Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Paulo Machado

‘Tenho falado muito sobre a necessidade de ouvir todos os lados envolvidos em uma questão. A maioria das demandas dos leitores tem sido nesse sentido. Esta semana não foi diferente. A Ouvidoria recebeu uma mensagem em que o leitor da Agência Brasil pede que a cobertura jornalística ouça o outro lado.

O leitor Alexandre Soares Carneiro diz que achou lamentável o destaque proposto pelo título da matéria ‘Levar a universidade a debate foi maior vitória da ocupação na USP, avalia professor’, publicada em 23 de junho, fazendo um balanço da ocupação da reitoria da Universidade de São Paulo (USP) pelos estudantes.

Ele pergunta: ‘Por que privilegiar, desde o início e em toda a extensão da matéria, a opinião de um professor que compõe um grupo minoritário dentro da universidade – aquele que apoiou o ato ilegal da invasão?’

Segundo Alexandre, ‘dentro e fora da universidade, o que ficou de saldo não foi ‘um debate’ sobre a universidade, mas a sensação da impossibilidade deste debate sobre a USP; e, com isso, um explicável mal-estar com a mesma’.

Em se tratando de uma matéria que seria um balanço sobre o episódio, faltou a Agência registrar também o balanço daqueles que se opuseram à ocupação.

Com relação à cobertura de modo geral, encontramos matérias em que foram ouvidos os diversos lados e interesses envolvidos na questão. Na matéria intitulada ‘Divididos, professores da USP se manifestam sobre ocupação’, de 25 de maio, a reportagem menciona um site no qual um abaixo-assinado de professores contrários à ocupação da reitoria da USP estaria disponível, mas a matéria não dá o link. Em compensação, numa matéria posterior, ‘Blog da ocupação da USP tem novo endereço’, há links tanto para o ‘blog da ocupação’ como para o site dos professores contrários à ocupação. Segundo a Agência Brasil isso se deveu ao fato de os editores ainda terem certa dificuldade em programar os links na edição das notícias.

Na matéria intitulada ‘Professores de Unesp e Unicamp avaliam apoio a protesto da USP’, de 28 de maio, a reportagem afirma que durante a semana haveria uma assembléia de servidores e professores para discutir se deveriam apoiar a ocupação, porém faltou cobertura dessa assembléia nas matérias posteriores.

No total, foram publicadas 39 matérias entre 21 de maio e 23 de junho. A cobertura da Agência Brasil foi iniciada 18 dias depois que ocorreu a ocupação pelos estudantes, em 3 de maio. Segundo a redação, um erro inicial de avaliação sobre a extensão e importância do movimento grevista ocasionou essa omissão.

Há que se notar ainda que nas matérias que trazem opiniões contra a ocupação quase sempre elas são acompanhadas por opiniões a favor. Na situação inversa, isso não ocorre.

Além disso, as posições contra a ocupação são todas de autoridades universitárias ligadas ao governo do estado de São Paulo e de responsáveis pela ordem pública no estado, como o Comandante da Polícia Militar, construindo uma versão maniqueísta, que não necessariamente corresponde à realidade. Por que não foram ouvidos professores, servidores e estudantes contrários à manifestação? A crítica do leitor mostra que eles existem. E ainda dá tempo de recuperar a opinião dos lados que não foram ouvidos.

Analisando o gráfico com as estatísticas referentes às abordagens, aparentemente essa foi uma cobertura tendenciosa, pois 35% das matérias continham opiniões favoráveis à ocupação e só 5% eram contra.

A Agência Brasil justificou: ‘A análise feita pela Ouvidoria mostra que, no somatório, 60% das matérias são neutras ou equilibradas, segundo os critérios apresentados, o que demonstra a busca por imparcialidade. Na nossa avaliação, os 35% de matérias favoráveis são reflexo de que os protagonistas eram os estudantes ocupantes, que criaram um fato novo na conjuntura política nacional, promovendo o renascimento das movimentações estudantis e jogando luz sobre a universidade, a educação e os serviços públicos’.

Até a próxima semana.Obs: participe do 3º Encontro Regional de Ouvidorias Públicas na Região Nordeste, que será realizado nos dias 5 e 6 de julho de 2007, no Centro de Convenções da Bahia, em Salvador. Clique aqui para saber mais.’