Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Paulo Machado

‘No dia 24 de junho o leitor Daniel Barone leu a matéria Especialistas discutem mudanças climáticas e soube que, naquele dia, especialistas e parlamentares iriam se reunir em um auditório do Senado Federal para discutir o assunto. Ligada à primeira, uma segunda matéria: ONGs cobram ações imediatas do governo para enfrentar mudanças climáticas, publicada logo a seguir, adiantava quem seriam os participantes e os objetivos do encontro: ‘ discutir ações imediatas do governo para reduzir as emissões brasileiras de gases de efeito estufa e garantir resultados na negociação global sobre um novo acordo para complementar o Protocolo de Quioto’.

Interessado no tema, no dia seguinte Daniel escreveu para a Ouvidoria perguntando: ‘Como podemos acompanhar esta reunião, ou se possível, como sugestão seria interessante uma matéria de acompanhamento deste encontro.’ Mas infelizmente já era tarde, pois o evento durou apenas um dia e não foi acompanhado pela reportagem da ABr.

Em sua resposta ao leitor, no dia 29 a Agência justificou: ‘Agradecemos ao leitor. Na verdade o evento ocorreu no último dia 24. Não tivemos como fazer a cobertura factual, mas publicamos uma matéria adiantando o conteúdo do evento e detalhando as reivindicações que a sociedade civil apresentou ao Congresso.’

Perguntas sem respostas

Pelas informações contidas na matéria que adiantou o conteúdo do evento, muitas perguntas ficaram sem respostas. Ela dizia, por exemplo, que o debate se daria com representantes do governo. Quem foram esses representantes? Será que ministros como o do Meio Ambiente, o da Minas e Energia ou o da Agricultura estiveram presentes?

Entre as reivindicações que seriam apresentadas constava o estabelecimento de metas e regras para as políticas públicas do setor como: redução dos índices de desmatamento do Cerrado e da Caatinga, níveis emissão de carbono na atmosfera e redução de autorizações para termelétricas a óleo e carvão mineral. Qual a resposta dos representantes do governo a essas reivindicações? Quais as metas estabelecidas pelo próprio governo? Como o governo pretende atingi-las?

A matéria também informava que o Plano Nacional de Mudanças Climáticas está em tramitação no Congresso Nacional e que as organizações da sociedade civil querem a aprovação de uma Política Nacional de Mudança do Clima, com status de lei, que possa regulamentar a questão de forma mais consistente, pois, segundo elas: ‘o plano ainda está longe de ser um esforço de Estado que coloque o Brasil nos trilhos de um desenvolvimento com baixos níveis de carbono’. O que pensam as autoridades do governo a esse respeito?

Outra questão que estava na pauta do evento, são as negociações para a reunião que ocorrerá em dezembro em Copenhague. Segundo a matéria: ‘As ONGs pedirão que os negociadores sejam firmes para garantir metas ambiciosas e rígidas de redução de emissões de gases de efeito estufa pelos países desenvolvidos’. Quem serão os ‘negociadores’? Qual a posição deles em relação a um acordo internacional sobre o problema? Será possível negociar ‘um mecanismo que estimule a redução de emissões por desmatamento e degradação’? Ou ainda: ‘metas mais ambiciosas e, principalmente, a criação de um mecanismo para florestas, que beneficiaria muito o Brasil’?

Essas são algumas das perguntas para as quais os leitores da Agência Brasil não encontraram respostas em suas matérias e tampouco nas das demais agências de notícias. Assim, esse assunto, muito mais do que uma simples agenda diária, poderia merecer uma pauta completa e aprofundada, informando sobre quais são os interesses que estão em jogo, quem são os agentes internacionais e nacionais que negociarão e decidirão sobre o problema, que posições defendem e por que resistem à, ou apóiam, a implementação de políticas públicas com metas e objetivos claros. Essas informações dariam condições dos leitores participarem desse debate e se posicionarem em relação ao assunto, orientando suas atitudes pessoais frente à situação ambiental do país, do planeta, e, principalmente, em relação ao modelo de desenvolvimento.

Julho e agosto estão chegando, meses em que boa parte das regiões Centro-oeste e Norte é coberta por nuvens de fumaça provenientes das queimadas. Todos os anos essa história se repete. O gás carbônico toma conta de nossa atmosfera como a desafiar nossas instituições. Será essa fumaça a mesma que dificulta a cobertura da mídia sobre o assunto?

Até a próxima semana.’