Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Osvaldo Martins

‘Quando, há oito anos, o maestro John Neschling assumiu a direção da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), realizou-se um concurso público para a formação do novo elenco – e todos os seus integrantes puderam concorrer. Participaram da seleção músicos jovens e veteranos, brasileiros e estrangeiros. Muitos foram aprovados, muitos reprovados. Alguns aprovados desistiram de continuar.

Os desistentes, os reprovados e alguns músicos que não faziam parte de nenhuma das duas condições foram contratados pela Fundação Padre Anchieta, que instituiu a orquestra Sinfonia Cultura. À época a formação desse corpo estável foi submetida pela Diretoria à aprovação do Conselho Curador da FPA, que a aprovou. Pesou muito nessa decisão do Conselho a possibilidade, que parecia certa, de a Secretaria da Educação do Estado bancar boa parte dos custos de manutenção da orquestra, levando-a a todo o Interior do Estado em concertos nas escolas da rede pública. Além disso, haveria audições para a rádio e a TV Cultura.

Como se sabe, a Secretaria da Educação não viabilizou aquela possibilidade, e os custos da orquestra foram assumidos pela FPA. E não houve, também, o aproveitamento da orquestra em programas da rádio ou da TV Cultura. A Sinfonia Cultura passou a apresentar-se quinzenalmente no Sesc Belém, na Capital, com um repertório dedicado a compositores brasileiros.

Agora a direção da FPA decidiu tirar a orquestra da sua folha de pagamentos, alegando que a medida representa uma economia anual em torno de R$ 3 milhões. Antes tentou convencer o Sesc a contratar os músicos, mas não conseguiu.

Para minimizar o problema de desemprego, o presidente da FPA, Marcos Mendonça, saiu a campo na tentativa de recolocar os profissionais no mercado de trabalho. Conseguiu vagas em outras orquestras mantidas pelo Estado e no corpo docente do Conservatório Musical de Tatuí, o mais conceituado do país. Além disso, a Osesp abre agora novas vagas e todos os interessados poderão tentar de novo um lugar na melhor orquestra sinfônica da América Latina. Tomara que todos os músicos da Sinfonia Cultura possam dar continuidade às suas carreiras, tocando e/ou ensinando a tocar.

O fim da Sinfonia Cultura foi debatido nos jornais, com leitores protestando e a direção da FPA oferecendo explicações. Ninguém gosta de ver uma orquestra ser extinta – nem o Marcos Mendonça que, justiça se faça, criou várias. Do ponto de vista do interesse do telespectador da TV Cultura, que me cabe defender, fica a sensação de ausência de causa. Como lamentar a perda de algo que não se tinha?’