‘Há um limite entre notícias e opinião separando o que são fatos de suas possíveis interpretações. As colunas de opinião geralmente manifestam posições do próprio veículo de comunicação ou de grupos de interesse que o veículo representa.
Nos veículos de mídia impressa essas colunas muitas vezes são separadas do noticiário deixando claro o que é uma coisa e o que é outra. Na mídia eletrônica os veículos criaram blogs específicos para seus colunistas publicarem suas opiniões. É a filosofia do ‘lê quem quer’, mas respeitado o direito do leitor de ser informado que, naquele determinado espaço, ele encontrará a interpretação dos fatos e não os fatos em si. A agência pública de notícias, justamente por ser pública e de notícias, não deve interpretar os fatos.
Um caso de interpretação dos fatos que chamou a atenção desta Ouvidoria nessa semana foi demandado pelo leitora Daniela Costa. Escreveu ela: ‘Gostaria de comunicar um erro na matéria sobre o desempenho da Bovespa no dia de hoje, sexta-feira, 10 de dezembro de 2010, às 19h27. O grande problema é que a matéria relata que a Bovespa subiu em função do aumento do compulsório na China. Vamos raciocinar, se o gigante asiático elevou o compulsório isso restringirá o crescimento econômico do país logo afetará outros países. Essa informação é vista como negativa pelo mercado financeiro, como qualquer analista pode confirmar isso para vocês. A questão de hoje é que o Ibovespa avançou puxado por Vale e Petrobras…. as ações da mineradora cresceram em função de dados chineses ( como balança comercial, que superou as estimativas) e não pelo compulsório e as da Petrobras passaram por ajustes. Gostaria de um esclarecimento sobre essa informação que não foi passada da forma correta, já que o Ibovespa não poderia subir por conta do aumento do compulsório na China.’
A Agência Brasil, após receber a arguição da leitora, alterou a matéria e retirou a explicação de que ‘ a Bovespa subiu em função do aumento do compulsório na China’, pois tal informação não estava baseada na opinião de nenhuma fonte citada na matéria Bovespa se recupera depois de quatro pregões em queda.
Mas um outro caso, de uma possível interpretação dos fatos, permanece no ar desde 25 de outubro quando foi publicada a matéria Espanha pede à União Europeia fim do embargo a Cuba. Naquela oportunidade o leitor Marcelo Fejão escreveu para a Ouvidoria: ‘ A Agência Brasil é minha principal fonte de informação, pois é pública. Mas vejo que segue alguns clichês da ‘grande’ mídia, como referir-se tendenciosamente a governos e presidentes que não agradam a Washington.
Um destes clichês, não tão direto, aconteceu no artigo ‘Espanha pede à União Europeia fim do embargo a Cuba’, quando é citada a ‘demissão de mais de 500 mil funcionários públicos’ em Cuba, sendo que a medida é chamada pela direção cubana de ‘realocação funcional’, até porque eles não serão meramente demitidos, mas recolocados em outras áreas, não estatais. No caso, o problema foi simplificar uma medida chegando até a distorcê-la. Imagine o que não pensa um servidor público brasileiro que lê isso. Não peço que se concorde com a medida em questão, mas sim que se refira a ela de maneira a não distorcê-la.’
A Agência Brasil não respondeu à demanda. A interpretação da política adotada pelo governo cubano, como ‘demissão de 500 mil funcionários públicos’, continua no ar, mesmo sem constar nenhuma fonte credenciada que a endosse.
Em dois outros casos, as fontes citadas nas matérias não concordaram com a maneira como foram interpretadas suas declarações.
Na matéria CNE promove debate público sobre diretrizes curriculares do jornalismo, publicada dia 8 de outubro, Edson Luiz Spenthof, segundo-secretário do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ), foi apresentado como presidente daquele Fórum e citado como fonte para endossar a afirmação de que ‘Entre os principais pontos discutidos na proposta estão a separação do curso de jornalismo do curso de comunicação social.’ No entanto, cinco dias após a referida publicação, Edson escreveu para esta Ouvidoria solicitando as seguintes correções: ‘Primeira: não sou o atual presidente do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo. Fui o presidente até abril último. Atualmente, sou segundo-secretário. Na audiência, representei o atual presidente, prof. Sérgio Luiz Gadini, que não pode estar presente. Segunda: A proposta de diretrizes em debate não visa separar o jornalismo da área acadêmica da comunicação. Visa tão-somente fazer com que o jornalismo deixe de ser habilitação de comunicação para ser curso pleno, autônomo, bacharelado em jornalismo. Isso sem qualquer pretensão de sair da área da comunicação. Muito menos, visa abandonar as necessárias interfaces com a Comunicação e com outras áreas do conhecimento, como a História, a Antropologia, a Filosofia, as Ciências Sociais, Humanas e Políticas, a Linguística e as Letras, o Direito, a Geografia, a Educação e outras.’
A Agência Brasil não respondeu às solicitações de sua fonte e tampouco corrigiu a matéria em questão.
Uma outra fonte, que protestou junto à esta Ouvidoria, foi Angelo Faleiro, Supervisor da Seção de Comunicação Social da Seção Judiciária do Distrito Federal, citado como fonte das informações contidas na matéria Servidores do TRF que doarem sangue poderão folgar no dia 1º para emendar feriado, publicada dia 28 de outubro.
Segundo Angelo: ‘1) Não sou supervisor de Comunicação Social no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, mas da Seção Judiciária do Distrito Federal;
2) Ao contrário do que se coloca na matéria, em momento algum disse que ‘a opção de compensar a doação com uma folga entre o fim de semana e o feriado ajuda a estimular a doação de sangue e também de medula óssea’. O Projeto Doe Sangue, Doe Vida é de natureza perene, com eventos como o que aconteceu ontem realizados durante todo o ano. No contato feito por telefone, informei à jornalista que o projeto tinha o objetivo de estimular a doação de sangue e também de medula óssea. Também confirmei que a Lei n, 8.112/90 prevê um dia de folga para o servidor que doar sangue. Informei anda sobre o fato de que a maioria dos doadores (que são poucos) prefere doar e voltar ao expediente normal de trabalho. Entretanto, vejo as palavras ditas deturpadas. O tom da matéria dá a entender que a campanha foi agendada para véspera de feriado com o único propósito de estimular a doação e a ‘emenda’, o que não é verdade. Peço a consideração no sentido de a matéria ser corrigida.’
A Agência Brasil também não respondeu à essa demanda e tampouco efetuou as devidas correções permanecendo no ar a interpretação de que a campanha estimula os funcionários do Tribunal a trocar sangue pela prolongação do feriado.
Até a próxima semana.’