Fontes anônimas sempre foram um tema controverso e ganharam ainda mais espaço para debate depois do caso do vazamento da identidade da agente da CIA Valerie Plame, que levou ao recente indiciamento de I. Lewis Libby, então chefe de gabinete do vice-presidente dos EUA, Dick Cheney. Libby foi acusado de obstrução à justiça e perjúrio e, por isso, renunciou ao cargo no governo. Em coluna publicada no domingo [6/11/05], a nova ombudsman do Washington Post, Deborah Howell, entra no debate.
Deborah afirma que, em conferência sobre ética no jornalismo realizada pela Fundação McCormick Tribune e pela Sociedade Americana de Editores de Jornais, realizada na semana passada em Chicago, o tema mais discutido por 40 repórteres, editores, acadêmicos e advogados foi o uso de fontes anônimas. Muitos participantes disseram ter ficado assustados pelo fato de jornalistas terem sido obrigados a testemunhar na investigação do caso Valerie Plame.
Lucy Dalglish, advogada e ex-repórter que hoje dirige o Comitê de Repórteres pela Liberdade da Imprensa, afirmou que ‘o público deve ter acesso à verdade, mas os repórteres não podem ser agentes de investigações do governo ou litigantes civis’. Muitos participantes da conferência concordaram que é necessária a criação de uma lei federal que proteja jornalistas de ter de testemunhar e identificar suas fontes perante um tribunal.
Por outro lado, o repórter da seção de segurança nacional do Post, Walter Pincus, afirmou que quando fontes ‘correm risco de perder o emprego ou de enfrentar uma ação legal’ por fornecer aos repórteres determinada informação, ‘nós temos que correr o mesmo tipo de risco’.
Política do Post
Deborah alega que o Post está entre os jornais e organizações da mídia que tentam controlar o uso do anonimato, por acreditar que a credibilidade de uma matéria é prejudicada quando os leitores não sabem quem são as fontes citadas ou onde elas trabalham. O jornal tem o compromisso de, sempre que possível, revelar aos leitores as fontes de informação em suas matérias.
O Post adotou novas regras para fontes anônimas em fevereiro de 2004. Deborah oferece-se para enviar a cópia das normas para quem se interessar e afirma que elas também estarão disponíveis em breve no sítio do jornal.
Na semana passada, duas matérias de primeira página exemplificaram o uso de fontes anônimas – uma da jornalista Dana Priest e outra do correspondente da Casa Branca Peter Baker.
A matéria de Dana revelava o sistema secreto de prisão da CIA para supostos terroristas da al-Qaeda na Europa Oriental. Ela teria entrevistado fontes nacionais e internacionais ao longo de três anos e afirmou que nenhuma delas teria falado em on por temer a perda de seus empregos, já que a maioria das informações era confidencial. A matéria gerou comentários a favor e contrários, mas nenhum mencionou o uso de fontes anônimas.
Já a matéria de Baker era sobre a iminente indicação de um membro da Suprema Corte pelo presidente Bush. Em um e-mail, um leitor afirmou que sempre considerou Peter Baker um excelente repórter, mas o que não conseguia entender era uma possível razão para o anonimato da fonte em sua matéria. Em resposta à mensagem, Baker afirmou que há na Casa Branca, atualmente, tal obsessão pela discrição que leva qualquer pessoa que fale à imprensa a pedir anonimato, para não pôr seu emprego em risco. ‘Você levantou uma boa questão e nós precisamos ser os mais parcimoniosos possíveis neste tema’, explicou Baker.