da volta da inflação ao país. A questão apareceu na réplica de Serra: — O que precisa a agricultura? Precisa de renda. Para renda, precisa de crédito. Às vezes, ele não tem condição de pegar. Será necessário fazer uma reorganização ampla.

Com política de juro alto e moeda valorizada, o agricultor (gaúcho) perde competitividade para a Argentina e o Uruguai. E infraestrutura.

Ele precisa de estrada, e 40% da armazenagem são considerados ruins e falta estrada, isso encarece o preço do milho, etc. Estamos tendo aumentos imensos no preço do feijão, do arroz, leite, açúcar, carne.

Não são aumentos sazonais. A inflação de alimentos está o dobro da inflação do consumidor médio.

Dilma defendeu a política de agricultura familiar implementada na gestão Lula. E também reagiu a Serra: — Nós aumentamos o crédito, que era de R$ 4,2 bilhões, para R$ 16 bilhões, e o crédito da agricultura, principalmente a familiar, é feito com juros subsidiados, porque tem sentido social. Criamos o seguro agrícola e isso tem sido responsável pela diminuição da pobreza e o aumento da renda. Eu vou ampliar o programa de compra direta de alimentos do agricultor familiar.Vou ampliar de 700 mil (agricultores) para mais 500 mil.

Esse momento de aumento de preços de alguns alimentos é sazonal, isso aconteceu em outros momentos.

Por isso a inflação está em torno de 5,1% — defendeu Dilma, A valorização do funcionalismo público uniu Dilma e Serra. O tucano voltou a defender a concessão de benefícios por mérito e a aposentadoria integral para os funcionários públicos, ‘porque eles têm dedicação integral’. Já a petista disse que era uma tradição tratar mal o funcionário público. A partir daí, fez um balanço da gestão Lula, lembrando dos concursos públicos. E falou de educação, dizendo que o governo tem valorizado os professores: — Sou contra serviços terceirizados e precários na função pública — afirmou a petista.

Um outro tema que preocupou os indecisos foi a segurança. À pergunta feita pela costureira de Fortaleza Vera Lúcia Bezerra, Dilma reconheceu as limitações da União: — É uma situação tão grave que a União é obrigada a fazer cooperação entre estados e municípios, por exemplo, pagando bolsa aos policiais. Eu proponho a criação de políticas comunitárias.

Serra defendeu uma ação mais enérgica do governo federal: — Pela constituição cabe aos estados, mas o governo federal deve se jogar nessa luta, principalmente combatendo contrabando de drogas e armas.

A droga entrando, ela gera o crack e fomenta o crime — disse Serra, que defendeu a criação de um cadastro nacional de criminosos.

Dilma afirmou que o cadastro já existe e que o governo Lula policia fronteiras.

O debate, realizado no estúdio da Central Globo de Produção, contou com a participação de 80 eleitores indecisos, que foram selecionados pelo Ibope em todas as regiões do país. Esses eleitores redigiram perguntas importantes para o futuro na nação, escolhendo temas definidos pela produção.

Seguindo as normas acertadas com os candidatos, o debate teve três blocos. Em cada um deles, quatro eleitores fizeram perguntas. O primeiro candidato a responder em cada bloco foi definido por sorteio. As respostas, as réplicas e tréplicas tiveram duração de dois minutos.

Após o fim do terceiro bloco, Dilma e Serra fizeram suas considerações finais, encerrando o último debate da campanha.

 

LITERATURA
Demétrio Weber

Conselho do MEC quer censurar Monteiro Lobato

Parecer aprovado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) recomenda que o livro ‘Caçadas de Pedrinho’, do consagrado autor de literatura infantil Monteiro Lobato (1882-1948), deixe de ser distribuído às escolas públicas, ou que isso só seja feito caso haja a inclusão de nota explicativa sobre a presença de estereótipos raciais na obra. Para o conselho, o livro de Monteiro Lobato é racista.

O parecer foi aprovado em setembro e, para entrar em vigor, precisa ainda ser homologado pelo ministro da Educação, Fernando Haddad.

‘Estereotipia ao negro e ao universo africano’ A conselheira relatora Nilma Lino Gomes, da Câmara de Educação Básica, entendeu que trechos relativos à personagem Tia Nastácia, que é negra, e a animais como o urubu e o macaco têm elementos de depreciação racial contra os negros. ‘Estes fazem menção revestida de estereotipia ao negro e ao universo africano, que se repete em vários trechos do livro analisado’, escreveu Nilma, professora adjunta do Departamento de Administração Escolar da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde é coordenadorageral do Programa de Ações Afirmativas e do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Relações Raciais e Ações Afirmativas (Nera), segundo informações dadas por ela ao Sistema de Currículos Lattes em 29 de setembro.

