‘Com a estréia do programa Silvia Poppovic a TV Cultura finalmente inaugurou a sua nova grade noturna – e, como se esperava, as reações do público se dividiram em críticas e elogios. É interessante constatar, nas dezenas de e-mails que recebi, como quase todos têm razão em suas observações. Com uma peculiaridade: os que me escreveram para criticar não elogiam nenhum aspecto do programa, só vêem defeitos; e os que elogiam não fazem qualquer reparo, aplaudem tudo com entusiasmo.
Para mim ficou fácil comentar, exatamente porque os pontos positivos e negativos que percebi quase sempre coincidem com as observações do público. Ou seja, o programa não está totalmente bom nem totalmente ruim – e, o que é positivo, não passou despercebido. Esperei o segundo programa ir ao ar, dia 7/4, para só então me manifestar, pois estréia é sempre uma espécie de declaração de intenções sujeita a correções, modificações, etc.
Dois aspectos chamam a atenção, independentemente dos conteúdos em si.
Primeiro: a TV Cultura admite um programa autoral – o que não é comum. O título do programa é Silvia Poppovic. Não se trata de um programa da Cultura apresentado pela Silvia, mas um programa da Silvia exibido pela Cultura. Se o título fosse, por exemplo, Qualidade de Vida, teria sobrevida (quando e se fosse o caso) com outra apresentadora ou apresentador. Como o Provocações, sem o Abujamra, ou o Vitrine, sem o Marcelo Tas. Neste caso, não. Só Silvia Poppovic pode conduzir um programa chamado Silvia Poppovic.
Segundo: o horário, nobilíssimo – quinta-feira, das 22 às 23:30 –, demonstra que este será o carro-chefe da nova programação. Ainda mais que a reprise não se dá em horário alternativo, à tarde, mas sábado à noite. Com isso, a Cultura estende tapete vermelho, dá a Silvia tratamento de estrela e aposta suas mais valiosas fichas no sucesso do programa.
É uma aposta de risco, para o bem e para o mal.
O lado bom: Silvia é uma pessoa culta, inteligente, bem-humorada, simpática, elegante, sagaz, de bem com a vida. E também uma profissional experiente, com perfeito domínio ‘de cena’, à vontade em qualquer estúdio de TV, natural e autêntica diante das câmeras. ‘A Silvia é uma mulher de conteúdo’, elogia Pérsio Gimenes, 40 anos, de Santo André, SP. ‘Ela tem carisma e credibilidade’, opina Nina Musolino, 47, da Capital. A proposta do programa, de abordar a questão da qualidade de vida, tem temas bem escolhidos e gente qualificada falando a respeito.
O outro lado: Silvia nunca fala bobagens, mas fala demais – e se torna cansativa, pois o programa dura hora e meia. Esse aspecto ocupa 80% das críticas que recebi. ‘Ela se auto-entrevista o tempo todo’, reclama Riva Liberman, de Cotia, SP. Já para Paulo Camargo, 37, de Curitiba, PR, Silvia é ‘dona de uma ansiedade irritante’, o que a faz ‘responder pelos entrevistados’, em vez de ouvi-los.
Há um ponto importante, que aparece em 90% das críticas: o programa está muito elitista. A pauta é boa, mas a realização privilegia, nos exemplos mostrados, a classe média alta. Se a Cultura está tentando atrair o público A-B, acertou em cheio. Se, no entanto, seu alvo são os públicos B-C ou C-D, alguma coisa deve ser mudada. Para ficar no exemplo mais citado pelos telespectadores, o tema ‘como lidar com o seu cão’: os mesmos ensinamentos ambientados em casa ou apartamento de alto padrão podem perfeitamente ter como cenário uma casa de vila no Ipiranga ou um quintal de sobradinho geminado do Tatuapé. Glamour é um acessório dispensável e, no caso, inadequado.
Mais de metade dos e-mails com críticas opinam contrariamente ao horário do programa. Como observa Márcia Palma, de Brasília, DF, ‘no horário noturno estamos a fim de relaxar’, ou então optar por ‘debates com filósofos, que a Cultura só exibe lá pela meia-noite’. Parece que o público habituou-se a ver Silvia no ar em horários vespertinos e agora estranha a opção feita pela Cultura.
Penso que nos próximos meses essa questão será avaliada todas as semanas, juntamente com as reações do público e os índices de audiência. A conferir.’