‘No primeiro dia do novo governo a Agência Brasil disponibilizou um infográfico para os leitores (http://agenciabrasil.ebc.com.br/home ) que supostamente informaria quem eram os ministros recém-empossados.
A apresentação inicial do infográfico, em cores neutras ( preto,cinza e branco sobre fundo verde musgo), pouco convidativa, traz uma planta baixa da Esplanada dos Ministérios, sem legenda de identificação, irreconhecível para quem nunca viu ou esteve naquele lugar. Tampouco correndo-se o mouse pela planta aparece alguma informação identificando o que significam os símbolos dos edifícios. A única informação gráfica presente são duas setas indicando os símbolos do lado sul e do lado norte – totalmente irrelevante. Levam o leitor ao primeiro beco sem saída e sem retorno – ele é obrigado a seguir uma das setas aparentemente desconexas ou voltar para a página inicial da ABr.
Se clicar na seta do lado sul aparecem sete caixinhas brancas, também sem identificação, sequer correndo-se o mouse sobre elas. Até esse ponto o leitor continua no escuro não sabendo absolutamente onde encontrar os ‘ministros’ prometidos. No canto inferior direito aparecem outros quatro misteriosos ‘prédios’ – mais caixinhas brancas sem legendas. No canto superior direito a seta indicando o caminho do misterioso ‘lado norte’. Para onde leva? Para treze caixinhas brancas. Correndo-se o mouse sobre elas, de repente, em duas delas aparecem legendas: ‘Comando da Marinha – Ministério da Defesa’ e ‘Comando da Aeronáutica – Ministério da defesa’. As outras onze caixinhas permanecem ‘caladas’. Até chegar a esse ponto o leitor já perdeu alguns preciosos minutos de sua vida tentando ‘desvendar’ a arte gráfica e se não tiver maior interesse sobre os dois ‘Comandos’ apresentados, simplesmente comandará seu navegador em direção à página inicial ou escreverá para esta Ouvidoria perguntando: ‘onde estão os Ministros do governo Dilma?’.
Foi isso que fez o leitor João Rodrigues da Costa.
Resposta da ABr:
‘A área técnica da Agência Brasil foi informada e vai melhorar as condições de navegação no infográfico’.
A única modificação feita: acréscimo da barra ‘Fechar X’ ao lado de cada bloco junto à foto e ao perfil biográfico do titular do ministério, facilitou a navegação entre ministérios.
Apesar de ser boa a idéia de associar o mapa esquemático da Esplanada com o mapa do poder, na qual cada bloco serve como portal para as informações sobre o(s) titular(es) do(s) ministério(s) que ocupa(m) o prédio, a infografia é muito mais do que isso. É uma linguagem que permite visualizar uma informação e por isso é chamada de desenho da informação por especialistas (disponível aqui).
Como toda linguagem, ela possui regras e técnicas para se comunicar de maneira eficiente com o internauta. Algumas dessas regras são: interatividade e amabilidade.
A infografia reúne a combinação de pelo menos duas formas de linguagem : a visual (imagens) e o texto, podendo ainda serem adicionados vídeo e áudio. O texto deve ser um complemento à linguagem visual e não o contrário. Textos muito compridos são cansativos, mas sua ausência também é prejudicial à informação pois muitas vezes os símbolos gráficos não conseguem comunicar por si só, necessitando de tradução textual para ajudar o leitor a decidir entre os caminhos a seguir.
A interatividade entre o símbolo gráfico, ou a imagem, e a vontade do leitor de chegar a determinada informação, dá-se pelo uso do mouse. Cores e formas são utilizados estrategicamente para estimular o clique aqui ou ali – cores mais vivas levam a informações priorizadas como mais importantes. Um infográfico eficiente conduz o internauta por um passeio pela informação. Como todo passeio, ele deve ser agradável e ao mesmo tempo surpreendente – cada informação é pensada a partir de um roteiro préestabelecido que transporte o viajante para o contexto do assunto tratado – sem surpresas desagradáveis como, por exemplo, clicar em um símbolo e cair num beco sem possibilidade de retorno ou deparar-se com novos símbolos inteligíveis e sem legendas.
Ainda tratando o assunto como um passeio por uma cidade desconhecida, as legendas funcionam como as placas de sinalização do trânsito, podendo ser narrativas (textuais) ou simbólicas como as setas e os demais sinais de trânsito. Elas proporcionam uma sensação de segurança ao leitor que vai confiando em seu guia à medida em que caminha e se aprofunda na infografia – à isso chamamos de amabilidade do infográfico.
No infográfico dos ministros aparecem as mãozinhas indicando que clicar ali pode ser útil, mas a ausência da legenda dizendo ‘útil para que’ pode levar o leitor a duvidar desse caminho.
Um exemplo de um bom infográfico publicado recentemente pela ABr é o que informa sobre a escolha de um curso superior:
http://agenciabrasil.ebc.com.br/home/-/journal_content/56/19523/3164059
Esse infográfico é visualmente atraente, com textos curtos, de fácil acesso e navegação amigável . Além disso, em dois dos textos, que o leitor acessa interativamente por cliques, há links para páginas do portal do MEC que por sua vez também apresentam as informações de forma dinâmica e agradável.
Até a próxima semana.’