Um dos trechos do livro diz: ‘(…) e tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou que nem uma macaca de carvão pelo mastro de São Pedro acima, com tal agilidade que parecia nunca ter feito outra coisa na vida senão trepar em mastros (a cozinheira corria para fugir de onças que invadiam o sítio).’ A Câmara de Educação Básica aprovou o parecer por unanimidade.

O Ministério da Educação já distribuiu o livro a escolas públicas de ensino fundamental, por meio do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), em 1998 e 2003. A seleção foi feita por especialistas indicados pelo MEC.

Ontem, a assessoria de imprensa do ministério informou que a Secretaria de Educação Básica vai estudar o caso, a partir da semana que vem. O ministro Haddad só decidirá se homologará ou não o parecer após a análise da secretaria.

O parecer do CNE transcreve nota técnica da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad), outro órgão do MEC. A Secad faz uma restrição ao livro: ‘A obra ‘Caçadas de Pedrinho’ só deve ser utilizada no contexto da educação escolar quando o professor tiver a compreensão dos processos históricos que geram o racismo no Brasil.’ No ano passado, outro livro de Monteiro Lobato — ‘O presidente negro’, o único romance escrito por ele para leitores adultos — suscitou polêmica no vestibular da Universidade Federal de Santa Catarina. Professores e representantes do movimento negro questionaram a seleção da obra como parte da prova. A UFSC manteve a escolha.

A recomendação do CNE de que ‘Caçadas de Pedrinho’ só chegue às escolas públicas com nota explicativa é ‘extensiva a todas as obras literárias que se encontrem em situação semelhante’. O conselho aproveita também moção lembrando que uma diretriz da Coordenação Geral de Material Didático do ministério diz que, entre os critérios de seleção de obras, está a ‘ausência de preconceitos, estereótipos ou doutrinações’. Para o CNE, cabe à coordenação ‘cumprir com os critérios por ela mesma estabelecidos’.

Livro foi denunciado por aluno de mestrado da UnB O caso chegou ao CNE após denúncia do servidor da Secretaria de Educação do Distrito Federal e aluno do curso de mestrado da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) Antonio Gomes da Costa Neto. Segundo ele, uma escola particular de Brasília utilizaria o livro de Lobato. Costa Neto procurou a ouvidoria da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir), que consultou o CNE.

Segundo o parecer, a denúncia de Costa Neto registra que a mais recente edição do livro traz, em sua apresentação, esclarecimentos sobre o contexto histórico da obra, que foi escrita em 1933, mas somente sobre questões do meio ambiente: ‘Essa grande aventura da turma do Sítio do Picapau Amarelo acontece em um tempo em que os animais silvestres ainda não estavam protegidos pelo Ibama, nem a onça pintada era uma espécie ameaçada de extinção, como nos dias de hoje.’

 

INTERNET
Google revelou endereço de abrigo para mulheres vítimas de violência

A Google continua a sofrer críticas sobre violação de privacidade. Um parlamentar britânico acusou ontem a empresa de revelar a localização de um centro de refúgio para mulheres que fugiram de maridos violentos. Mark Lancaster, do Partido Conservador, afirmou, durante um debate na Câmara dos Comuns sobre privacidade na internet, que o site mostra o endereço e a foto do prédio e que se recusou a tirá-los do ar depois de ter sido solicitado, segundo o jornal ‘Telegraph’.

Lancaster lembrou que a segurança daquelas mulheres e de seus filhos depende do segredo de sua localização. Normalmente, o endereço do abrigo só é conhecido depois que uma mulher procura o serviço de emergência do governo.

‘Imaginem a preocupação delas quando, ao digitar o nome da organização no Google, veem uma foto do abrigo junto a seu endereço’, disse Lancaster ao ‘Telegraph’. Ele afirmou ainda ser inacreditável que se possa invadir dessa maneira a privacidade de uma organização que protege as pessoas.

A gigante de buscas disse à rede BBC desconhecer o caso do abrigo para mulheres. Uma porta-voz disse que basta usar a ferramenta ‘relatar problema’ que está no site para que a imagem seja removida.

