O ombudsman do Washington Post, Michael Getler, diz em sua coluna de 29/8/04 ter recebido muitas mensagens sobre a polêmica causada pelo grupo Swift Boat Veterans for Truth ao acusar o candidato presidencial democrata, John Kerry, de ter mentido sobre sua atuação na Guerra do Vietnã. Segundo o ouvidor, Kerry fez da participação naquele conflito uma questão central em sua campanha e, por isso, seus ex-colegas de combate têm o direito de questionar suas afirmações publicamente.
Getler acredita que a imprensa tem desempenhado um importante papel na discussão sobre as acusações que organizações supostamente apartidárias têm feito tanto contra Kerry como contra Bush. O Post estaria se destacando nessa cobertura, especialmente graças às matérias do repórter Michael Dobbs. Lendo as reportagens, o ombudsman diz ter se defrontado com falhas e contradições nas alegações de grupos de ambos os lados, mas que as mais graves seriam as dos Veterans for Truth.
Citando exemplos de contradições, Getler diz ter ficado surpreso com duas matérias de capa do dia 21/8 – que, por sinal, não foram escritas por Dobbs –, que falavam de um novo anúncio anti-Kerry dos Veterans for Truth que começaria a ser transmitido pela TV. Ambas tinham introduções muito agressivas sobre como Kerry teria ‘traído colegas soldados e desonrado o país’ ao entrar no movimento de oposição à Guerra do Vietnã. De fato, o candidato democrata ofendeu muitos veteranos após se voltar contra a intervenção no país asiático, no começo dos anos 70. Ele mesmo já admitiu ter exagerado no linguajar ao defender suas opiniões. Mas houve milhares de outros veteranos que também se tornaram favoráveis à paz, principalmente com a constatação de que os americanos estavam cometendo atrocidades. Neste sentido, as matérias careciam de melhor contextualização histórica.
A polêmica está longe do fim e ainda há muitos fatos e acusações que a imprensa precisa pôr à prova. Getler conclui, no entanto, que independente das novas acusações que surgirem, não se pode ignorar que Kerry, mesmo tendo condições de vida privilegiadas, foi voluntário para executar uma das funções mais perigosas que a Marinha americana tinha no Vietnã. Mesmo o presidente Bush admitiu que ele ‘serviu admiravelmente’ e ‘deve se orgulhar de sua história’.