Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Paula Cesarino Costa

A relação do leitor da Folha com a editoria de “Esporte” sempre foi conflituosa, de amores e de ódios. Sem pautar-se por uma cobertura esportiva tradicional, o jornal desagradava ao típico torcedor de futebol. Primeiro, massificou o uso de gráficos e o de quantificação numérica da prática esportiva, tendo sido o primeiro a usar estatísticas, preparadas pelo Datafolha, na análise esportiva.

Caracterizou-se também por investir em reportagens investigativas, em mostrar o que está por trás da política do esporte e manter-se longe do oba-oba que marca o jornalismo esportivo, especialmente na TV. Na frase de um dos admiradores do seu estilo jornalístico, a Folha sempre teve a melhor cobertura sobre política esportiva, mas, muitas vezes, faltava esporte em meio a tanta política.

Com o jornal em transformação, e cada vez menor, os leitores têm sido cruéis em suas avaliações.

“Não há outra palavra pra descrever o caderno hoje, senão medíocre. Ou pior”, reclamou um. “O que a Folha vem fazendo com ‘Esporte’ é um desrespeito. Cada vez menos informações, menos espaço para clubes paulistas e muito espaço para os de fora, principalmente o Barcelona. A Fórmula 1 sumiu. Muitas vezes o noticiário está reduzido a uma página”, queixou-se outro.

A última semana foi exemplar em como o jornal tem tratado mal o esporte. A desclassificação da seleção na Copa América, no domingo (12), foi tratada com descaso na Primeira Página. Além do caráter histórico, a eliminação poderia derrubar o técnico, como de fato ocorreu.

Na edição de sexta (17), havia dois jogos do Brasileirão a relatar, mas o jornal só tratou de Fluminense x Corinthians, sem citar o jogo do líder Internacional. Não havia nem a tabela de classificação.

Para o secretário de Redação Vinicius Mota, não há desinvestimento em “Esporte”. “O jornalismo da Folha se torna, como tendência, mais seletivo e analítico em todas as áreas e plataformas, para lidar eficientemente com a disputa acirrada pela atenção do leitor. O denodo com a cobertura esportiva pode ser notado na manutenção do mais influente quadro de colunistas esportivos do país”, aponta.

Mota reconhece que a desclassificação na Copa América merecia mais destaque, mas aponta que o jornal se recuperou durante a semana no noticiário sobre a queda de Dunga e a ascensão de Tite.

Naief Haddad, editor de “Esporte”, explica que a versão impressa dá prioridade aos times paulistas e que, no site, há abrangência maior. “É natural que, nos meses que antecedem o maior acontecimento esportivo do mundo, a editoria de Esporte, em suas versões impressa e online, seja mais diversificada, com mais reportagens sobre outros esportes, não só futebol.”

A Folha precisa reformular seu projeto de cobertura esportiva. O pouco espaço requer apostas, pesquisas e audácia para qualificar a equipe e a narrativa, nas versões impressa e digital.

A primeira Olimpíada na América do Sul é desafio e risco para um jornal que tem em sua história grandes coberturas de Copas do Mundo, com ousadias gráficas, pautas surpreendentes e abordagem crítica num ambiente em que reina o ufanismo.

SEM DAR BOLA PARA O SANTOS

Atual bicampeão paulista, o Santos é o segundo time de muito torcedor. Ainda carrega a simpatia do time de Pelé, que representava o Brasil mundo afora. Leitores reclamam que o jornal dá menos destaque ao alvinegro praiano do que a Corinthians, São Paulo e Palmeiras, deixando até de noticiar resultados de jogos. Não há como negar.

O editor de “Esporte”, Naief Haddad, afirma que o Santos “tem a quarta maior torcida paulista. Esse fator é considerado para definir a visibilidade, juntamente com outros como destaque do clube no campeonato, proximidade de decisão, e mudanças no time ou de técnico”.