Faz 14 meses que os EUA estão no Iraque, mas há apenas pouco mais de um mês começaram a surgir notícias mais duras na imprensa americana, levando ao público a face obscura do horror que é a guerra. Os jornais e a TV mostraram fotos de caixões cobertos com a bandeira americana. Houve o caso dos quatros seguranças particulares americanos queimados e mutilados por uma multidão de iraquianos. Em seguida, veio à tona o escândalo dos abusos de soldados de ocupação contra prisioneiros. Num especial do programa Nightline, da rede ABC, o apresentador Ted Koppel leu o nome dos mais de 700 americanos mortos desde o começo da invasão.
Todos esses acontecimentos resultaram em muitas cartas e mensagens para o ombudsman do Washington Post, Michael Getler. Mas, como aponta em sua coluna de 9/5/04, o que mais gerou repercussão foram mesmo as fotos de abusos de prisioneiros iraquianos praticados por soldados americanos, inclusive uma em que uma cabo do exército puxa um homem nu por uma coleira. Esta foi obtida com exclusividade pelo Post. Alguns leitores reclamaram que as imagens foram excessivas. ‘Quanta vergonha temos de sentir?’, escreveu um. ‘Estamos nos abatendo. Sem mais fotos. Já entendemos o recado’, pediu outro. Um terceiro leitor perguntou por que o rosto do prisioneiro humilhado não foi coberto.
Houve também muitas queixas com fundo político. Essas diziam que o diário estaria causando danos ao país, incitando o ódio dos muçulmanos, e que teria ficado claro que ‘a mídia de elite odeia (o presidente) Bush’. Para Getler, representar a realidade da guerra, mesmo em seus aspectos mais cruéis, é um dever patriótico de um jornal numa democracia.
O ombudsman observa que, no caso de abusos, o Post demorou a noticiar o assunto. Quando as forças armadas tocaram pela primeira vez no assunto publicamente, em meados de janeiro, jornais como The New York Times, Los Angeles Times, The Philadelphia Inquirer e a agência AP publicaram matérias a respeito. O Post só o mencionaria no dia 24/2, numa nota de três frases. Depois, à medida que os incidentes foram ganhando mais destaque, o jornal parece ter hesitado em colocá-los em destaque na capa. Getler não dá uma explicação para tal atitude. Comenta apenas que a guerra exige da imprensa um estado de alerta permanente para seus diversos aspectos e que reportagens investigativas deveriam ter sido feitas com mais antecedência, já que a ocorrência de abusos havia sido notificada, ainda que de forma superficial, há quatro meses.