Saturday, 30 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Paulo Machado

A publicação da matéria ‘Cerca de 100 jornalistas foram mortos em 2010 e Brasil está entre países perigosos para a imprensa’, no ultimo dia 27, causou revolta no leitor José Ivan Mayer de Aquino: ‘Notícia mais estapafúrdia e sem senso de análise crítica: não há dados percentuais das quantidades de profissionais em cada pais citado o que joga por terra essa divulgação que não merecia ser reproduzida da forma que foi. Penso que a Agência Brasil deveria estar debruçada hoje sobre os números da balança comercial da 4ª semana de dezembro do que a essa barriga.’

A Agência Brasil respondeu: ‘Favor informar ao leitor que a matéria foi escrita com base em dados da referida entidade. Não há percentuais, mas há números dos principais países.’

A entidade a que a ABr se refere é a organização não governamental Campanha Emblema de Imprensa (cuja sigla em inglês é PEC), responsável pelo levantamento das estatísticas sobre o assassinato de jornalistas em todo o mundo.

Segundo a matéria:

‘Apenas em 2010, 105 jornalistas foram assassinados em 33 países. Nos últimos cinco anos, 529 profissionais de imprensa foram vítimas de violência em decorrência do trabalho. No mundo, a América Latina é o lugar mais perigoso para a imprensa atuar […] O México e o Paquistão são considerados os países mais arriscados. Na América Latina, os campeões em assassinatos de jornalistas são México, Honduras, Colômbia e Brasil.

De acordo com a entidade, a América Latina é o lugar mais perigoso para os jornalistas com 35 profissionais mortos durante o ano. A Ásia vem em segundo, com 33, e a África, em terceiro, com 14 mortos. No Oriente Médio, 11 profissionais foram mortos e, na Europa, 12 jornalistas foram assassinados em 2010.’

Realmente não há percentuais que revelem a proporção de mortos em razão da quantidade total de profissionais de cada país, como queria o leitor, mas será que esse detalhe estatístico ‘joga por terra essa divulgação que não merecia ser reproduzida da forma que foi’?

Talvez o leitor não saiba que, a cada jornalista assassinado, morre com ele um pouco do direito do leitor à informação que deveria ter se tornado pública, mas por ferir aos interesses privados de alguém ou de algum grupo, foi brutalmente cerceada. Caso a informação já tenha sido divulgada, ela atingiu tão visceralmente aos assassinos que a vingança servirá de recado àqueles que ousarem voltar ao assunto. Ou seja, além de matarem o profissional ainda golpeiam a liberdade de expressão.

Se percentuais fossem necessários em tais casos provavelmente eles deveriam medir o quanto do direito à informação do cidadão foi restringido ou em quanto a liberdade de expressão foi comprometida com a morte de 4 jornalistas em nosso país, somente em 2010.

Essa é uma discussão vital para o processo civilizatório da humanidade que assiste nos últimos dias à retaliação que vem sofrendo Julian Assange, fundador do site WikiLeaks, responsável pela divulgação de documentos secretos da diplomacia norte-americana que, segundo ele, ‘permitem que as pessoas conheçam melhor o mundo em que vivem’.

Assange pode se tornar em breve mais um nas estatísticas da Campanha Emblema de Imprensa. Em entrevista concedida ao jornal O Estado de S.Paulo, declarou: ‘Ameaças de morte são feitas diariamente, contra meu pessoal, contra meus filhos. Sim, contra meus filhos. Há ainda ameaças contra meus advogados. Entramos em um assunto muito sério. Na noite passada, vimos no Canal Fox, comentaristas e políticos apelando pelo meu assassinato. Um deles até disse que tinham de se livrar de mim, mesmo de forma ilegal. Isso deve estar estimulando os militares americanos, militantes e loucos de todo o tipo. Não acho que seja provável, ainda que não seja impossível, que o governo dos EUA diretamente tente me assassinar. Mas o mais provável é que indivíduos, militares ou doentes mentais, influenciados pelos políticos, tentem fazer o trabalho. Ou que outros Estados, tentando agradar aos americanos, tentem se livrar de mim. Daniel Ellsberg, famoso por ter vazado os Papéis do Pentágono de 1971 [que revelaram segredos sobre a Guerra do Vietnã], disse que existe a possibilidade de que o governo americano me assassine, com base nos planos que existiram para assassiná-lo.’

Até a próxima semana.