‘Depois da Band e do SBT, foi a vez da Record estrear, no final de janeiro, seu novo telejornal. O Jornal da Record versão Celso Freitas substitui o anterior, comandado por Boris Casoy, e reforça velhos argumentos tão batidos que se tornam enfadonhos – os de que cabe à TV Cultura o papel de pôr no ar um telejornal que explique os fatos.
Tenho a impressão de que ninguém (eu, com certeza) agüenta mais bater na mesma tecla. Há 16 meses defendo, neste espaço, a tese segundo a qual a alternativa ao jornalismo-show que as emissoras comerciais praticam não é o nunca explicado jornalismo público, mas algo muito simples e claro: o jornalismo que permita ao distinto público entender melhor o que se passa no mundo e ao seu redor.
No final de agosto do ano passado a direção da Cultura determinou mudanças nos conteúdos e no formato do Jornal da Cultura. No início de setembro essas mudanças foram debatidas com os profissionais da casa, à frente o diretor da área. Ficou pactuado que seriam necessários três meses para promover as alterações. Passado o prazo, início de dezembro, nada. Janeiro, idem. Fevereiro, também.
Tudo indica que, mantida a tradição, o marasmo dos últimos dez anos vai-se prolongar por igual período. A Cultura não precisa de jornalismo para ser uma boa TV pública mas, se a sua opção é por tê-lo, deveria levar mais a sério o seu compromisso com o telespectador.
Sempre que abordo esse assunto tenho o cuidado de verificar antes se alguma modificação está para acontecer. Até onde sei, estudam-se mudanças no formato do JC e até mesmo um piloto estaria para ser gravado. Ou seja, nada de novo irá para o ar nos próximos dois ou três meses.
Com o agravante de que mudar o formato não resolve o problema. O que o principal telejornal da emissora precisa é de inteligência, criatividade, acuidade, agilidade – em suma, competência e dedicação ao trabalho para produzir bons conteúdos. Sem isso, não há novo formato que segure. Não adianta revestir de bela embalagem uma mercadoria de má qualidade.
O Jornal da Cultura continua arrastado, repetitivo, desinteressante. Nada acrescenta ao que os demais telejornais já informaram antes dele. O tal do jornalismo público é uma ficção ou, no máximo, uma estratégia de marketing. A Cultura procura compensar suas deficiências com a produção de programas jornalísticos feitos fora da emissora, o que tem um lado positivo, mas não resolve o problema. O nível do jornalismo da casa é aquele que está em seus telejornais, sobretudo no JC – e este, há anos, dá sono.
Agora que todas as emissoras já estrearam seus novos telejornais e neles reafirmam sua preferência pelas fast-news, os telespectadores da Cultura indagam: até quando ela vai persistir na letargia e perder oportunidades?’