Há dois domingos, o Washington Post tomou uma decisão que teve um impacto negativo entre os leitores. O espaço daquela edição dedicado aos obituários pagos foi substituído por anúncios publicitários. As reclamações começaram a chegar naquele mesmo dia, conta o ombudsman do jornal, Michael Getler [18/9/05]. Na edição de segunda-feira (12/9), uma matéria dava conta do problema: ‘O Washington Post vendeu muitos anúncios publicitários para a edição de ontem e cortou duas páginas de avisos de mortes pagos, enfurecendo muitas pessoas que esperavam vê-los. A maioria destes obituários está no jornal de hoje’. O texto, assinado pelo repórter David Nakamura, explicava que a venda de publicidade superior ao espaço no jornal só foi descoberta no sábado. O diretor de operações e planejamento do Post era citado, dizendo que o corte de publicidade das seções de notícias traria um problema maior e poderia levar o jornal a perder renda.
A emenda parece ter saído pior que o soneto, e as reclamações, por cartas e e-mails, aumentaram consideravelmente depois da matéria explicativa do dia seguinte. ‘Infelizmente, parece que a administração do Post favorece seus anunciantes, e não as famílias em luto e os mortos’, escreveu um leitor. ‘Foi uma decisão pobre; uma escolha de prioridades pobre e insensível’, afirmou outro. Um ex-jornalista escreveu para dizer que ‘óbitos são prioridade. Nada é mais próximo e íntimo aos leitores do que questões pessoais de vida e morte’. Um leitor desabafou: ‘Será que as pessoas não entendem que avisos de falecimento não são simplesmente pequenos anúncios? No mínimo, deveria ser publicado um pedido de desculpas’. Getler concorda. ‘Enquanto o Post, como organização de mídia, fez a coisa certa ao reportar, de forma franca, seu erro, o que eu acho espantoso é não ter havido nenhum pedido de desculpas por parte da administração do jornal’, diz.
O ombudsman conta que questionou a – falta de – existência do pedido de desculpas, e foi informado de que o departamento de publicidade do Post estava preparando cartas para as empresas funerárias e famílias afetadas pela manobra, e que estas cartas seriam enviadas esta semana. Getler diz que entende que, para qualquer grande negócio, um problema de produção quando não há tempo para uma solução justa é um pesadelo. Segundo ele, geralmente não há boas respostas – há apenas algumas que são menos piores que outras. Resumindo, o ombudsman diz acreditar que a decisão tomada pelo Post no sábado (10/9) pode vir a ser mais custosa a longo prazo do que as outras alternativas que o jornal teria para o problema.