‘Muitos acionistas me mandam mensagens contendo críticas, sugestões, reclamações ou simples pedidos de informações que procuro responder uma a uma, quase sempre após consulta à área correspondente da Cultura. Outros, porém, enviam comentários sobre os mais diversos temas e pedem – ou até exigem – a minha opinião a respeito. Deixei acumular um número expressivo dessas abordagens, agrupando-as por temas, e hoje ponho minha posta restante em dia.
Acionistas: A grade da TV Cultura está errada. Os melhores programas (Café Filosófico, Grandes Cursos Cultura, Nossa Língua Portuguesa, Grandes Mestres da Literatura, Vestibulando, Balanço do Século XX) deveriam estar no horário nobre.
Ombudsman: Já fiz vários comentários e notas sobre a grade da programação. O diretor de programação, Mauro Garcia, informou que as alterações, constantes ultimamente, por força do que ele chamou de ‘acomodação’, acabariam em julho; e que, portanto, a Cultura teria uma grade definida e estável a partir de agosto. Mesmo que haja a anunciada estabilidade (programas em dias e horários fixos, sem alteração de última hora), não há notícia de que aqueles reclamados pelos acionistas serão exibidos antes das onze da noite. Repito opinião já emitida neste espaço: não consigo entender, e por isso creio não existir, um nexo na grade de programação da Cultura. Qual é o papel da TV pública, de sinal aberto, como difusora do conhecimento? Nunca tive resposta a essa indagação. Creio mesmo que esse assunto não está em discussão. Eu tenho uma opinião muito clara a respeito. Televisão aberta, sustentada majoritariamente pelo erário, deveria destinar-se preferencialmente ao público que não tem outro meio de acesso ao conhecimento (livro, meio cultural, escola superior), nem como pagar assinatura de canal fechado. É o caso do Vestibulando (hoje fora da grade), que já ajudou milhares de jovens, que não podiam pagar cursinho, a entrar na faculdade.
Acionistas: Temos preferência por documentários, afirmam 50% dos votantes na enquete exibida nesta página. Por que a Cultura não produz mais documentários?
Ombudsman: Os documentários são uma das formas mais atraentes e eficientes, em linguagem de televisão, para a difusão do conhecimento. Em boa parte, o prestígio mundial da BBC se deve aos seus documentários. Há canais na TV paga, como o Discovery, especializados em documentários. A Cultura não tem orçamento para sustentar uma produção própria volumosa, contínua e com excelência, de documentários. Mas poderia comprar algumas séries, nas feiras internacionais, a preços de ocasião. Outro dia um desses canais fechados exibiu um belo documentário (produção americana) sobre a construção da usina hidrelétrica de Itaipu. Deve ter pago uma ninharia por ele. Documentários são um ramo do jornalismo – e, na Cultura, o jornalismo vive situação transitória, de substituição de comando, há meses.
Acionistas: Uma TV pública, tal como a escola pública, deve ser laica. Por isso, não se justifica a transmissão, semanal, da missa de Aparecida. Ou abrem a programação para outros cultos religiosos, ou tirem a missa do ar.
Ombudsman: Concordo plenamente com a tese. Encaminhei há meses, formalmente, essa questão à direção da emissora, sugerindo até que o tema fosse objeto de debate no Conselho Curador. Ainda não tive resposta. Temos aí uma situação delicada: a TV Cultura, por ser pública, deve ser laica, embora a sua mantenedora seja uma Fundação chamada Padre Anchieta.
Acionistas: Os comentaristas do Jornal da Cultura são muito parciais. E o jornalismo, oficialmente, apóia a campanha do desarmamento, um tema em aberto na sociedade.
Ombudsman: Discordo. O Jornal da Cultura tem, em seu quadro de comentaristas, alguns dos maiores nomes do jornalismo brasileiro em suas especialidades: Luís Nassif, Juca Kfouri, Alexandre Machado e Renato Lombardi. O principal atributo de um comentarista é a sua capacidade de analisar determinado assunto, sob variados ângulos, mas ele não está proibido de opinar. Acho até que eles têm opinado pouco. Quanto à campanha de desarmamento, considero ser um dever da TV pública apoiar abertamente o combate à violência. Ninguém jamais teve uma razão nobre ao comprar uma arma.
Acionistas: Programo o video-cassete para gravar Anos Incríveis e, quando chego em casa e disparo o ‘play’, aparece um jogo de futebol.
Ombudsman: Isso é conseqüência dos solavancos da grade que, prometeram, terminariam em julho. Mas é também resultado da péssima qualidade das chamadas nos intervalos da programação. As chamadas servem também para avisar o público, com a devida antecedência, sobre alterações de programas e horários. É uma questão de respeito, nem sempre observada. As chamadas da TV Cultura não seguem nem mesmo o mais elementar princípio de linguagem de televisão, como o uso das palavras ‘amanhã’, ‘hoje’ e daqui a pouco’. Dez minutos antes do Roda Viva ir ao ar, a chamada do programa informa: ‘segunda-feira’…’
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‘Festival de queixas’, copyright TV Cultura (www.tvcultura.com.br/ombudsman), , 28/7/05.
‘Compositores inscritos e não incluídos nos 48 selecionados para a fase decisiva do Festival Cultura – A Nova Música do Brasil me escrevem pedindo que tome uma posição sobre os critérios de escolha das músicas. Já me manifestei, nesta página, a respeito desse assunto, e não pretendo voltar a ele – pelo menos quanto aos critérios. Sabe-se que são subjetivos, como reza o próprio regulamento do certame, até mesmo quanto ao conceito de música inédita. Os preteridos têm todo o direito de reclamar e até de recorrer à Justiça. Compreendo a irritação (que em alguns casos beira a má educação) de alguns reclamantes, mas as instâncias de apelação são o comitê de seleção e a coordenação do evento. Eu limito minhas observações ao que vai ao ar na tela da Cultura.’