Conservador duvida de versão da Google sobre Street View O serviço Street View foi o principal alvo de queixas. Robert Halfon, também conservador, questionou a versão da Google de que a coleta de dados como e-mails e senhas — admitida pela própria empresa — foi acidental. Segundo o ‘Telegraph’, ele disse que os órgãos reguladores só concluíram que a Google não tinha feito nada de errado no caso do Street View porque seus poderes são limitados.

— Acho difícil acreditar que uma empresa com a criatividade e a originalidade da Google poderia mapear detalhes de WiFi, senhas e e-mails de milhões de pessoas em todo o mundo sem saber o que estava fazendo — disse Halfon à rede BBC. — Tenho a impressão de que esses dados são úteis para os propósitos comerciais da Google, e por isso foram coletados.

A Google disse à BBC que nunca teve a intenção de coletar dados e que estes nunca foram usados em qualquer produto da empresa. E acrescentou que os dados foram isolados e serão apagados assim que todos os países encerrarem suas investigações sobre o serviço Street View.

Mas há quem concorde com os parlamentares. Graham Cluley, consultor sênior da empresa de segurança Sophos, disse à BBC ter ficado surpreso com o fato de a equipe da Google não ter percebido que o Street View coletava mais do que a localização de redes WiFi.

Enquanto isso, a Google busca parcerias com fabricantes de computadores e operadoras de telefonia da América Latina para o serviço Conecta, que oferece a empresas ferramentas de conexão à internet. O diretor-executivo da companhia para a região, Alexandre Hohagen, disse à Reuters que a Google vê na América Latina uma enorme oportunidade de crescimento.

 

Internet móvel é a base das redes sociais

A mobilidade no uso dos computadores está reforçando o fenômeno das redes sociais, afirmaram ontem importantes executivos dos populares Facebook e Twitter.

— Dentro de dois a cinco anos, a questão sobre que redes sociais a pessoa usa será irrelevante, porque todas as mídias serão sociais — disse Chris Hughes, cofundador do Facebook, na quinta-feira em Boston, na conferência de investimento Impacto 2010, promovida pela corretora Charles Schwab. — As redes sociais se tornarão a moldura, o filtro para obter muitas informações.

Já Biz Stone, cofundador do Twitter, disse que a expansão das redes sociais deveria acompanhar de perto a ascensão da mobilidade pessoal, com a substituição dos computadores tradicionais por dispositivos como os celulares inteligentes: — Gostaria de ver muito menos gente debruçada sobre seus computadores em escritórios, em cinco anos — disse.

 

Respondendo e-mails no teto do mundo

KATMANDU, Nepal. Se você receber um e-mail de algum amigo afirmando que está subindo o Everest, não se assuste.

A mensagem pode não ser um spam.

Pois hoje, se alguém que resolver escalar a maior montanha do mundo tiver tempo — e vontade — de verificar seus e-mails, já pode: o local mais alto do mundo agora tem internet de alta velocidade.

Ela está instalada na base a 5.200 metros de altitude, o último posto no caminho para o topo. A obra é da Ncell, subsidiária da companhia de telecomunicações sueca TeliaSonera.

Milhares de pessoas vão até a base todo ano. Dessas, algumas centenas prosseguem na escalada até o topo, de 8.850 metros de altitude. Para se comunicar, elas eram obrigadas a carregar pesados equipamentos de satélite. Nos níveis mais baixos, elas até conseguiam falar no celular, mas não acessar a internet.

Agora, a Ncell anunciou que instalou sete estações de 3G (internet no celular) na região do Everest. Elas permitem que o usuário, além de enviar emails, também possa fazer chamadas de vídeo, por exemplo, pelo Skype. Ontem, a Ncell fez a primeira videoligação aos 5.200 metros de altitude.

O diretor-executivo da Ncell, Pasi Kostinen, afirmou que espera em breve expandir o serviço na região, onde vivem milhares de pessoas e cerca de outras 30 mil passeiam anualmente. A Ncell é uma empresa privada com sede no Nepal. A maioria das ações é controlada por investidores estrangeiros, com a TeliaSonera dona da maior parcela.

Já em Washington, D.C., as ligações de celular ainda caem, observou um blog do jornal ‘Washington Post’ ao comentar ontem a notícia. Enquanto cerca de 1.400 montanhistas alcançam o topo do Everest todo ano, quase 800 mil pessoas andam de metrô diariamente na capital americana, com problemas para conseguir acesso.

 

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Estado de S. Paulo – Sábado

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