‘Foi num 24 de setembro, de 1989, a estréia do primeiro ombudsman da imprensa brasileira – Caio Túlio Costa, na Folha de S. Paulo. Passados exatos quinze anos, a TV Cultura torna-se hoje a primeira emissora de televisão do Brasil a ter o seu ombudsman.
Quinze anos atrasada, e ainda assim pioneira? Esse paradoxo talvez explique um pouco o percurso da jovem democracia brasileira rumo à maturidade. Ela tem hoje 16 anos, se considerarmos que a sua certidão de nascimento, a Constituição Federal, data de 1988. Nos 488 anos anteriores, o Brasil teve não mais que uns poucos e breves intervalos de franquias democráticas, como nos anos JK. Mas toda a sua história, da Colônia à República, passando pelo Império, é da vigência de algum tipo de autoritarismo.
Conquistada a democracia, logo a sociedade tratou de praticá-la e de aperfeiçoá-la. Surgiram então novas conquistas: o Código de Defesa do Consumidor, o Estatuto da Criança e do Adolescente, o fortalecimento do Ministério Público, as políticas em defesa do meio ambiente e a criação de centenas de ouvidorias em órgão públicos e empresas privadas.
No entanto, o espaço democrático por excelência, que é a imprensa livre, não abriu suas entranhas. A Folha de S. Paulo e O Povo, de Fortaleza, ousaram. E só agora, quinze anos depois, uma TV comete a mesma ousadia. E tinha de ser a Cultura, primeira TV educativa e primeira TV pública do país.
Fica a interrogação: por que os grandes jornais e as redes de televisão esse tempo todo não aderiram à idéia?
Quando Marcos Mendonça me convidou para a função de ombudsman, indaguei: você sabe o tamanho da encrenca que está criando? Ele sabia, e rebateu: a democracia é o regime da encrenca; tranqüilas são as ditaduras.
É claro que não vim aqui para procurar, ou provocar, encrenca. Não sou crítico de TV nem vou catar pêlo em ovo. O papel do ombudsman é servir de elo entre a emissora e seu público, e vice-versa, e também o de lançar um olhar crítico sobre a programação, sempre em defesa da qualidade a que o público tem direito.
Neste espaço haverá sempre um comentário sobre esse tema – a qualidade – por natureza subjetivo e, por isso mesmo, abordado na primeira pessoa d singular. Nada melhor que começar por duas questões de fundo: os conteúdos de uma TV pública em um país como o Brasil e, nela, o papel reservado ao jornalismo em seus diferentes formatos. No próximo comentário.’
***
‘
Erro imperdoável‘, copyright TV Cultura (www.cultura.com.br/ombudsman), 23/9/04‘O Jornal da Cultura de quinta-feira, 23 de setembro, cometeu um erro gravíssimo, imperdoável. Em reportagem sobre entrevero de rua no bairro paulistano da Capela do Socorro, entre a comitiva do candidato a prefeito José Serra, do PSDB, e militantes do Partido dos Trabalhadores, pôs no ar entrevista com um petista e não ouviu nenhum tucano. É lamentável que o principal telejornal da casa cometa dois crimes ao mesmo tempo: um, eleitoral (a lei exige isonomia), o que expõe a Cultura a punição pelo TRE que, no limite, pode até tirar a emissora do ar; e outro, contra o bom jornalismo, que também exige ouvir os dois lados. Após a matéria, o apresentador Heródoto Barbeiro mencionou declarações de partidários de Serra, mas isso não é suficiente. Ficou evidente a intenção de favorecer a versão petista.’
***
‘
Síndrome da reprise‘, copyright TV Cultura (www.cultura.com.br/ombudsman), 23/9/04‘A imprensa, e também espectadores, volta e meia reclamam do abuso de reprises na programação da TV Cultura. A reprise é até recomendável, em horário alternativo, devidamente identificada como tal. Quem não pode assistir no horário normal tem a opção de fazê-lo em outro dia e hora. Isso todo mundo entende e aplaude.’