Jornalistas do New York Times enfrentam, diariamente, um dilema: a escolha de termos para apresentar as notícias de maneira clara e imparcial. A catástrofe causada pelo furacão Katrina seria um ‘desastre natural’ ou ‘provocado pelo homem’ ? As construções autorizadas por Israel na parte leste de Jerusalém devem ser descritas como ‘alojamentos’ ou ‘residências’?
A importância destas escolhas é notada quando pessoas ou organizações acusam os repórteres de imprecisão ao usar eufemismos ou tomar partido, diz o ombudsman do NYTimes, Clark Hoyt, em sua coluna de domingo [16/5/10]. No mês passado, o leitor Stuart Gardiner, de São Francisco, irritou-se porque o jornalão escreveu que o governo americano autorizou a ‘morte seletiva’ (em inglês, ‘targeted killing’) de um cidadão americano, Anwar al-Awlaki, que, acredita-se, esteja planejando ataques aos EUA. Para Gardiner, o jornal usou um eufemismo para ‘assassinato’, o que reduziu a decisão de matar uma pessoa a algo quase ‘sanitário, sem sangue e burocrático’.
Segundo Scott Shane, repórter que escreveu o artigo, a escolha das palavras foi feita de modo cuidadoso porque há um debate legal e político sobre se matar Awlaki poderia se enquadrar na definição de assassinato pelo governo, o que é proibido por ordens executivas assinadas por três presidentes – Gerald Ford, Jimmy Carter e Ronald Reagan. As ordens, no entanto, não definem o que é assassinato. Na opinião de Dean Baquet, chefe de redação da sucursal de Washington, o termo não teria sido um eufemismo como os usados rotineiramente pelos governos para ofuscar o verdadeiro significado. Para Hoyt, o termo não poderia ter sido mais bem escolhido.